"Não os encorajo, como o filósofo que se vale do martelo, a destruir enfim, por último e heróico esforço, as últimas superstições que repousariam ainda nas ciências e na democracia. É a definição mesma do monstro, da barbárie, dos ídolos, do martelo e da ruptura, que é preciso ser novamente retomada. Nunca houve bárbaros; nós nunca fomos modernos, nem mesmo em sonho - sobretudo em sonho!" - Bruno Latour - Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches
Em 2013 o livro A
Origem das Espécies, com o qual o cientista Charles Robert Darwin lançou a
teoria da evolução, completou 154 anos. Publicado inicialmente em Londres, em
novembro de 1859, com o nome Sobre a origem
das espécies através da seleção natural, ou a preservação de raças favorecidas
na luta pela vida, o trabalho de Darwin representa um marco importantíssimo
na Ciência.
A idéia da evolução no mundo natural é relativamente
recente. Até o século XVIII poucas pessoas admitiam a possibilidade de que
podiam ocorrer mudanças na natureza. Todavia, com o desenvolvimento de ramos da
ciência como a geologia e a paleontologia, os cientistas foram percebendo que o
mundo havia mudado bastante durante as sucessivas eras. As rochas e os fósseis
traziam informações de uma Terra diferente, povoada por animais e plantas que
não mais existiam. Por que os seres vivos se transformavam ao longo do tempo?
Haveria algum elo entre as espécies atuais e aquelas encontradas nos fósseis? (Ou
seriam apenas animais que Deus não colocou na Arca de Noé, como diziam alguns
religiosos da época?) O que faltava era desenvolver uma teoria que explicasse
como estas alterações ocorriam.
Charles Darwin nasceu em 1809, na Inglaterra. Iniciou
estudos de medicina, que depois abandonou, tentando uma carreira eclesiástica
que também não terminou. Interessado no estudo da biologia, participou de uma
viagem exploratória do navio MS Beagle, que durou de 1831 até 1836 e que lhe
deu a oportunidade de estudar várias espécies de animais e plantas de todo o
mundo. Ao voltar, tendo reunido muito material, Darwin pesquisou e aprimorou
sua teoria durante mais de 20 anos, até que a tornou pública através livro A origem das espécies, em 1859. A “teoria da
evolução”, como foi chamada, tornou-se uma das mais sólidas explicações de certos
fatos em toda a história da Ciência, tendo sido comprovada por várias outras
descobertas feitas por muitos outros cientistas, ao longo dos últimos 150 anos.
A teoria de Darwin diz que nenhum indivíduo de uma mesma espécie
– sejam formigas, aves, ratos ou humanos – é igual ao outro. Sempre haverá uma
mínima diferença entre um indivíduo e outro; fato confirmado pela moderna
genética. Estas diferenças – mínimas mutações genéticas transmitidas aos
descendentes – podem se acentuar e transformar os sucessores em uma espécie diferente,
desde que ao longo das gerações consigam sobreviver em seu meio ambiente (que
também pode mudar) e aos competidores. Isolamento geográfico parece ter sido um
dos mais importantes fatores na formação de novas espécies.
As mutações que provocam a gradual diferença entre
indivíduos da mesma espécie são, entretanto, completamente aleatórias; não são
provocadas por nenhuma lei ou força ou propósito. Este é a parte revolucionária
e perigosa do pensamento de Darwin: as espécies transformam-se ou desaparecem
sem que haja por trás deste processo qualquer objetivo, qualquer programa
pré-definido. A conclusão pode parecer estranha, mas é assim mesmo que a
evolução funciona. O “projeto inteligente” (intelligent design), concepção
segundo a qual haveria uma intenção (divina) por trás da evolução, não tem
fundamento na história da evolução.
Ainda com relação a isso, Darwin evitava usar a expressão “evolução”,
que dá idéia de melhoria, preferindo usar o termo “transmutação”.
Hoje, passados mais de 150 anos do lançamento da Evolução das Espécies, ainda existem
opositores da teoria. Para a Ciência, todavia, a teoria já está bastante
comprovada. Sem ela não seriam possíveis os grandes avanços na biologia,
genética, medicina, ecologia e várias outras ciências.
(Imagens: fotografias de Otto Umbehr)
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