"Pelo que podemos dizer, toda a atividade do cérebro é impelida por outra atividade no cérebro, em uma rede amplamente complexa e interligada. Bem ou mal, isto parece não deixar espaço para nada além de atividade neural - isto é, não há espaço para um fantasma na máquina." - David Eagleman - Incógnito - As vidas secretas do cérebro
Voltam as férias de verão e novamente
enchem-se as praias com turistas de todas as partes do País. A odisséia já tem
início no planalto, onde os viajantes começam enfrentando longos
congestionamentos em grande parte provocados pelos pedágios. Passado o pedágio
começa a viagem, que às vezes pode durar mais de cinco horas para vencer em
torno de 100
quilômetros , dependendo do local para onde vai o
resoluto viajante. Depois do calor, sede, fome, nervosismo e, eventualmente,
"arrastões", o bravo turista chega finalmente ao seu destino. E aí
começa a descarregar o carro e arrumar a bagagem porque no dia seguinte, bem
cedo, vai à praia. A cidade já está completamente tomada por veranistas, que
também vieram aproveitar as férias. Supermercados, restaurantes, padarias,
farmácias e qualquer outro local onde se venda algo para comer ou beber estão apinhados de pessoas irritadas,
suadas e cansadas, querendo pegar logo o que precisam e sair o mais rápido possível dali.
Este o quadro do turismo de verão no
Brasil: congestionamentos, grandes massas humanas ocupando cidades sem a
suficiente infraestrutura e segurança. Isto sem falar da falta de hospitais, postos médicos
e atendimento de urgência. Basta ter o azar de precisar de atendimento clínico
de emergência para si ou para algum familiar e constatar a precariedade do
sistema de saúde da quase totalidade das cidades litorâneas – com raras
exceções. Pergunto-me o que prefeitos de cidades praianas, que além de tudo
ainda recebem verbas do pré-sal, fazem com estes significativos recursos, que
muitas vezes chegam a 20% ou 30% do orçamento anual do município.
Outro aspecto é a questão da preservação
dos recursos naturais. Apesar dos esforços de muitos municípios,
disponibilizando lixeiras e varrendo diariamente as praias, turistas continuam
a sujar a orla marítima com todo tipo de detrito: pontas de cigarros, fraldas
descartáveis, embalagens, restos de comida e muito, muito mais lixo. Na beira da
água, por entre banhistas e praticantes de esportes – nem todos permitidos
naquele horário – circulam os caçadores de corruptos. Explico: corruptos são pequenos
crustáceos que vivem na areia e são usados como isca para a pesca. (Os
verdadeiros corruptos estão sãos e salvos, muito longe de qualquer ameaça). Não
se sabe se estes pescadores de fim de semana têm autorização para pescar em
meio aos banhistas; mesmo porque não existe qualquer fiscalização por parte das
prefeituras.
Em dias de mar calmo os barcos dos
pescadores locais aproveitam a falta de ondas e jogam suas redes a curta
distância da praia, colocando em perigo os surfistas e outras embarcações que
eventualmente circulam pela área. A fiscalização destas atividades deve ser
feita pela Marinha, que provavelmente não dispõem de recursos humanos ou de
equipamentos para cumprir este papel.
Assim são as férias de verão na maior parte
das cidades litorâneas do Brasil: confusão, desorganização, ausência do poder
público. A coisa só não é pior porque grande parte dos turistas tem muita
paciência e procura agir de maneira civilizada. Mas permanece o fato de que a cada
verão o veranista paga muito caro por suas curtas férias; em todos os aspectos.
Como serão os verões daqui a 5 ou 10 anos, quando aumentar mais ainda a
demanda por infraestrutura e serviços? Afinal, o que espera o poder público
para começar a planejar e fazer algo desde já? Não temos exemplos suficientes de falta de organização e incapacidade administrativa - que o digam os turistas que virão assistir a Copa de futebol?
(Imagens: fotografias de Teóphile Auguste Stahl)
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