Faltam locais de lazer nas cidades

sábado, 30 de janeiro de 2016
"Diante destes fatos devemos afirmar que o inconsciente contém, não só componentes de ordem pessoal, mas também impessoal, coletiva, sob forma de categorias herdadas ou arquétipos."  Carl Gustav Jung  -  O Eu e o Inconsciente 

Voltam as festas de final de ano e, como sempre acontece, milhões de pessoas dirigem-se ao interior e ao litoral para passar os feriados. Estradas congestionadas, acidentes; milhões de horas perdidas pelos turistas, deslocando-se de um lugar a outro. Os feriados seriam muito mais agradáveis, se este tempo perdido, sentado dentro dos automóveis, pudesse ser empregado passando mais algumas horas na praia ou se divertindo com amigos. Mas do jeito como funciona o turismo e o lazer no Brasil, isto dificilmente será possível.
O problemas, como já escrevemos uma vez nesta coluna, começam nas grandes cidades. Sem suficientes opções de lazer, principalmente na periferia dos grandes centros urbanos, os moradores das regiões metropolitanas ficam limitados a frequentarem shopping centers, cinemas, shows de música,  algumas exposições e os poucos parques urbanos disponíveis. A exceção são as grandes capitais litorâneas do Nordeste, a cidade do Rio de Janeiro, Florianópolis e mais uma ou outra cidade de maior porte localizada no litoral, como Santos. No entanto, mesmo assim, a população que mora na periferia destas cidades, situada longe do mar, encontra seu principal lazer na praia. Mesmo porque, outros logradouros, quando existem, muitas vezes são mal cuidados e com pouca segurança, frequentados por assaltantes e consumidores de drogas.
Assim, basta surgir um feriado - o Reveillon e o Carnaval são festas muito especiais na cultura popular brasileira - para que grandes massas se desloquem para as praias. Uns, vindo de longe e utilizando as autoestradas, e outros, deslocando-se dentro da própria cidade ou região metropolitana, como ocorre no Rio de Janeiro, em Salvador e outras.
Se as cidades tivessem uma melhor infraestrutura, formada por clubes públicos com infraestrutura para a prática de esportes, piscinas, áreas de lazer e bosques - efetivamente em funcionamento e bem administrados - a população teria mais opções de lazer. Os clubes com piscinas públicas, nos quais os cidadãos passam a ter contato com os esportes aquáticos, são muito comuns na Europa e deveriam ser construídos em grande número nas cidades brasileiras - principalmente considerando o clima tropical do país, onde em sua maior parte é possível utilizar a piscina durante o ano todo.
Inúmeros fatores contribuem assim para estes imensos deslocamentos de pessoas a todo final de ano, que tanto contribuem para sobrecarregar a infraestrutura das cidades turísticas. Desde a falta de investimentos em lazer nas grandes cidades, passando pelo alto custo das viagens para outras regiões (passagens aéreas, alimentação e hotéis), até a incerteza da economia. A opção próxima e barata são então as cidades do litoral, principalmente nos estados do Sudeste e do Sul.
Apesar de continuarmos sendo uma das dez maiores economias do mundo, nossas grandes cidades em pouco melhoraram sua infraestrutura de lazer nos últimos 50 anos. Existem poucas opções,  principalmente para as pessoas de menor poder aquisitivo e os moradores das periferias. É só olhar para os rios e lagos localizados no ambiente urbano, para ver o descaso com estão sendo tratados pelo poder público. Lixo, esgoto, invasões, entulho de obras, focos de doenças. O lazer ocorre somente uma vez ao ano, quando muitos extravasam sua revolta e decepção - à luz dos fogos, embalados pela música.
(Imagens: desenhos de Vilanova Artigas)

Cerrado é esquecido nos acordos internacionais

sábado, 23 de janeiro de 2016
" ('As Bacantes' de Eurípedes) é uma percepção terrível e dura da vida humana. Ainda assim, no excesso mesmo do seu sofrimento encontra-se o clamor do homem por dignidade. Destituído de poder e alquebrado, um mendigo cego perambula às margens da cidade; ele assume uma nova grandeza. O homem se enobrece com a maldade vingadora ou injustiça dos deuses. Isso não o torna inocente, mas consagra-o como se tivesse passado pela chama."  George Steiner  -  A morte da tragédia


Em tempos de aquecimento global e Fórum Climático em Paris, fala-se apenas na eliminação do desmatamento ilegal na Amazônia. O objetivo é louvável e - se for realmente alcançado - trará muitos benefícios para o país e o planeta. No entanto, existe um outro bioma, o Cerrado, muito mais ameaçado pela expansão do agronegócio, e que não recebe a mesma atenção. Matéria recente do jornalista Marcelo Leite, publicada no jornal Folha de São Paulo, mostra alguns dados sobre a lenta e inexorável destruição à qual está sendo submetido o Cerrado.
O nome é, na verdade, a denominação de um imenso espaço geográfico, com clima e relevos característicos, dominado por três principais biomas: campo tropical (campo limpo); savana (cerrado ou campo sujo); e floresta estacional (cerradão), estendendo-se por 2,045 milhões de quilômetros quadrados - área pouco maior do que o território do México (1,9 milhões de km²). O Cerrado estende-se em espaço contínuo pelos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas. Em seu espaço geográfico também se encontram as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul; a do rio Tocantins, rio São Francisco e rio da Prata.
Estima-se que cerca de 70% da área do Cerrado esteja alterada por atividades agrícolas, pecuárias e mineração. A velocidade do desmatamento na região batizada de Matopiba (incluindo os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) vem crescendo devido à expansão das culturas de soja, milho e algodão. No Matopiba, entre 2000 e 2007, derrubavam-se em média 1.114 km² de vegetação nativa por ano. No período 2007 e 2014 a velocidade do desmatamento cresceu para 1.800 km² ao ano. Em outras área do Cerrado, nos estados de GO, MG, MS, MT, PR, RO, SP e no Distrito Federal, houve uma queda de 64% na ocupação do território entre 2000 e 2014. Nestes estados, o aumento do preço da terra fez com que a expansão agrícola ocupasse áreas abertas anteriormente para a pecuária; atividade menos rentável. Diferentemente, no Matopiba, o baixo preço da terra faz com que a agricultura continuasse avançando sobre áreas ocupadas pela vegetação original.
Estudos concluíram que existem no Cerrado pelo menos 200 mil km² (área equivalente ao estado do Paraná) de terras desmatadas disponíveis para a agricultura, em sua maior parte anteriormente ocupadas pela pecuária.


A falta de coordenação entre os ministérios do Meio Ambiente e o da Agricultura, Pecuária e Abastecimento faz com que esta imensa área permaneça inaproveitada pela agricultura, ao passo que a vegetação original continua a ser destruída. Significativo também é que no compromisso assumido para a Conferência do Clima de Paris, o governo brasileiro não tenha incluído metas específicas de redução do desmatamento para o Cerrado. As suas áreas protegidas, incluindo unidades de conservação e terras indígenas, somam apenas 8,2% de sua superfície, em comparação com 43,9% da Amazônia.
Os interesses do agronegócio são fortes na região e dispõem de muitos defensores em Brasília. No entanto, já existem soluções como a da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que possibilitam a convivência das atividades econômicas com o ambiente original da Cerrado.
(Imagens: desenhos de Burle Marx)

Meio ambiente e Ano Novo

sábado, 16 de janeiro de 2016
"As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias."  -  Eça de Queirós  -  Páginas de Jornalismo

(publicado originalmente como newsletter janeiro/fevereiro no site www.ricardorose.com.br)

Ano novo vida nova, diz o ditado. Mas não aqui e agora. Parafraseando a expressão  tornada famosa no título do livro de Zuenir Ventura, podemos dizer em relação ao momento: "2015 o ano que não acabou".
Não acabou mesmo. Continua a pairar a ameaça de impeachment sobre a cabeça do presidente do Senado, Renan Calheiros, sobre o presidente de Câmara, Eduardo Cunha, e sobre a presidente do país, Dilma Rousseff. Deputados se veem às voltas com CPIs, sendo a mais importante delas a da Petrobrás, focada no futuro (ou não) político do deputado Cunha. Enquanto isso, parlamentares do baixo clero e de pequenos partidos, circulam pelo Congresso como peixes de um cardume, levados pelas correntes dos benefícios políticos e financeiros. O governo já não tem mais nada a barganhar (não tem mais boi para jogar para estas piranhas) e pouco pode fazer para influenciar aqueles que deveriam constituir sua base de apoio político. Com isso, aprovam-se poucos projetos, não se faz o ajuste econômico - ao qual o novo ministro da fazenda, Nelson Barbosa, dará todo apoio, segundo declarou - e a economia continua caindo pela escada - uma queda que começou em 2014, se acelerou em 2015 e parece que continuará assim por longo tempo.
A economia - o mundo real que envolve a vida dos brasileiros, seus empregos e sua sobrevivência - vai mal e deverá piorar mais ainda, segundo previsões quase unânimes. Mais inflação, mais desemprego, menos investimentos produtivos, menos arrecadação, menos investimentos em infraestrutura. O governo, endividado, com rombos já previstos no orçamento para 2016, continua sem ação - reprise de 2015. As soluções baseadas em ideologias, imaginadas por grupos de apoio a Dilma para tentar melhorar a situação econômica do país - caso da CUT, MST, MTST, UNE e outros do mesmo calibre - levarão a economia a um abismo maior. Uma nova edição capenga da "nova matriz econômica" não geraria mais recursos para programas sociais, ao contrário.
Redundante dizer que com todo este imbroglio político-econômico em que nos metemos nos últimos anos, o setor ambiental também sofre. E padece de duas maneiras. Por um lado, padece com as promessas feitas e geralmente não cumpridas, por falta de recursos. Já falamos mais de uma vez nesta coluna que a linha ideológica do governo Dilma, diferente de Lula, é claramente desenvolvimentista; não se preocupa com o meio ambiente além do estritamente necessário. Sendo assim, os planos e projetos ambientais são os últimos da longa fila de prioridades do governo. Com a crise econômica, a coisa ainda ficou pior, haja vista os imensos cortes realizados no tão esquecido PAC, sigla que (ironicamente) significa Plano de Aceleração do Crescimento.
As verbas para saneamento foram cortadas, “projetos foram paralisados, quando não abandonados, entre escândalos de corrupção e o completo esvaziamento dos cofres públicos”, segundo texto no site da Federação Nacional dos Trabalhadores Celetistas nas Cooperativas do Brasil (FENATRACOOP). Os projetos para fazer cumprir as promessas de eliminação do desmatamento ilegal na Amazônia, assumidos durante a COP-21 em Paris no mês passado, ainda são apenas promessas. Afinal, ainda temos muito tempo (2030) e no momento poucos recursos.
A outra maneira pela qual os recursos naturais padecem no Brasil é o descaso como são tratados. Muito se tem escrito sobre o assunto, mas como exemplo basta citar dois fenômenos: a avalanche de lama em Minas Gerais e Espírito Santo, que destruiu praticamente seis mil quilômetros quadrados de florestas, rios, cidades, fazendas, praias e centenas de espécies; e a estiagem que afeta grande parte dos reservatórios no Sudeste e Nordeste do Brasil. Acidentes que podem acontecer, mas poderiam ser prevenidos ou minorados com melhores gestões de resíduos e recursos hídricos, por exemplo.
Estes problemas se arrastarão por 2016 afora. No plano político e econômico, qualquer solução é traumática; por um período mais curto ou mais longo. No setor ambiental – que não tem qualquer prioridade para o governo – o padecimento será muito mais longo. Com tanta desgraça, resta apenas esperar que o Estado faça valer a justiça no caso de Mariana. “2015, o ano que não acabou.”

(Imagens: pinturas de Tarsila Amaral)

Atividades econômicas e externalidades

sábado, 9 de janeiro de 2016
"A miséria é, efetivamente, a grande auxiliar do utopista, a matéria sobre a qual trabalha, a substância com que nutre seus pensamentos, a providência de suas obsessões."  -  Emil Cioran  -  História e Utopia

O rompimento das barragens com lama de mineração da empresa Samarco, em Mariana, foi o maior acidente ambiental jamais registrado no Brasil. Além de matar mais de uma dezena de pessoas e destruir centenas de casas, a lama afetou uma região bastante povoada e urbanizada, com diversas atividades econômicas, localizada na bacia do rio Doce entre Minas Gerais e o Espírito Santo. O volume dos detritos foi tão grande, que chegou à foz do rio Doce, no litoral do Espírito Santo, afetando toda a vida marinha da região, inclusive áreas de proteção ambiental.
O que de imediato chamou a atenção foi a morosidade das autoridades dos dois estados envolvidos - governadores, agências ambientais e demais órgãos ligados ao assunto. O governo federal e seus ministérios - Minas e Energia, Meio Ambiente, Integração Social e outros - só esboçaram alguma reação quando o ocorrido já tinha tomado grandes proporções. Nas primeiras horas da tragédia, a população foi abandonada à própria sorte. A Samarco, responsável pelo derramamento da lama - já que este era resíduo de suas atividades de exploração - limitou-se a afirmar que as barragens haviam sido vistoriadas e que "não é o caso de desculpas à população". 
Investigações avançam e é necessário que o Ministério Público, associações de moradores afetados, ONGs, auditores independentes e a imprensa isenta acompanhem seu desdobramento. Não é possível admitir que os afetados por uma tragédia de tão grandes dimensões - a população, a infraestrutura privada e pública, as atividades econômicas e o meio ambiente - sejam destruídos sem o devido ressarcimento. A empresa Samarco e sua proprietárias, a Vale e a BHP Billiton, são responsáveis em reparar os danos, tenha ou não sido um acidente. 
Aos efeitos de uma atividade econômica sobre terceiros (aqueles que nada têm a ver com o que a empresa faz, como o morador que perdeu a casa e demais bens por causa da lama), os economistas costumam chamar de externalidades negativas. Neste caso, o vazamento da lama é uma externalidade negativa pela qual a empresa terá que assumir todos os custos de reparação. 
O que alguns economistas defendem, principalmente aqueles embasados pelas questões sociais e ambientais, é que às atividades econômicas sejam incluídos os custos das externalidades de produtos e serviços. Assim, o criador de gado na Amazônia deve incorporar ao custo do boi que venderá ao matadouro o valor da floresta derrubada para fazer as pastagens, da água para dessedentar os animais, de salários condizentes para seus capatazes e peões, das emissões de gases provocadas pela atividade, etc. Todos estes custos deveriam ser incorporados ao valor final do produto, para que este tivesse um preço real, incluindo as externalidades negativas inerentes à sua produção. O mesmo princípio deveria ser aplicado a outros setores da economia, como a mineração, a exploração de madeiras, agricultura, indústria, produção e destilação de petróleo, serviços de limpeza, etc.
Todavia, as externalidades negativas ainda não são incorporadas ao custo do produto e continuam a ser impostas às comunidades e ambientes, sem que haja uma compensação. Assim, continuamos praticando o velho princípio do capitalismo sem lei de "privatizar o lucro e socializar os custos". Com isso, os resultados, por vezes, são trágicos.
(Imagens: desenhos de Wesley Duke Lee)

História da filosofia: dos pré-socráticos aos sofistas

sábado, 2 de janeiro de 2016
"Graças aos trabalhos de historiadores da economia é possível avaliar, em dólares ou euros de hoje, os rendimentos observados em populações de séculos anteriores. O nível de vida de um escravo romano, por exemplo, não era significativamente diferente do de um camponês do Languedoc, no século XII, ou do de um operário da grande indústria no início do século XIX. Aproxima-se do rendimento dos pobres do mundo moderno: em torno de um dólar por dia."  -  Daniel Cohen  -  Prosperidade do vício

1. Antecedentes históricos 

Em suas origens, a Grécia sofreu grande influência da civilização cretense ou minoica, estabelecida na ilha de Creta. Esta civilização aparece no cenário do Mediterrâneo na primeira metade do III milênio a.C., passando por um grande desenvolvimento a partir de 2.000 a.C., quando são erguidos na ilha os palácios de Cnossos, Faistos e Mália. A construção desta obras reflete o desenvolvimento técnico, político e cultural que a civilização minoica havia alcançado naquele período, mantendo extenso comércio com outros impérios da época, como o Egito, a Assíria e a Fenícia. Por volta de 1.700 a.C. a ilha é afetada por uma catástrofe, revolta social ou terremoto (não está claro o tipo de cataclismo), o que faz com que várias construções sejam destruídas, fazendo com que a vida cultural, política e econômica ficasse concentrada no palácio de Cnossos.

À época Creta exercia domínio político sobre a Grécia continental, habitada pelos eólios. Resquícios de lendas sobre este domínio foram mais tarde incorporados à cultura grega, através do mito do rei Minos e do Minotauro. Segundo a lenda, a cada sete anos tinham que ser mandados sete rapazes e sete moças de famílias nobres de Atenas para a ilha de Creta, onde eram devorados pelo Minotauro, monstro com corpo de homem e cabeça de touro, que vivia em um labirinto construído por Dédalo para o rei Minos. Esta exigência feita por Minos era devida à morte de seu filho, Androgeu, por Egeu, rei da região Ática. Mais tarde, Teseu, filho de Egeu, conseguiu penetrar no labirinto do Minotauro com a ajuda de Ariadne, matando o minotauro e acabando com a terrível imposição.


Até o início do II milênio nada distinguia a situação político-social da Grécia do resto dos Balcãs. Todavia, a partir deste período ocorreram invasões periódicas de povos indo-europeus, vindos de regiões situadas no norte do Mar Negro. A partir do século XVI a.C. estes grupos passaram a assumir a hegemonia na região de Argos, a nordeste do Pelonoponeso. Este povo, conhecido como os aqueus, apesar de conservarem fortes resquícios de sua antiga cultura guerreira e seminômade, foram bastante influenciados pela civilização cretense ao tomar contato com esta, estabelecida que estava na península grega. Os aqueus criaram a civilização micênica (referência a cidade de Micenas) ao incorporarem a escrita, certos mitos religiosos e a prática do comércio cretense, além de desenvolverem finíssima cerâmica. No entanto, o espírito guerreiro e a cobiça pelas riquezas da civilização minóica falaram mais alto, e em torno de 1.400 a.C. os aqueus, que já conheciam o uso do cavalo e da biga, acabaram por invadir Creta, destruindo Cnossos e as principais cidades, não sem antes promover vasta pilhagem. Outra façanha atribuída aos aqueus foi a destruição da cidade fortificada que a tradição passaria a conhecer como Tróia.

Esta epopéia, mais tarde cantada pelos bardos (poetas) e fixada em texto, segundo a tradição, por Homero, deve ter ocorrido entre os séculos XIV ou XIII a.C.. Como acontece na história, mal a civilização micênica atingiu certo grau de equilíbrio e domínio sobre a região do Egeu, outro povo vindo do norte invadiu suas terras e abalou a estrutura do império. Eram os dórios, povo também indo-europeu, que conhecendo o ferro e sendo mais belicosos do que os aqueus, incorporaram-se a civilização micênica trazendo seus costumes, suas crenças e contribuindo para a futura formação da etnia grega.

O período que se estende do século XII (época das invasões dóricas) ao século VIII a. C. é chamado pelos historiadores de período homérico, já que parte das informações que temos sobre o período foram-nos transmitidas pela Ilíada e Odisséia, relatos elaborados pelo bardo Homero, que teria vivido no século XI, incorporou aspectos sociais, religiosos, econômicos e culturais da sociedade grega de seu tempo. Cabe aqui um comentário sobre a Ilíada e a Odisséia: estas representam as obras fundadoras da cultura ocidental, exercendo influência em tempos posteriores. Muitos autores são unânimes em dizer que toda a literatura ocidental (e parte da filosofia) tem raízes nos versos escritos por Homero. Harold Bloom em seu interessantíssimo livro "Onde se encontrar a Sabedoria", cita o poeta inglês Shelley, que em sua obra "A Defesa da Poesia" (1821) diz o seguinte sobre a poesia de Homero: "Os poemas de Homero e seus contemporâneos fizeram o deleite da Grécia infante; eram elementos de um sistema social que veio a ser pilar que sustenta toda civilização subseqüente. Homero, em termos de personalidade humana, personificou o ideal de perfeição de sua era; não podemos duvidar que os leitores de seus versos despertassem para a ambição de emular Aquiles, Heitor e Ulisses; verdade e a beleza da amizade, o patriotismo e a perseverante dedicação a um objetivo foram reveladas, em toda a sua profundidade nessas criações imortais, os sentimentos dos ouvintes devem ter sido apurados e engrandecidos pela simpatia suscitada por estas representações tão grandiosas e adoráveis, até que, da admiração os ouvintes passara à imitação e, a partir da imitação, identificaram-se com os objetos admirados" (Shelley citado por H. Bloom). 

O período classificado com homérico é caracterizado pelo domínio das grandes propriedades e atividade rural em toda a Grécia. O comércio marítimo, bastante forte durante o período micênico, sofre certamente um retrocesso. O poeta Hesíodo, outro marco da cultura grega arcaica, tendo escrito no século VIII a.C. recomenda em certo trecho do "O Trabalho e os Dias" que apenas o camponês oprimido, sem qualquer chance de melhorar de vida na sociedade agrícola, passe a trabalhar na navegação. Neste período, onde os pequenos camponeses representavam exceção, a grande parcela da população era formada por camponeses e assalariados em geral, que prestavam serviços para os grandes latifundiários. As cidades, que dependiam em grande parte da produção agrícola das grandes propriedades, eram habitadas por alguns milhares, divididos em diversos grupos: a tribo, a fraternidade, o clã e a família. A estrutura social agrária, baseada na hereditariedade das terras e dos bens propiciava com que todo o domínio político fosse exercido pelos grandes proprietários agrícolas e por suas famílias. Aos poucos esta falta de perspectivas para as classes mais baixas acabou provocando revoltas e aumentando o desrespeito à lei, fatos que por sua vez forçaram as classes dirigentes a introduzirem mudanças econômicas e sociais, a fim de não serem completamente alijados de suas posições de domínio.


Criaram-se novas oportunidades no comércio ultramarino, com a construção de frotas mercantes com os recursos acumulados pelos latifundiários durante anos de domínio econômico. Parte da população destituída, o "Lumpenproletariat", não vendo condições de melhoria de vida na Grécia, embarcou para fundar novas colônias na Jônia (atual costa da Turquia) e na Itália e Sicília (a Magna Grécia). Paralelamente os mercadores gregos, tomando contato mais freqüente com outras culturas, e identificando demandas tecnológicas para incrementar seu comércio, incorporaram o uso da moeda (provavelmente de origem lídia), introduziram o uso de pesos e medidas (bastante utilizados pelos fenícios) e adaptaram o alfabeto fenício a sua língua.

Todavia, situação social ainda não estava estabilizada. Apesar do progresso crescente (e talvez por causa dele), ainda reinava uma instabilidde social nas cidades. Desta forma, aparecerem legisladores que - agora com a difusão da escrita - puderam criar e estabelecer leis escritas a serem cumpridas por toda a população. Em casos mais extremos, algumas cidades passam a ser governadas por tiranos, principalmente entre o século VII e VI a.C.. Estes tiranos, porém, geralmente apresentam-se mais como árbitros pacificadores, limitando-se a exercer um controle eficaz sobre a política, procurando conciliar os interesses dos nobres e dos outros cidadãos. Através destes governos fomentou-se a distribuição de terras, o apoio aos pequenos agricultores e ao comércio, a construção de obras públicas (pontes, portos, aquedutos) e o mecenato artístico e religioso. Mas, devido as características da mentalidade grega, tais tiranos não conseguiram fazer dinastia; desapareceram da Grécia continental e décadas depois das cidades-colônia, permanecendo apenas na memória cultural como sinônimo de violência e desprezo da lei.

No decorrer do século VI a. C. Atenas destacou-se do conjunto das cidades gregas. A economia expande-se e forma-se uma sólida classe econômica, formada de camponeses médios que produzem para consumo próprio e vendem vinho, azeite, frutas e legumes. Na região do Mediterrâneo a indústria cerâmica de Atenas assume lugar destacado, sendo transportada por uma marinha mercante numerosa. A moeda, cunhada abundantemente, é bem aceita, baseada na regularidade de seu peso e no alto teor de prata. Ao mesmo tempo, as cidades gregas da Jônia entram em guerra com o império Persa, o que, por exemplo, causou a completa destruição de Mileto, e desta forma perdem sua influência econômica no Mediterrâneo oriental, que passa a ser exercida por Atenas. A evolução social e política também acompanharam as transformações econômicas. Entre 621 e 506 a.C., as leis de Drácon e Sólon, a tirania de Psístrato e seus filhos, as leis de Clístenes, promoveram profundas mudanças no terreno jurídico e social, o que ajudou a preparar o caminho para democracia ateniense. A democracia ateniense foi o ambiente propício para o desenvolvimento de uma filosofia crítica, voltada para os assuntos humanos.


2. A religião grega

A religião grega formou-se através de um longo período pré-histórico e histórico.

Através dos dados que temos atualmente, podemos somente inferir certas influências pré-históricas e afirmar os aspectos históricos baseados em uma profusão de dados dispersos. Inegavelmente dados da civilização minóica, associados a substratos culturais de populações autóctones da Grécia continental, criaram as primeiras formas de culto religioso. A caverna, por exemplo, como local de culto, certamente originário de cultos cretenses neolíticos e depois transportados para o continente, aparece em toda a história grega, até os cultos órficos (estes de origem asiática e tardiamente incorporados à cultura grega) e fazendo uma aparição no mito da caverna de Platão. As divindades do céu e da tempestade, com Zeus, tem nítidas origens indo-européias e foram trazidas no norte pelo povo aqueu e dórico. Outras divindades, como Atena e Deméter, tem herança egéia. Há também o grupo de divindades que tem origem estrangeira, geralmente asiática, como Ares e Dioniso, ambos importados da Trácia; Afrodite igualmente tem origem asiática, possivelmente da Babilônia. Outras divindades são o resultado de um sincretismo multicultural: Possêidon, por exemplo, onde o cavalo revela origens nórdicas e o tridente e a soberania do mar revelam um deus meridional. Este processo de formação estendeu-se por várias centenas de anos e estabeleceu-se por volta do VIII século a.C.. Homero teve o papel de primeiro compilador das crenças gregas, ao colocar os deuses como personagens em suas obras. Nestas narrações os deuses estão constantemente intervindo na vida dos heróis, muitas vezes utilizando os humanos como joguetes de seus conflitos particulares. Foi talvez pensando neste aspecto que Shakespeare escreveu em "Rei Lear": "Nós os homens, somos para os deuses o que são as moscas nas mãos das crianças que, para se divertirem, as matam." (Shakespeare, Rei Lear Ato IV). Posteriormente Hesíodo, no século VIII com sua obra "Teogonia", estabelece toda a genealogia dos deuses gregos, "instruído pelas próprias musas, quando este pastoreava carneiros aos pés do sagrado monte Helikon". Hesíodo, porém, diferentemente de Homero, acabou com a interferência direta dos deuses na vida dos homens, insistindo no seu papel de guardiães da moralidade, divinizando até mesmo abstrações morais, como a Justiça (Diké); preocupações estranhas aos poemas homéricos.

Todavia, devido as suas características culturais, os gregos não esperavam que sua religião os "salvasse do pecado" ou lhes concedesse dons espirituais; estas preocupações sempre ficaram limitados aos cultos órficos ou aos mistérios de elêusis, seitas de origem oriental de cunho salvacionista e praticadas por minorias, geralmente intelectuais (é patente a influência destes cultos na filosofia de Pitágoras e, provavelmente, através de textos pitagóricos, na filosofia de Platão). Para a religião oficial (a de Homero e Hesíodo) grega não havia mandamentos, ou dogmas, nem rituais ou sacramentos complicados. Todo grego era livre para acreditar no que quisesse e para conduzir sua vida como bem entendesse, sem precisar temer a ira dos deuses. Talvez, avaliam muitos autores, esteja aí uma das razões pela quais os gregos puderam alcançar tamanho progresso intelectual, artístico e político. Ainda referindo-se a Homero no livro "Pré-Socráticos" da coleção Os Pensadores comenta-se que "humanizando os deuses e afastando o temor dos mortos, as epopéias homéricas descrevem um mundo luminoso, no qual os valores da vida presente são exaltados. Se, isso corresponde aos ideais aristocráticos da época, representa também o avanço de um processo de racionalização e laicização da cultura, que conduzirá à visão filosófica e científica, de um universo governado pela razão: séculos mais tarde, o filósofo Heráclito de Éfeso fará de Zeus um dos nomes do Logos, a razão universal (Os Pré-Socráticos).


3. Origens da filosofia

No século VII a.C. as colônias jônicas da Ásia Menor, apesar de acossadas pelo império Persa, vivem um grande desenvolvimento econômico, social e cultural. O comércio com outras regiões do mundo civilizado da época (Babilônia, Egito, Grécia e Magna Grécia e Fenícia) permite um afluxo de produtos nunca antes visto. Mercadores de todas as raças e falando dezenas de línguas circulam pelas estradas, ligando as cidades, e navios de todas as nacionalidades chegam aos portos. Novas idéias, novas técnicas e novas religiões são diariamente trazidas as cidades da Jônia, aumentando o conhecimento de seus habitantes sobre outras culturas e ensinando-os a relativizar as próprias certezas. A classe instruída, geralmente ligada ao comércio à política e as atividades culturais, desenvolve um senso crítico e um espírito de saudável ceticismo, característico de culturas cosmopolitas. A religião tradicional grega já não apresenta mais uma resposta para aquela sociedade, frente toda àquela multiplicidade cultural, e, junto com a introdução de novas ciências como a matemática, a geometria e a astronomia, a classe instruída, passa a analisar o universo sob outra ótica, substituindo os relatos míticos pelo pensamento racional. Alguns autores chamam este fato de "o milagre do pensamento grego": pela primeira vez na história ocidental, o homem passa a analisar o universo, seu funcionamento e sua origem, a partir de dados racionais, baseados na análise e no pensamento, sem qualquer recurso à tradição religiosa.

4. A filosofia se desenvolve

A antiga escola jônica

O primeiro filósofo foi Tales de Mileto, que viveu no período compreendido entre o final do século VII e meados do século VI a.C.. Tales provavelmente não deixou obra escrita, e tudo que se conhece de seu pensamento foi-nos transmitido através da tradição oral indireta. Além de pensador, Tales também foi cientista e político destacado, pertencendo, possivelmente, as mais abastadas famílias de Mileto. Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando de que este princípio é a água. O conceito elaborado por Tales é importantíssimo e revolucionário, segundo Giovanni Reale em História da Filosofia, o "princípio elaborado por Tales é a) a fonte e origem de todas as coisas; b) a foz ou o termo último de todas as coisas; e c) o sustentáculo permanente que mantêm todas as coisas. Em suma, pode-se dizer que o princípio pode ser definido como aquilo do qual provêm, daquilo no qual se concluem e aquilo pelo qual existem e subsistem todas as coisas". Este princípio - a realidade primeira e fundamental - foi denominado physis, termo que indica natureza. Em razão disso, todos os filósofos que até o fim do século V a.C. indagaram em torno da physis, foram chamados de "físicos" ou "naturalistas". O pensamento de Tales baseava-se no fato de que "a nutrição de todas as coisas é úmida", de que as sementes e os germes de todas as coisas "têm natureza úmida", e que a secagem significa, portanto, a morte.

Toda vida está desta forma ligada à água, sendo esta a fonte de todas as coisas. Todavia, Tales não é materialista ou fisicalista no sentido moderno do termo. Sua concepção de água coincidia com a idéia do divino. Dizia Tales de que "Deus é a coisa mais antiga, pois incriada", ou seja, sem princípio. Com este raciocínio o pensador introduz uma nova concepção de Deus no pensamento; uma concepção onde predomina a razão, que elimina todos os deuses do politeísmo fantástico-poético do universo homérico e hesiódico.

Anaxímandro foi discípulo de Tales e nasceu em torno do fim do século VII a.C., falecendo na segunda metade do século VI. Foi autor do primeiro tratado filosófico do ocidente escrito em grego e em prosa, intitulado "Sobre a Natureza". Anaxímandro, a exemplo de Tales, foi político de destaque e chegou a comandar um grupo de colonos que se deslocou de Mileto para Apolônia (depois da destruição da primeira pelos persas). O pensador sustenta que a água já é um princípio composto e que o fundamento de tudo é o a-peiron, ou ápeiron, significando tudo aquilo que é privado de limites, tanto no espaço (em extensão), quanto em atributos ou qualidades internas. Além disso, o ápeiron também é ilimitado no tempo, "incluindo todos os mundos", já que Anaxímandro considerava nosso universo apenas um dos muitos existentes. Outro conceito bastante importante introduzido por Anaxímandro na filosofia da época, é a idéia de que deve haver um equilíbrio no universo. O pensador argumenta que o fogo, a terra, e a água, devem estar espalhados em todo o mundo, guardando certa proporcionalidade. Todavia, é tendência de que todo o elemento procure naturalmente aumentar sua área de influência, gradualmente eliminando os outros elementos. Mas, uma lei faz com que o equilíbrio se estabeleça constantemente: onde, por exemplo, havia fogo, permanece a cinza; portanto terra. A crença nesta lei de equilíbrio (justiça diz Anaxímandro), através da qual as diferenças entre os elementos, eternamente existentes, não são ultrapassadas, era uma das crenças do pensamento grego. A justiça (o equilíbrio entre as partes) vigora sobre deuses e homens, e é esta exatamente a força impessoal mais importante; e não a de um deus qualquer. Anaxímandro argumenta que o princípio (a arché) não pode ser um elemento como a água, fogo ou terra. Caso contrário um deles eliminaria todos os outros. Por isso, o princípio primordial do universo é neutro.

O último pensador milesiano foi Anaxímenes, discípulo de Anaxímandro, tendo florescido no século VI a.C.. Para este, o universo (physis) é resultado de transformações de um ar infinito (pneuma ápeiron). De seu livro em prosa "Sobre a Natureza", nos chegaram alguns fragmentos, além de dispormos de testemunhos indiretos. Para este filósofo, tudo é formado por ar: a alma é ar, o fogo, ar rarefeito; de ar espesso resulta a água. Caso o ar se torne mais espesso ainda, transforma-se em terra ou rocha. Esta teoria tem a grande vantagem de estabelecer entre os diversos materiais apenas uma graduação na concentração do elemento primordial, o ar. Anaxímenes introduziu com este pensamento um conceito que iria influenciar as filosofias futuras: identifica a constituição última da physis e identifica o processo capaz de criar a multiplicidade de todas as coisas que formam o universo.

A nova escola jônica

A nova escola jònica dedicou-se a reavaliar o pensamento de seus antecessores, basicamente desenvolvendo suas idéias tomando por base o pensamento de Anaxímenes. Dentre os filósofos da nova escola jônica, cujas referências chegaram a nós, temos:
- Ideo de Himera nasceu e viveu no século V a.C., sendo quase contemporâneo de Sócrates. Suas idéias ainda tratam do tema do ar, como elemento primordial da physis.

- Cleidemo, discípulo de Anaxímenes, desenvolveu pesquisas no campo da meteorologia e da física. Por outro lado, Cleidemo desenvolveu uma série de hipóteses relativas aos sentidos, utilizando o conceito de ar como elemento principal: o paladar é resultante do ar; o olfato e a audição só existem porque o cheiro e o som são transportados pelo ar.

- Enópides de Quios, que viveu no século V a.C. também formulou teorias a respeito do dualismo fogo/ar, no qual por fim o fogo também se reduz a ar.

- Diógenes de Apolonia, único dentre todos os integrantes da nova escola jônica citado por Diógenes Laércio (9º Livro, capítulo IX), viveu em torno de 440 a.C. e foi contemporâneo de Anaxágoras. Os pontos principais de seu pensamento são: o princípio único é o ar; existem infindos mundos e um espaço infinito; o ar, em suas diferentes concentrações é o criador do mundo. Nada vem do nada e nada se torna (ou se desfaz no) nada.

A diferença principal entre a antiga escola jônica e a nova escola jônica é que os antigos se preocupavam mais com a natureza, tentando apreender a constituição da physis. Os novos, por outro lado, já possuem uma maior preocupação com a temática humana, transmitida aos filósofos posteriores como os sofistas, Sócrates e Platão.

A escola pitagórica

Pitágoras nasceu em Samos, vivendo apogeu de sua vida em torno de 530 a.C. e falecendo no início do século V a.C.. Durante parte de sua vida dedicou-se a viajar e aprender a ciência e a religião dos babilônios, dos egípcios e de outras regiões da Grécia. Fixou-se em Crotona, na Itália, onde elaborou leis para a população local e conseguiu grande fama, estabelecendo seus discípulos como administradores públicos, provavelmente ocupando os cargos mais influentes. Suas doutrinas conseguiram grande fama e difundiram-se em toda a Itália meridional e Sicília.
Os ensinamentos de Pitágoras eram direcionados principalmente para uma aristocracia abastada, atuando principalmente no comércio. Conta a tradição que os crotonienses, sentindo-se alijados do processo político da cidade - dominado em grande parte por discípulos de Pitágoras - revoltou-se e matou grande parte dos correligionários do filósofo. Este parece ter escapado ao levante popular, vindo a falecer mais tarde na cidade de Metaponto.
Na posteridade Pitágoras foi cercado por várias lendas Algumas davam conta de que tinha poderes de cura e forças mágicas. Ao mesmo tempo Pitágoras foi o fundador de uma seita filosófica secreta, que prescrevia certos ritos e proibia a ingestão de certos alimentos, da mesma forma que proibia qualquer divulgação de seus ensinamentos ao público não iniciado. Pitágoras foi, sem dúvida, uma figura extraordinária. Bertrand Russel o retrata como uma mistura de Einstein e de Mary Baker Eddy, a fundadora da "Ciência Cristã". Criou uma seita filosófica que advogava a metempsicose e que tinha uma série de proibições, como:
- Não apanhar objetos caídos
- Não tocar em galos brancos

- Não quebrar o pão

- Não atiçar o fogo com ferro

- Não tolerar andorinhas sob o telhado, e muitas outras.

É evidente que todas as proibições tinham valor simbólico e representavam certos preceitos que a comunidade pitagórica devia conservar.

Os agrupamentos de pitagóricos eram constituídos de homens e mulheres que viviam em total comunhão de bens. Mesmo as descobertas científicas e matemáticas eram consideradas bens coletivos.

Em sua filosofia os pitagóricos indicaram o número (e seus componentes) como "princípio" da physis, ao invés da água, do ar ou do fogo. Aristóteles, referindo-se à doutrina de Pitágoras escreve que estes viam os números em todas as situações: nos acordes musicais e nas notas, em toda a realidade o número era a base de todas as coisas; pensavam que os elementos dos números fossem os elementos de todas as coisas e que todo o universo fosse harmonia e número. Esta teoria, a princípio causou espanto, para depois marcar uma etapa fundamental no desenvolvimento espiritual do Ocidente. Mas, na realidade, as relações numéricas poderiam ser descobertas em muitas situações: na vibração de uma corda musical, e de sua oitava abaixo ou acima, todas vibrando em determinada proporção; no martelo batendo na bigorna, cujo som variava de acordo com o tamanho, e assim por diante. Além disso, os pitagóricos também descobriram as relações harmônicas de oitava, quinta, quarta, assim como as leis numéricas que as governam.

Na natureza os pitagóricos também descobriram vária outras relações numéricas: são leis numéricas que determinam os anos, as estações, os meses, os dias, etc. Os ciclos de desenvolvimento da vida, da incubação dos fetos dos animais também são baseados em ciclos numéricos. A partir destas constatações e levados pelo entusiasmo religioso, os pitagóricos também passaram a descobrir uma série de relações onde não as havia. Como comenta Giovanni Reale em História da Filosofia "para nós o número é uma abstração mental e, portanto, ente da razão; para o antigo modo de pensar (e até Aristóteles), porém, o número era coisa real e até mesmo o mais real - e precisamente enquanto tal é que veio a ser considerado o "princípio" constitutivo das coisas. Assim, para eles o número não era aspecto que nós abstraímos mentalmente das coisas, mas sim a própria realidade, a physis das próprias coisas."

Abaixo alguns outros pensadores de importância, mencionados por Diógenes Laércio:

- Epicarmos de Kos, viveu entre 550 e 460 a.C.. Deixou escritos sobre a natureza, costumes e medicina.
- Arquitas de Tarento, tendo vivido por volta de 400 a.C. foi estrategista e político e, segundo a tradição, salvou a vida de Platão avisando-o das intenções do tirano Dionísio.

- Alkmaion, viveu em torno do século V a.C., em data desconhecida. Escreveu sobre medicina e fenômenos naturais. Afirmava que sobre as coisas desconhecidas e invisíveis só os deuses tinham conhecimento e defendia a metempsicose.

- Hippasos de Metaponto, viveu no IV século a.C. e afirmava que as mudanças na Terra aconteciam em tempos determinados e que o espaço era limitado e em constante movimento.

- Filolau de Crotona, que floresceu em torno de 440 a.C.. Dele, conforme afirma Dion, Platão comprou os escritos dos pitagóricos. Filolau defende que tudo ocorre de acordo com a Lei, a Necessidade e a Harmonia. Segundo a tradição, o livro de Platão "Timeu" foi escrito baseado em informações obtidas de uma publicação comprada de um parente de Filolau.




Heráclito de Éfeso

Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI e V a.C., tendo sido um dos maiores filósofos do Ocidente. De sua produção restam apenas alguns fragmentos, sendo que seu livro "Sobre a Natureza" foi redigido na forma de aforismos, de maneira obscura e oracular, muitas vezes permitindo diversas interpretações. Devido aos seu estilo, foi apelidado de "Heráclito o Obscuro".

Heráclito pertenceu a classe abastada de Éfeso e seus antepassados haviam sido fundadores da colônia. Temperamento arredio e misógino, Heráclito abriu mão de um cargo público em favor de seu irmão. Não querendo mais conviver com seus concidadãos, que considerava maus e ignorantes, Heráclito foi viver nas montanhas ao redor da cidade, alimentando-se de ervas e frutas silvestres. Acometido de hidropisia, morreu com idade aproximada de 65 anos.

O pensador, apesar de jônico, não seguiu a tradição naturalista da escola milésica. Ele antes era um místico, de uma espécie bastante especial. O fogo era o princípio básico; assim como a chama do fogo, tudo surge da morte de outra coisa. "Imortais mortais, mortais imortais, vivendo a morte daqueles, morrendo a vida daqueles (Pensadores, Heráclito IX, 10). Heráclito não tinha os seus concidadãos em grande conta, pois afirma que "merecia que os efésios adultos se enforcassem e os não- adultos abandonassem a cidade, eles que a Hermadoro, o melhor dos homens deles e o de mais valor, expulsaram dizendo: que entre nós ninguém seja mais valoroso, senão que se vá alhures com os outros." (Pensadores, Heráclito, Diógenes Laércio. IX, 2).

Heráclito considera que as almas humanas são formadas de uma mistura de fogo e água, no qual o fogo é nobre e a água vulgar. As almas que tem fogo em demasia ele nomeia "secas". "A alma seca é a mais sábia e a melhor". "A água é a morte da alma". Não está claro se Heráclito deixou se influenciar pela religião de sua época. Em alguns fragmentos, faz referência a mistérios que considera possível, apesar de diferirem da religião praticada.

Em seu pensamento Heráclito dá ênfase as mudanças que ocorrem em toda a physis. Tudo está em constante movimento e não mantêm suas características ao longo do tempo. Seu pensamento caracteriza-se por uma constante passagem ao contrário: as coisas frias esquentam e vice-versa, as úmidas secam, as secas umedecem, o jovem envelhece o vivo morre, mas daquilo que está morto renasce outra vida, e assim por diante. O universo está em constante mudança até que seja destruído pelo fogo e então se inicia todo o processo novamente. Assim termina mais um ciclo e tudo se reinicia novamente. Aqui o pensamento de Heráclito guarda certa semelhança com o pensamento hindu, quase da mesma época, e também baseado em ciclos que se repetem pela eternidade.

O que nos fica da doutrina de Heráclito, além dos seus fragmentos, é principalmente o que Platão ("Não existe Ser, existe Devir") e Aristóteles ("Nada é permanente") comentaram sobre ela. É um filósofo que mesmo 2.500 anos depois de seu desaparecimento, ainda vale a pena ser estudado.


A escola eleática

A escola eleática recebeu este nome por ser originária de Eléia, região da Itália próxima a Nápoles. Esta escola de pensamento desenvolveu-se paralelamente à escola pitagórica e tem em comum com esta o racionalismo.

Xenófanes de Colófon, viveu aproximadamente de 570 a 475 a.C.. Nasceu na Jônia em Colófon (Ásia Menor) e emigrou para a Sicília ainda na juventude por motivos não esclarecidos. Passou grande parte da vida viajando, sem moradia fixa, cantando suas composições como um aedo (poeta). Alguns autores consideram Xenófanes como o fundador da escola eleática. Todavia, a problemática que Xenófanes coloca é de ordem teológica e cosmológica, diferente dos eleatas que fundaram a problemática ontológica.

O principal problema desenvolvido por Xenófanes é a questão dos deuses, estabelecida nas obras de Homero e Hesíodo e aceitos como verdade pela tradição religiosa da época. Fundamentalmente, Xenófanes critica seu antropomorfismo, as idiossincrasias humanas dos deuses gregos. Com esta crítica radical à religião de seu tempo, Xenófanes introduz mudanças na maneira de encarar a religião que terá muitos seguidores, principalmente com relação a seu monismo que fica patente em afirmações como:
"Tudo ele vê, tudo ele pensa, tudo ele ouve.
Sem esforço, com a força da sua mente, tudo faz vibrar.
Permanece sempre no mesmo lugar, sem se mover de modo algum,
Que não lhe é próprio andar ora em um lugar, ora noutro"
(conforme Reale, História da Filosofia).

Parmênides nasceu em Eléia, cidade ao sul da Itália, na Segunda metade do século VI a.C. e morreu em meados do século V a.C.. Os filósofos do sul da Itália e da Sicília tinham uma tendência de pensamento mais voltada para o misticismo do que os filósofos da Jônia. Parmênides é lembrado como o inventor de uma forma nova de Metafísica, expressa em seu poema "Sobre a Natureza". Neste tratado Parmênides afirma que os sentidos não são dignos de confiança e em muitos casos apenas causadores de enganos. Em seu poema, uma deusa, simbolizando a verdade que se revela, comunica-lhe os três caminhos ou maneiras de pensar a physis:

1) o caminho da verdade absoluta;

2) o caminho das opiniões erradas e

3) o caminho da opinião plausível

Parmênides inicia seu raciocínio com a seguinte afirmação: "o ser é e não pode não ser, o não ser não é e não pode ser de modo algum". Em seu discurso, o filósofo coloca estes princípios de modo absoluto, ou seja, o ser é positivo puro e o não ser negativo puro; um é o absoluto contraditório do outro, ou seja, havendo ser é absolutamente impossível que haja o não-ser. Para Parmênides, tudo aquilo que alguém pensa e diz, é. Não é possível pensar ou dizer, senão pensando e dizendo o que é. O contrário, pensar nada ou dizer nada, significa não pensar e não dizer nada. Por isso, nada é impensável e indizível. Assim, pensar e ser é o mesmo.

Parmênides coloca que o ser é incriado e incorruptível; consequentemente não tem "passado", porque o passado é o que não é mais, nem "futuro", que ainda não é, sendo assim "presente eterno", sem início ou fim (conforme Reale, História da Filosofia).

O único possível para Parmênides é o Único ou Uno, que é infinito e indivisível. Não é, como em Heráclito, uma união dos contrários, já que não existem contrários no Uno de Parmênides. O Uno não é compreendido pelo filósofo assim como nós entendemos Deus; ele parece imaginar o Uno como algo corpóreo, expandido, na forma de uma esfera.

Zenão, discípulo de Parmênides, também nasceu em Eléia, entre o fim do século VI e princípio do século V a.C.. De seus escritos, só nos chegaram fragmentos. Todavia, pela tradição sabemos que Zenão descobriu a refutação da refutação, isto é, a demonstração por absurdo (mais tarde bastante usada para provar problemas de geometria). Desta forma, é que Zenão fundou o método da dialética, usando-a para defender as idéias de Parmênides. Famosos foram os argumentos de Zenão para:

1) Negar o movimento

2) Negar que um corpo em movimento mais acelerado alcance outro em movimento menos acelerado

3) Negar que um corpo possa se deslocar no espaço

4) Negar que haja deslocamento no espaço em determinada medida de tempo

Longe de representarem falácias ou sofismas vazios, estes argumentos constituíram a base para outros raciocínios posteriores na filosofia.

Melisso, natural de Samos, viveu por volta de 440 a.C., foi político e discípulo de Parmênides (que também era político). Os principais pontos de sua filosofia foram os seguintes: o mundo é infinito, imutável e imóvel, uma unidade igual a si mesma. Não existe movimento, apenas na aparência. Mas também sobre os deuses não deve-se fazer muitos raciocínios, já que não existe conhecimento certo deles.

Empédocles era natural de Agrigento e teria vivido em torno de 440 a.C.. Banido de sua terra natal, Empédocles foi para o exílio e ocupou-se de ciência, política e religião. Compôs um poema "Sobre a Natureza" e durante sua vida foi médico, taumaturgo e místico. Morreu, provavelmente, jogando-se na cratera do vulcão Etna, pensando ser um deus imortal.
Empédocles coloca a água, o fogo, a terra e o ar como raízes de todas as coisas. Todavia, para o pensador estes elementos eram inalteráveis e qualitativamente imutáveis. Nesta visão, há quatro elementos que unindo-se dão origem as coisas e separando-se causam sua dissolução. A união ou desunião são causados por forças cósmicas, como o Amor ou a Amizade (philia) ou Ódio e Discórdia (neîkos). Em outra obra do pensador "Carme lustral", este desenvolve suas concepções órficas, apresentando-se como profeta e mensageiro, perde-se em divagações religiosas, defendendo a metempsicose e outras idéias baseadas no orfismo, seita religiosa contando com bastante aceitação entre os letrados da época.


Filosofia atomista

Leucipo de Mileto viveu por volta do V século a.C., tendo emigrado de Mileto para a Eléia, onde conheceu a doutrina eleática. De Eléia foi para Abdera, onde fundou uma escola de filosofia. Leucipo, mais que Demócrito, foi provavelmente o criador do atomismo. Antepondo-se a Parmênides, Leucipo concebia os átomos, responsáveis tanto pela existência quanto pela inexistência do ser, e que, segundo ele, seriam responsáveis pelas criações das coisas.

Demócrito foi discípulo de Leucipo e seu grande seguidor na escola de Abdera. Nasceu em 460 a.C. e morreu em idade avançada. Consta que Demócrito adquiriu grande cultura, tendo estudado e viajado por diversos países de sua época, como o Egito, a Babilônia e, talvez, a Índia. Em contraposição a Parmênides, o atomismo de Demócrito afirma a possibilidade de não-ser, afirmando que o nascer nada mais é do que "um agregar-se de coisas que já existem" e o "morrer desagregar-se; o separar-se das coisas". "Todavia, em certo sentido os "átomos" estão mais próximos do ser eleático do que das "quatro raízes" ou elementos de Empédocles, porque são qualitativamente indiferenciados: todos eles são um "ser-pleno" do mesmo modo, sendo diferentes entre si somente na forma ou figura geométrica - e, como tais, mantêm ainda a igualdade do ser eleático de si consigo mesmo (absoluto, indiferença qualitativa). Os átomos dos abderitas, portanto, são a fragmentação do Ser-Uno eleático em infinitos seres-unos, que aspiram a manter o maior número possível de características do Ser-Uno eleático". (Reale em História da Filosofia).

Os Sofistas

Com os sofistas o interesse passa do universo, da physis, para a vida humana. Os sofistas foram educadores que lecionavam diversas disciplinas, geralmente para as classes abastadas, em troca de pagamento. Todavia, nem todos cobravam por seus ensinamentos. Estes filósofos foram os primeiros que se utilizaram do seu poder de persuasão e de seu conhecimento enciclopédico (para a época) para defender diversos pontos de vista, de acordo com a situação e o cliente. W.K.C.Guthrie, em sua obra "Os Sofistas", comenta sobre esta escola de pensamento: "Até época relativamente recente, a visão dominante, visão em que foi educado o estudioso de minha geração, é que Platão estava com razão em sua querela com os sofistas. Foi o que proclamou ser, o filósofo verdadeiro ou o amante da sabedoria. E os sofistas foram superficiais e destruidores, e, na pior das hipóteses, enganadores propositados e criadores de sofismas no sentido moderno do termo. Desde a década de trinta, assistimos, porém, a um movimento vigoroso para restaurar os sofistas e sua parentela como campeões do progresso e ilustração, e um afastamento de Platão como fanático reacionário, que, denegrindo sua reputação, assegurou a rejeição de seus escritos". Vê-se, portanto, que o pensamento sofista merece uma reavaliação, já que estabeleceram os seguintes pontos básicos, que daqui para frente balizarão toda a filosofia grega e, posteriormente, a filosofia Ocidental:

1) Humanismo: o pensamento filosófico volta-se para o homem. "O homem é a medida de todas coisas", afirmação de Protágoras, um dos grandes representantes da escola. Difunde-se a liberdade de opinião (influenciado pela democracia grega) e valoriza-se a capacidade do homem de argumentar.

2) Afastamento da religião e incorporação do laicismo, propiciando o aparecimento do agnosticismo e do ateísmo.

3) Relativismo moral (que nada tem a ver com imoralismo): em contato com outra civilizações, culturas e religiões, os gregos passam a encarar sua próprias convicções morais com mais liberalidade, colocando em cheque padrões absolutos (que, em verdade, nunca existiram de uma forma acentuada na civilização grega).

Os principais representantes do pensamento sofista foram Protágoras, Górgias e Pródico, todos voltados para a análise da condição humana. Foi a primeira vez na história da filosofia grega em que as explicações absolutas, sistemáticas e completas foram deixadas de lado, e os pensadores passaram a preocupar-se com a perspectiva humana; de cada humano.


Bibliografia
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(Imagem: fotografias de templos romanos)