Black friday: o consumidor é vítima mais uma vez

sábado, 7 de dezembro de 2013
"Isso gera um quebra-cabeça extraordinário. No registro fóssil nada vemos, salvo micróbios, durante os primeiros 3,5 bilhões de anos da história da Terra. Então, de repente, no espaço de talvez 40 milhões de anos, aparecem todos os tipos de corpos: corpos de plantas, de fungos, de animais; corpos por todo lado."  -  Neil Shubin  -  A história de quando éramos peixes

O Brasil possui atualmente cerca de 100 milhões de consumidores de classe média – pelo menos é o que o governo anuncia e muitas agências de propaganda “chapa branca” repetem obedientemente. Este consumidor, no entanto, não pode ser comparado ao cidadão de classe média americano ou europeu, cujo poder aquisitivo, mesmo nas camadas mais baixas, é cerca de cinco vezes maior. Além do salário médio nos Estados Unidos e na Europa ser mais alto do que o brasileiro, lá o poder de compra do dinheiro é maior do que no Brasil.
Por aqui, além da alta carga tributária que incide sobre as mercadorias, o preço de fábrica do produto também é mais alto. Não é por outra razão que o Brasil é um dos mais lucrativos mercados para a indústria automobilística, a indústria de eletro-eletrônicos e bens de consumo em geral. Até serviços e produtos alimentícios são, muitas vezes, mais caros do que no exterior. O País é assim um dos mais promissores mercados para todo tipo de produto, já que reúne uma imensa massa de consumidores que, privados desse direito durante a maior parte de suas vidas, estão prontos a comprar qualquer novidade – mesmo a custa de sacrifícios. Por outro lado o governo, através de diversos artifícios fiscais, fez do consumo um dos pilares sobre os quais pretendeu apoiar o desenvolvimento. Pena que até agora tenha esquecido de que a produção e o consumo são atividades que não podem prescindir de cidadãos instruídos e de infraestrutura – estradas, portos, trens, saneamento, funcionários públicos treinados, menos burocracia e administradores públicos capazes e honestos.
Já que o governo quer apoiar o desenvolvimento econômico e social do país na duvidosa tese do consumismo, é preciso que pelo menos crie condições para que isto ocorra. Ou seja, o Estado deve fazer com que o comércio de produtos e serviços funcione de maneira correta, com justiça. No entanto, é neste aspecto que o sistema apresenta outro entrave, já que não é isto que acontece no Brasil. Além dos preços espoliativos e da baixa qualidade dos serviços (telefonia, internet, bancos, planos privados de saúde, transporte aéreo, eletricidade, entre outros) e produtos, os consumidores continuam com pouca proteção. Se o comerciante tem vários mecanismos para se proteger, o consumidor conta apenas com as agências governamentais; em grande parte manipuladas politicamente, cujos cargos servem de moeda de troca para quem está no governo. Basta lembrar a indolência das agências reguladoras em controlar e punir empresas e oligopólios que dominam a economia brasileira e não entregam pelo que foram pagos.  

Este tipo de situação atinge seu auge, mostrando claramente como funciona o comércio no Brasil, em datas como o “black friday”. Imitação tupiniquim de um grande evento de consumo que ocorre nos Estados Unidos, a “corrida às compras” por aqui se transformou em mais uma oportunidade de fazer o desprotegido consumidor de otário. A tática de aumentar os preços semanas antes, para depois baixá-los a título de liquidação, tão criticada em 2012, foi novamente prática corrente de grandes e pequenos comerciantes. A situação é tão vergonhosa para o comércio no Brasil, que foi até motivo de crítica e piada no exterior. Mas, pelo menos em uma coisa estamos inovando: somos o único país cujo comércio faz a promoção “Tudo pela metade do dobro”!   
(Imagens: fotografias de Ansel Adams) 

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