O clima, a Terra e a vida

sábado, 30 de abril de 2022

"Basta ver - nenhum deles tem, propriamente, um princípio. Os mais sérios têm alguns tiques morais."   -   Millôr Fernandes   -  A Bíblia do caos  


As mudanças do clima já provocaram muitas alterações sobre a Terra. Na longa história da vida sobre o planeta, o frio, as enchentes, as secas, os terremotos a atividade vulcânica e o calor extinguiram espécies e criaram condições ambientais para que outras se desenvolvessem e ocupassem os ecossistemas – sempre em equilíbrio com outras linhagens. Onde havia desertos, formaram-se espessas florestas, montanhas foram erodidas pelo vento, pela água e pelo calor, formando planícies arenosas e desertas. O clima e a atividade tectônica do planeta sempre foram os maiores modeladores de evolução da vida – plantas, animais e microrganismos. 

Assim como o clima molda a vida, esta também influencia o clima. As cianobactérias, surgidas há 3,8 bilhões de anos, se alimentavam do abundante gás carbônico disperso na atmosfera, ao mesmo tempo em que expeliam oxigênio. Com isso cresceu a quantidade de oxigênio existente na atmosfera, permitindo o aparecimento de outros tipos de seres vivos – já que por um longo período de tempo no história evolutiva do nosso planeta, os únicos seres vivos na Terra eram as bactérias. Ao longo da história geológica, a redução ou o aumento da quantidade de gás carbônico na atmosfera fez com que subisse ou caísse a temperatura média do planeta, já que uma maior abundância deste gás barra a entrada da luz solar. Nos últimos 30 milhões de anos (períodos geológicos Neogeno e Quaternário), estas variações nas temperaturas provocam períodos de calor (interglaciais) e períodos glaciais; quando grandes regiões do globo permaneceram cobertas por grossas camadas de gelo. A baixa temperatura, por sua vez, eliminou certas espécies e propiciou o aparecimento de outras.  


A própria existência do homem também foi profundamente influenciada pelas mudanças climáticas. Alguns cientistas defendem a teoria de que o homem só começou a se dedicar à agricultura porque os animais que caçava – e que viviam em climas frios – gradualmente desapareceram ao final do último período glacial, há dez mil anos. Com a falta de carne, rica em proteína, os homens começaram a se dedicar à semeadura de vegetais, técnica que já conheciam, porém nunca haviam usado em grande escala. Nas regiões mais férteis e quentes – no Crescente Fértil, no Vale do Indo, no Vale do Rio Amarelo – surgiram as primeiras culturas baseadas na agricultura e criação de gado.  

A partir do desenvolvimento da agricultura os homens passaram a explorar cada vez mais o meio ambiente para sua sobrevivência. À generalização da agricultura seguiu-se a invenção da metalurgia, da roda e da escrita. Grandes áreas na região do Mediterrâneo foram desmatadas, ainda na Antiguidade, para a construção de navios. Ao longo dos últimos cinco mil anos o homem conseguiu dominar a natureza cada vez mais, mas sempre precisou adaptar-se aos diferentes climas do planeta. 

Hoje chegamos a pontos extremos. Tribos indígenas que vivem há milhares de anos no interior da floresta amazônica, sempre mantendo os mesmos hábitos culturais, estão precisando alterá-los devido às mudanças do clima. Com os desmatamentos e as queimadas, o ar está mais seco, chove menos, e o nível dos rios já não é mais o mesmo de vinte ou trinta anos atrás. O peixe e a tartaruga, principais alimentos da tribo, escasseiam e os hábitos alimentares do indígena precisam ser alterados. Os mitos perdem a razão de ser, já que o universo natural não é mais o mesmo das narrativas. 

Com nossas emissões de dióxido de carbono estamos alterando o clima do planeta. Com isso, precisamos mudar nossas cidades, nossa alimentação, nossos hábitos culturais, nossa tecnologia e nossa economia. As alterações do clima ainda trarão muitas mudanças.

  

(Pinturas: Theo van Doesburg)

Agora a economia pode acelerar!

sexta-feira, 29 de abril de 2022

 


(Fonte da foto: Blog Código Livre)

É possível manter o teto de gastos?

quinta-feira, 28 de abril de 2022


 Fonte -  Luiz Muller Blog


Bitter Suite - Marillion

quarta-feira, 27 de abril de 2022

As melhores bandas de rock de todos os tempos


Marillion 

Album: Misplaced childhood (1985)

Música: Bitter Suite





Marillion é uma banda de rock neoprogressivo britânica formada em 1979. A banda foi formada como Silmarillion, inspirada no livro de mesmo nome de J.R.R. Tolkien. Depois de uma alta rotatividade de integrantes nos primeiros anos, Steve Rothery foi o único membro original a permanecer. O nome do grupo foi encurtado depois de uma ameaça de processo feita pela família de Tolkien em 1980. O grupo lança seu primeiro compacto em 1982, "Market Square Heroes". Depois do sucesso alcançado, eles lançam seu primeiro álbum em 1983. Até os dias de hoje, já emplacaram 23 hits no UK Singles Chart e, até o ano 2000, já haviam vendido cerca de 14 milhões de álbuns em todo o mundo, tendo ainda feito turnês em vários países e continentes, como América, Europa e Japão.

 

(Fonte do texto: Wikipedia)


Joaquín Sorolla (1863-1923)

terça-feira, 26 de abril de 2022

 


(Chegada das barcas)

Leituras diárias

segunda-feira, 25 de abril de 2022

 


“Os homens se apegam às ciências e a determinados assuntos, ou por se acreditarem seus autores ou descobridores, ou por neles muito se terem empenhado e com eles se terem familiarizado. Mas essa espécie de homens, quando se dedica à filosofia e a especulações de caráter geral, distorce e corrompe-as em favor de suas anteriores fantasias.” (Bacon, Aforismo LIV, pág. 45)

 

Francis Bacon, Aforismos sobre a interpretação da natureza e o reino do homem


Privatização, não!

domingo, 24 de abril de 2022


(Fonte: Sinergia)

Dia mundial do livro e dos direitos do autor

sábado, 23 de abril de 2022

 


Aldous Huxley

Leia o clássico Admirável mundo novo, do filósofo e escritor inglês Aldous Huxley.



Baixe o livro no link:


https://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/08/aldous-huxley-admiravel-mundo-novo.pdf

DIA DA TERRA

sexta-feira, 22 de abril de 2022


 

Vejo um futuro brilhante!

 


Reformar a Reforma Trabalhista!

quinta-feira, 21 de abril de 2022

 


(Imagem: Brasil de Fato)

Dream Theater - Pull me under

quarta-feira, 20 de abril de 2022

 As melhores bandas de rock de todos os tempos 


Dream Theater

Album: Images and Words (1992)

Música: Pull me under





Dream Theater é uma banda de metal progressivo oriunda dos Estados Unidos e formada em meados dos anos 80. Tornaram-se numa das bandas do movimento progressivo, desde o auge do rock progressivo em meados dos anos 70. A banda é conhecida por ter músicos de excelente capacidade de composição e execução que ganharam vários prêmios por revistas especializadas. Colaboram com vários outros músicos de renome. Por exemplo, John Petrucci foi nomeado como o terceiro guitarrista do G3, juntamente com Steve Vai e Joe Satriani, seguindo a trilha de guitarristas como Eric JohnsonRobert Fripp e Yngwie Malmsteen. A banda entrou em turnê com diversas outras bandas, que incluem Iron MaidenJoe SatrianiMarillionKansasIn FlamesPain of SalvationPorcupine TreeQueensrÿcheFear FactoryEnchant e Symphony.

 

 (Fonte do texto: Wikipedia)

 


Arkady Plastov (1893-1972)

terça-feira, 19 de abril de 2022

 


(Colheita)

Leituras diárias

segunda-feira, 18 de abril de 2022

 


“Como a Semana da Arte Moderna de São Paulo, ponto de referência do movimento modernista e as revoluções político-sociais decorrentes ou concomitantes, sobretudo com a Revolução de 1930, não foi isso propriamente o que ocorreu. Houve, isto sim, uma primeira tomada de consciência da realidade nacional, um desejo coletivo de acertar com as incógnitas de nosso destino. Entramos, então, numa fase tipicamente socrática de busca de nós mesmos, faz em que, tateando, coleando, negaceando, experimentando, acertando pouco, errando muito, ora a guinar para a direita ora para a esquerda, ora avançando para uma organização estatal de tipo orgânicos e responsável, ora regredindo para uma de tipo ditatorial inconscientemente inspirada no modelo da bandeira, ainda hoje nos encontramos e provavelmente nos manteremos até que apareça a resultante perfeita do nosso paralelogramo de forças.” (Moog, págs. 242 e 243)

 

Viana Moog, Bandeirantes e pioneiros


Preservar a Mata Atlântica

domingo, 17 de abril de 2022


(Fonte: ANA)

A globalização e a China: algumas considerações

sábado, 16 de abril de 2022

 


"Em resumo: nos encontros com a realidade acabávamos todos ou racionalizando em defesa do Brasil ou desprezando o Brasil por ser como era."   -   Viana Moog   -   Bandeirantes e pioneiros


A globalização, com todos os seus ingredientes – comércio generalizado, comunicações globais, fluxos financeiros e (nem sempre) de pessoas, entre outros aspectos – contribuiu para que o planeta se transformasse naquilo que Marshall McLuhan, filósofo canadense, já no início da década de 1960 previa como sendo o futuro da civilização planetária: a aldeia global. Outro filósofo americano, Francis Fukuyama, levado pelo entusiasmo da derrocada do império soviético (1991), escreveu em seu O fim da história e o último homem (1992) que com a propagação da democracia e do capitalismo de livre mercado, a evolução política da humanidade havia chegado a uma conclusão. A economia de mercado e a democracia liberal – com nuances mais ou menos flexíveis – foram adotados pela maioria dos países. E assim seria.

No rastro da globalização e de suas possíveis consequências de uniformização cultural (leia-se a cultura-de-massa-ocidental-americana-capitalista) surgiu a preocupação com a valorização das culturas locais; de cada país e região. Temia-se que o processo da globalização, em suas perspectivas sociais e culturais, pudesse provocar o desaparecimento ou a descaracterização de práticas regionais e locais específicas, que faziam parte do patrimônio cultural dos diversos povos. A própria ONU, através de um relatório da PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), elaborado em 2004, sugeriu que o processo da globalização pudesse ameaçar as identidades nacionais e locais. Por isso, a organização recomendou que os nações implementassem políticas que promovessem a diversidade e o pluralismo, interna e externamente, sem se refugiarem no conservadorismo ou na xenofobia. (relatório PNUD disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pn000010.pdf).

Sob este aspecto, a globalização do século XX deu importância ao multiculturalismo. Diferentemente das relações entre nações e culturas no passado, quando o europeu ou o ocidental dominador se relacionava com o indiano, o africano, o chinês ou o indígena de forma condescendente, a globalização em sua fase recente tomou uma forma – pelo menos neste aspecto – mais democrática, relativizando a situação histórica de dominação pelo Ocidente. Não são mais apenas alguns países ou culturas – os países colonizadores ou as potências econômico-militares do pós guerra – que detêm o poder de determinar a trajetória da história, em seus aspectos políticos, econômicos e culturais, pela paz ou através da guerra.

O próprio processo da globalização contribuiu fortemente para acelerar a diminuição da hegemonia ocidental europeia e americana nas relações internacionais, notadamente após a queda do Muro de Berlim e, significativamente, com o crescimento em importância das economias asiáticas; a japonesa no pós-guerra, os tigres asiáticos (Cingapura, Coréia do Sul, Hong Kong e Taiwan) na década de 1970 e a China, a partir dos anos 1980.

O desenvolvimento acelerado e robusto da economia chinesa foi, provavelmente, o grande acontecimento a influir na relação de forças da política mundial no final do século XX e começo do XXI. Apesar de sempre ter sido uma grande potência econômica, militar e cultural ao longo da história, o gigante asiático se manteve relativamente afastado do comércio global (o começo do que chamamos de globalização), iniciado no século XVI. Desde as primeiras décadas do século XIX o país esteve sob domínio de potências estrangeiras, até o final da Segunda Guerra, quando expulsou as tropas de ocupação japonesas e, depois de uma guerra civil, tornou-se uma república socialista. O rápido desenvolvimento da China a partir do final dos anos 1970, foi fortemente impulsionado pelas políticas industriais do governo liderado por Deng Xiaoping, aliadas aos aportes de investimentos e transferência de know-how de empresas ocidentais. A China ascendeu ao posto de segunda maior economia do mundo e se tornou o maior exportador de produtos industriais e manufaturados, com alta componente tecnológica.


Nem Fukuyama e menos ainda McLuhan, poderiam prever os rumos que a globalização tomaria. Na visão de ambos o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos com seu sistema político, sua tecnologia e cultura, estariam à frente do processo – como tudo parecia indicar na época em que ambos formularam suas teorias. Pouco indicava em 1992 e muito menos ainda no início dos anos 1960, que o Oriente, basicamente a China, passaria a ter a importância que atualmente tem dentro do sistema de produção e distribuição capitalista.

O que transparece desta situação é que o Ocidente, a civilização cristã ocidental – como os historiadores europeus e norte-americanos do século XIX e início do século XX denominavam esta cultura que teve origem na Europa – está perdendo sua importância na história. Será que em vinte ou trinta anos, veremos as grande iniciativas e decisões relativas à economia e política mundial sendo tomadas na Ásia, provavelmente na China? Assunto a ser observado e acompanhado pelos especialistas.


(Imagens: pinturas do realismo soviético)

E A INFLAÇÃO?

sexta-feira, 15 de abril de 2022



 (Fonte: Sindicato dos Bancários de Paranaguá)

Estão circulando por aí!

quinta-feira, 14 de abril de 2022


 

Casa das máquinas - Liberdade espacial

quarta-feira, 13 de abril de 2022

 As melhores bandas de rock de todos os tempos 


Casa das Máquinas

Album: Lar de Maravilhas (1975)

Música: Liberdade espacial 





Casa das Máquinas é uma banda brasileira de rock fundada em 1973 na cidade de São Paulo. Iniciaram a carreira com o nome de Os Novos Incríveis realizando uma turnê pelo país. Após trocarem de nome, são contratados pela gravadora Som Livre e lançam um álbum autointitulado, em 1974, com uma abordagem musical diversificada e em que mantém um estilo próximo a Os Incríveis na maioria das canções. No ano seguinte, após trocas na formação, lançam um segundo álbum, Lar de Maravilhas, que traz uma orientação musical mais próxima ao rock progressivo, mas mantendo a temática das letras. Com novas trocas de formação, lançam Casa de Rock, em 1976, com uma abordagem musical e lírica mais simples e direta, próxima ao hard rock setentista. Entretanto, devido a um incidente envolvendo dois integrantes da banda ocorrido em setembro de 1977, foram obrigados a encerrar a carreira em abril de 1978. Quase três décadas mais tarde, no final de 2007, o grupo retornou aos palcos para apresentações esporádicas, como no Festival Psicodália de 2008 e na Virada Cultural Paulista do mesmo ano. A partir de 2010, a banda retorna de vez com uma agenda de shows mais regular.


(Fonte do texto: Wikipedia)


Almeida Junior (1850-1899)

terça-feira, 12 de abril de 2022

 


(Caipira picando fumo)

Leituras diárias

segunda-feira, 11 de abril de 2022

 



“Tal como Heidegger argumenta, a ciência natural moderna representa um resultado da tradição metafísica ocidental; constitui uma meticulosa indagação daquilo que é implícito no preconceito face à presença constante, iniciando na filosofia grega, isto é, a frequentemente tácita compreensão do ser em termos daquilo que Heidegger chamava Vorhandenheit (simples presença) nos seus primeiros escritos. O encontro científico moderno com a natureza como objeto correspondente grosso modo àquilo que era chamado a natureza objetiva nos capítulos anteriores deste estudo.” (Foltz, pág. 101)

 

Bruce V. Foltz, Habitar a Terra – Heidegger, ética ambiental e a metafísica da natureza


CUIDADO com as fake news nestas eleições!

domingo, 10 de abril de 2022

 


(Fonte: Idec.org.br)

Blaise Pascal (1623-1662)

sábado, 9 de abril de 2022

Conheça a obra Pensamentos do filósofo cristão francês Blaise Pascal  



Baixe o livro no link abaixo:


http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/pascal.pdf


Ainda o impeachment?

sexta-feira, 8 de abril de 2022

 

(Desenho de André Dahmer em Libredd.it)

DIA DO JORNALISTA

quinta-feira, 7 de abril de 2022

 


A consciência crítica da sociedade

Änglagard - Ur Vilande

quarta-feira, 6 de abril de 2022

 As melhores bandas de rock de todos os tempos


Änglagard

Album: Viljans Öga (2012)

Música: Ur Vilande




https://www.youtube.com/watch?v=SEDhBJynbvo


Änglagård é uma banda sueca de rock progressivo. A banda iniciou suas atividades nos anos 90, gerou imensa aclamação da crítica e um séquito de fãs fiéis ao seu som insólito : mellotron chocante com sintetizadores pesados, combinados com virtuoso trabalho de percussão e guitarras, bem como marcantes inserções de flauta clássica e vocais sempre em sueco.

 

(Fonte do texto: Wikipedia)     

 

Gustave Courbet (1819-1877)

terça-feira, 5 de abril de 2022

(Quebradores de pedras) 

Leituras diárias

segunda-feira, 4 de abril de 2022

 


“A partir da análise da mercadoria-sujeito como objeto físico-metafísico, Marx chega à formulação de sua crítica da religião. Já não se trata da crítica feuerbachiana de sua juventude, que parte dos conteúdos religiosos para descobrir neles os elementos da vida real humana de forma transformada. Parte agora da vida real para explicar o aparecimento das imagens de um mundo religioso. O elo entre vida real e mundo religioso é a própria mercadoria vista como sujeito. Marx interpreta, portanto, essa aparente subjetividade dos objetos como o verdadeiro conteúdo das imagens religiosas. Por detrás das mercadorias, cujo mundo decide sobre a vida e morte do homem, descobre portanto as imagens religiosas como projeções dessa subjetividade das mercadorias.” (Hinkelammert, págs. 28 e 29)

 

Franz Hinkelammert, As armas ideológicas da morte


Tirem a mão da CAIXA!

domingo, 3 de abril de 2022

 



(Fonte: bancariosrio.org.br)

A atitude de Putin justifica "boicote cultural" à cultura russa?

sábado, 2 de abril de 2022


"As relações técnicas são parte das relações de poder, e não considerar isso será fonte de permanente frustração - é como pedir que gato fale."   -   Carlos Walter Porto-Gonçalves   -    A globalização da natureza e a natureza da globalização  


A invasão da Ucrânia pela Rússia está justificadamente recebendo uma ampla cobertura da imprensa. Canais de TV, jornais e demais mídias sociais de todo o mundo, mandaram seus jornalistas e correspondentes à Ucrânia para cobrir a invasão russa. A imprensa brasileira, afora uma ou outra exceção, não está acompanhando in loco o evento com seus próprios profissionais, e por isso está sendo pautada pela mídia internacional, principalmente a americana.

A estranha impressão que se tem, claramente influenciada pelos diversos veículos de propaganda e de notícias dos Estados Unidos e da Europa, é de que está ocorrendo um grande embate. De um lado, todos os mais influentes países do mundo, evidentemente a serviço do Bem. Do outro, o Império do Mal, personificado pela Rússia, na pessoa de seu líder, Vladimir Putin. A Ucrânia é a maior vítima em toda esta história, tendo sido transformada em cavalo de batalha na estratégia dos Estados Unidos e de seus representantes, os países europeus.

Nem Putin, com a Rússia, e nem Biden, com os Estados Unidos, têm o direito de, sob qualquer argumento, invadirem um outro país. Esta não é a primeira invasão de um país por outro neste século XXI (sem falar dos anteriores). Todos as nações diretamente envolvidas com a situação, as mesmas que ora apontam o dedo para a Rússia, já agiram da mesma forma ao longo da história recente no século XX e durante as duas guerras mundiais – Alemanha, França, Inglaterra, Itália –, sem falar do recordista em ingerências nos quintais alheios desde o século XIX; os Estados Unidos.

Toda esta situação, inflada pelos meios de comunicação e por divulgadores de fake news, está criando um clima de profunda má vontade em relação à Rússia. Há que se observar, que internamente o governo de Putin também lança mão de forte campanha de notícias falsas, para iludir a população russa e justificar o ataque à Ucrânia. Vale, lembrar, no entanto, que para a maior parte das populações de nações não afetadas diretamente pelo conflito, a guerra é um evento longínquo, sem muita importância para seus próprios problemas diários; algo comparável ao que para nós são os conflitos internos hoje em andamento na Nigéria, no Iêmen, em Mianmar, e vários outros países.

A Europa, os Estados Unidos e os países fortemente ligados a estas economias como o Brasil, são grandes alvos das centrais de notícias e das campanhas tendenciosas. Começa a ser orquestrado por certos setores, principalmente nos Estados Unidos, um boicote cultural, contra tudo que seja, lembre, tenha gosto ou cheire à Rússia. Nos Estados Unidos, artistas são afastados da ópera de Nova York, apenas pelo fato de serem russos. A ópera da Polônia cancelou a produção da peça “Boris Gudunov”, do compositor russo Mussorgsky. A orquestra filarmônica de Zagreb suspendeu duas apresentações do compositor Tchaikovsky. Na Itália, a universidade de Milão tentou adiar um seminário que discutiria o clássico “Crime e Castigo” do escritor russo Dostoyevsky.

Artistas russos que atuam em países ocidentais são hostilizados e desligados de suas atividades, apesar de não terem nenhuma ligação com o presidente russo, e muitos terem manifestado seu repúdio à invasão da Ucrânia através de suas redes sociais. A soprano russa Anna Netrbko, por exemplo, cancelou suas próximas participações na Metropolitan Opera de Nova York. Em sua rede social, logo após a invasão da Ucrânia, a artista declarou que “como muitos de meus colegas, não sou uma política. Eu sou uma artista e meu propósito é unir as pessoas.” Cineastas russos estão sendo injustamente punidos, tendo seus filmes excluídos de festivais, mesmo tendo manifestado sua desaprovação ao presidente Putin e à invasão da Ucrânia. No jornal britânico The Telegraph, o colunista Sam Ashworth-Hayes chamou o movimento de “guerra cultural à Rússia” e “um terrível erro”, que está provocando uma onda de “russofobia” em muitos círculos culturais da Europa e dos Estados Unidos.

No Brasil a onda da russofobia também tem os seus imitadores – como sempre ocorre assim que surgem novas “modas culturais". Prudentemente, alguns restaurantes de São Paulo e Curitiba já retiraram o strogonoff, “perigoso propagandista de Putin”, de seus cardápios. Caipirinhas de vodka (caipiroska), moscow mule, white russian, strawberryroska, mojito cremoso, cosmopolitan, bellini com vodka, são outras bebidas classificadas como “quinta coluna”, cujas vendas estão temporariamente suspensas nos mais refinados bares e restaurantes das grandes cidades brasileiras. É o Brasil também dando sua contribuição ao boicote à Rússia e, especialmente a Putin.

Na área cultural, dado o confuso momento cultural e político que o Brasil vive, o impacto do “boicote cultural” provavelmente ficará restrito à literatura. Em relação a isso, o jornalista, tradutor e autor do livro “Como ler os russos”, Irineu Franco Perpétuo, comentou que a literatura brasileira tem uma relação de mais de um século com os autores russos. Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, Lima Barreto, Jackson Figueiredo, Alceu Amoroso Lima, por exemplo, têm forte influência da literatura russa. Não custa lembrar, que todos os clássicos russos, entre os quais Dostoevsky, Gogol, Nabokov, Bulgakov, Checov, Tolstoi, Lermontov, Pushkin, por exemplo, estão mortos há muito tempo, e se tornaram clássicos mundiais muito antes que Putin e seu despótico regime tenham surgido.

Trata-se, portanto, de uma atitude preconceituosa e obtusa, a promoção de qualquer tipo de boicote aos artista e à cultura russa, que constroem e ajudaram a construir o patrimônio cultural da humanidade, do qual todos nós participamos. Em algumas dezenas de anos, provavelmente poucos se lembrarão de quem foi Putin, Biden, Scholz ou Macron, mas ainda conhecerão e apreciarão os escritores, músicos, artistas e cientistas russos.   



(Imagens: pinturas de Heinz Anger)

Mais livros!

sexta-feira, 1 de abril de 2022


 (Fonte: Luís Müller Blog)