"It´s really that simple. No one is above you, telling you what to do. All of the 'purpose' is within you and nowhere else. You´ve been born into a world where previous generations have left you a toolbox that they used to build their lives, and the next generation will simply use whatever you leave them, if anything, and they will find their own purposes, with no sense of obligation to yours. It´s beautiful. It´s open. No purpose is the best kind of purpose there is." - P Z Myers - The happy atheist
O espectro da fome sempre assustou a humanidade. Em algumas
casas no interior do Brasil ainda encontramos antigos quadros que retratam
Nossa Senhora, encimada pelos dizeres: “Nossa Senhora livrai-nos da guerra, da
peste e da fome.” Memória de antigos tempos, principalmente na Europa, quando
parte da população rural vivia sob a ameaça destas três pragas da humanidade.
No Brasil também houve crises de fome em diversas épocas, principalmente no
interior do Nordeste, o que provocou mortes, desagregação social e o consequente deslocamento de grandes
contingentes populacionais para as capitais situadas no litoral.
Um dos maiores estudiosos do problema da fome no Brasil foi
o médico, professor, sociólogo e escritor Josué de Castro. Se ainda fosse vivo,
completaria 105 anos em 2013. O grande mérito deste intelectual foi estudar o
problema da fome e de suas causas. Não somente sob o aspecto histórico, mas
utilizando-se dos mais avançados conceitos da bioquímica e da fisiologia de sua
época. Com suas análises, Josué de Castro abriu novos campos de estudo na
sociologia, geografia, antropologia e economia. Já na década de 1930, o grande
cientista identificaria claramente as razões da formação dos mocambos
(habitações pobres) nos mangues de Recife. “Por
exemplo, não pode haver dúvida”, escreve Josué de Castro, “de que uma das causas diretas da miséria
urbana de Recife é o estado de miséria rural condicionado pelo latifundismo da
cana-de-açúcar. Na grande área do Estado, de monocultura açucareira, vive a
população trabalhadora num estado de grande pauperismo, resultados dos ínfimos
salários pagos nesta zona”. (Josué de Castro, 1965).
O estudioso descreve
assim, uma das causas da desestruturação urbana de Recife e de suas
conseqüências; cujas origens estavam nos problemas fundiários localizados no
interior do estado. Ainda hoje, o Brasil se ressente de um ordenamento dos problemas
urbanos – falta de transportes, segurança, saneamento, saúde e educação – em
parte originados pelo deslocamento de grandes massas populacionais do campo, à
procura de melhores condições de vida na cidade. Para agravar a situação o
estado, em seus três níveis administrativos, não alocou recursos suficientes
para fazer frente a estes problemas, colocando os grandes centros urbanos na
situação em que se encontram atualmente.
Autor de várias obras tratando do problema da fome e da
pobreza no Nordeste, Josué de Castro lançou seu principal livro em 1951,
intitulado Geografia da Fome. Seu
conhecimento do problema era tão profundo, que em 1952 foi eleito presidente da
FAO (organização das Nações Unidas dedicada à agricultura e aos alimentos).
Terminada sua gestão na FAO, Josué de Castro voltou ao Brasil, onde ingressou
na política e desenvolveu um Plano Nacional de Alimentação. Eleito embaixador
em Genebra em 1962, tem seus direitos caçados pela Revolução de 1964. Depois
disso, impedido de voltar à sua pátria, torna-se professor universitário em
Paris, onde vive até a sua morte em 1973.
A obra de Josué de Castro ainda inspira estudos especializados
no Brasil e no exterior, como um dos maiores pesquisadores do problema da fome
– ainda mais agora quando este problema volta a ameaçar muitas regiões do
globo. Um dos pioneiros também na questão ambiental relacionada com o
desenvolvimento e a geopolítica, os livros de Josué de Castro merecem ser
conhecidos por todos aqueles que se preocupam com a situação social no Brasil e
a questão alimentar no mundo.
(Imagens: fotografias de Arnold Genthe)
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