A atualidade do pensamento de Josué de Castro

sábado, 4 de janeiro de 2014
"It´s really that simple. No one is above you, telling you what to do. All of the 'purpose' is within you and nowhere else. You´ve been born into a world where previous generations have left you a toolbox that they used to build their lives, and the next generation will simply use whatever you leave them, if anything, and they will find their own purposes, with no sense of obligation to yours. It´s beautiful. It´s open. No purpose is the best kind of purpose there is."  -  P Z Myers  -  The happy atheist

O espectro da fome sempre assustou a humanidade. Em algumas casas no interior do Brasil ainda encontramos antigos quadros que retratam Nossa Senhora, encimada pelos dizeres: “Nossa Senhora livrai-nos da guerra, da peste e da fome.” Memória de antigos tempos, principalmente na Europa, quando parte da população rural vivia sob a ameaça destas três pragas da humanidade. No Brasil também houve crises de fome em diversas épocas, principalmente no interior do Nordeste, o que provocou mortes, desagregação social e o consequente deslocamento de grandes contingentes populacionais para as capitais situadas no litoral.
Um dos maiores estudiosos do problema da fome no Brasil foi o médico, professor, sociólogo e escritor Josué de Castro. Se ainda fosse vivo, completaria 105 anos em 2013. O grande mérito deste intelectual foi estudar o problema da fome e de suas causas. Não somente sob o aspecto histórico, mas utilizando-se dos mais avançados conceitos da bioquímica e da fisiologia de sua época. Com suas análises, Josué de Castro abriu novos campos de estudo na sociologia, geografia, antropologia e economia. Já na década de 1930, o grande cientista identificaria claramente as razões da formação dos mocambos (habitações pobres) nos mangues de Recife. “Por exemplo, não pode haver dúvida”, escreve Josué de Castro, “de que uma das causas diretas da miséria urbana de Recife é o estado de miséria rural condicionado pelo latifundismo da cana-de-açúcar. Na grande área do Estado, de monocultura açucareira, vive a população trabalhadora num estado de grande pauperismo, resultados dos ínfimos salários pagos nesta zona”. (Josué de Castro, 1965). 
O estudioso descreve assim, uma das causas da desestruturação urbana de Recife e de suas conseqüências; cujas origens estavam nos problemas fundiários localizados no interior do estado. Ainda hoje, o Brasil se ressente de um ordenamento dos problemas urbanos – falta de transportes, segurança, saneamento, saúde e educação – em parte originados pelo deslocamento de grandes massas populacionais do campo, à procura de melhores condições de vida na cidade. Para agravar a situação o estado, em seus três níveis administrativos, não alocou recursos suficientes para fazer frente a estes problemas, colocando os grandes centros urbanos na situação em que se encontram atualmente.
Autor de várias obras tratando do problema da fome e da pobreza no Nordeste, Josué de Castro lançou seu principal livro em 1951, intitulado Geografia da Fome. Seu conhecimento do problema era tão profundo, que em 1952 foi eleito presidente da FAO (organização das Nações Unidas dedicada à agricultura e aos alimentos). Terminada sua gestão na FAO, Josué de Castro voltou ao Brasil, onde ingressou na política e desenvolveu um Plano Nacional de Alimentação. Eleito embaixador em Genebra em 1962, tem seus direitos caçados pela Revolução de 1964. Depois disso, impedido de voltar à sua pátria, torna-se professor universitário em Paris, onde vive até a sua morte em 1973.
A obra de Josué de Castro ainda inspira estudos especializados no Brasil e no exterior, como um dos maiores pesquisadores do problema da fome – ainda mais agora quando este problema volta a ameaçar muitas regiões do globo. Um dos pioneiros também na questão ambiental relacionada com o desenvolvimento e a geopolítica, os livros de Josué de Castro merecem ser conhecidos por todos aqueles que se preocupam com a situação social no Brasil e a questão alimentar no mundo.         
(Imagens: fotografias de Arnold Genthe) 

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