evitem os inúteis disfarces,
os disfarces com que os vivos,
só por piedade consigo,
procuram apagar no Morto
o grande castigo da Morte"
Pedro Nava - O defunto
2014 é ano eleitoral. O Brasil terá eleições no Legislativo, para senadores, deputados federais e estaduais; e no Executivo, para governadores e presidente. Por isso, seremos bombardeados pela propaganda eleitoral obrigatória, que nos é impingida pela legislação criada pelos próprios políticos. Teremos que aturar candidatos tentando nos convencer de qualidades que geralmente não têm. Um verdadeiro “show de calouros da política”: meias verdades, empulhações, mentiras deslavadas... No entanto, é melhor conviver temporariamente com este espetáculo, às vezes até engraçado, do que não ter liberdade política, como no período da ditadura militar. Outro aspecto positivo nesta história é que somente uma parte dos candidatos será eleita; por sorte ainda não existem tantos cargos para tanta gente, toda ela sustentada por nossos impostos.
A atração menos enfadonha do período eleitoral são os
debates transmitidos ao vivo pela TV, geralmente para cargos executivos;
governadores e presidente. Vez ou outra ocorre que um dos debatedores levanta
questões mais importantes e decisivas, forçando a outra parte a dar respostas
claras e objetivas. Tal situação, todavia, é rara ocorrer, já que a maneira
como os debates são organizados pelas emissoras de TV, de comum acordo com os
partidos e as assessorias dos candidatos, cria condições para que os participantes
passem incólumes pelas discussões. Rara a situação em que o candidato seja
colocado em uma situação, na qual efetivamente tenha que se pronunciar sobre
algo importante, ou assumir uma posição definida em relação a algum tema
crítico. Assessores e canais de TV cuidam para que isso não aconteça.
Mas o que se espera é que nesta campanha eleitoral os candidatos
sejam colocados sob mais pressão. Enquanto ficar o dito pelo não dito, os
políticos, depois de eleitos, terão sempre condições de fazer exatamente o
contrário daquilo que declararam ou prometeram durante a campanha eleitoral.
“Não foi bem isso que eu disse”, “Na prática as condições são diferentes”, são
desculpas que já conhecemos há tempo.
Para controlar melhor os candidatos aos cargos eletivos, é necessário aplicar-lhes o “princípio da entrevista para emprego”. Atualmente, principalmente nas empresas de grande porte, o candidato – além de ter que apresentar diplomas e credenciais de experiência anterior – é submetido a uma série de exames (inclusive de sanidade mental), sem contar as entrevistas com o departamento da empresa que dispõe da vaga pretendida pelo candidato. Assim, a fase de campanha eleitoral poderia ser algo parecido à disputa de uma vaga de emprego para o político. De certo modo, é exatamente o que ele pretende: amealhar uma vaga para um emprego bem pago, com diversos benefícios (salário mensal, 14º e 15º salários, ajuda de custo, auxílio-moradia, reembolso de despesas médicas, verba de gabinete, carro oficial, verbas para impressão, etc.,) afora outras eventuais vantagens.
Trata-se, sem dúvida, de um “empregão”, caso contrário não
haveria tantos candidatos. E o melhor deste cargo é que a aposentadoria é muito boa
e o “funcionário” não pode ser facilmente demitido, como o são os empregados
do setor privado. Portanto, nestas eleições façamos diferente: examinemos o
currículo do candidato como o fazem as empresas, analisemos suas aptidões e até
sua sanidade mental (em alguns casos bastante afetada). Porque, para todos nós que somos
contribuintes, cargo político é coisa séria, e não “show de calouros”.
(Imagens: fotografias de Brett Weston)
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