Aparício Torelly (Barão de Itararé)

domingo, 26 de fevereiro de 2023


 

Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé (Rio Grande29 de janeiro de 1895 — Rio de Janeiro27 de novembro de 1971), foi um jornalistaescritor e pioneiro no humorismo político brasileiro.

Sua mãe, Maria Amélia, filha de um estadunidense descendente de russos, teve morte trágica, suicidou-se quando tinha 18 anos e ele 18 meses; seu pai, filho de um italiano com uma gaúcha, enviou-o a um internato jesuíta em São Leopoldo (RS). Apparício Torelly iniciou-se no humorismo em 1908 no jornalzinho "Capim Seco", do colégio onde estudava, satirizando a disciplina dos padres jesuítas de São Leopoldo.

Em 1918, durante suas férias, sofre um AVC quando andava na fazenda de um tio. Abandona o curso de Medicina no quarto ano e começa a escrever. Publica sonetos e artigos em jornais e revistas, como a “Revista Kodak”, "A Máscara" e "Maneca". Em 1925 entra para “O Globo” de Irineu Marinho. Com a morte de Irineu, Apporelly foi convidado por Mário Rodrigues (pai de Nelson Rodrigues) a ser colaborador do jornal “A Manhã”. 

Ainda em 1925, no mês de dezembro, Apparício Torelly estreava na primeira página com seus sonetos de humor que, geralmente, tinham como tema um político da época. Sua coluna humorística fez sucesso e também na primeira página, em 1926, começou a escrever a coluna "A Manhã tem mais…". Neste mesmo ano criou o semanário que viria a se tornar o maior e mais popular jornal de humor da história do Brasil. Bem ao seu estilo de paródias, o novo jornal da capital federal tinha o nome de “A Manha”, e usava a mesma tipologia do jornal em que Apparício trabalhava, sem o til, fazendo toda diferença, que era reforçada com a frase ladeando o título: "Quem não chora, não mama". Para estréia tão libertadora, Apporelly não perdeu a data de 13 de maio de 1926. “A Manha” logo virou independente.

Durante a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas partiu de trem rumo à capital federal, então o Rio de Janeiro, propagou-se pela imprensa que haveria uma batalha sangrenta em Itararé. Isto foi vastamente divulgado na imprensa. Apporelly não ficou de fora desta tendência. Esta batalha ocorreria entre as tropas fiéis a Washington Luís e as da Aliança Liberal que, sob o comando de Getúlio Vargas, vinham do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder. A cidade de Itararé fica na divisa de São Paulo com o Paraná, mas antes que houvesse a batalha "mais sangrenta da América do Sul", fizeram acordos. Uma junta governativa assumia o poder no Rio de Janeiro e não aconteceu nenhum conflito. Na verdade, em outubro de 1930, Apparício se autodeclarara “Duque” nas páginas de “A Manha”: Mas como ele próprio anunciara semanas depois, "como prova de modéstia, passei a Barão."

Na manhã de 19 de outubro de 1934, Apparício  saía de casa em Copacabana, no número 188 da rua Saint-Romain, rumo ao Centro, onde trabalhava, quando seu carro, um Chrysler, foi interceptado por dois veículos. Cinco homens, alguns deles armados, sequestraram o editor do Jornal do Povo.

"Tem família?", perguntou um dos sequestradores, já com os carros batendo em retirada. "Isso não vem ao caso", respondeu o sequestrado. "Nem é da conta dos senhores". "Escreva despedindo-se", continuou o sujeito. "É um favor que lhe prestamos". "Dispenso-o", retrucou a vítima.

Logo, Torelly descobriu que os homens que se diziam policiais eram, na verdade, oficiais da Marinha. Estavam indignados com a publicação de um folhetim sobre a Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Cândido (1880-1969), o Almirante Negro. Como Torelly se recusou a suspender a publicação, que denunciava os maus-tratos na Marinha, foi espancado.

Os sequestradores cortaram seus cabelos, furaram os pneus de seu carro e o abandonaram, quase nu, num local deserto. Na tarde daquele mesmo dia, uma sexta-feira, depois de voltar para a redação, Torelly pendurou, na porta de sua sala, uma placa com os dizeres: "Entre sem bater".

O jornal “A Manha” circulou até fins de 1935, quando o Barão foi preso por ligações com o Partido Comunista Brasileiro, então clandestino. Foi libertado em dezembro de 1936, já ostentando a volumosa barba que cultivaria por boa parte de sua vida. Retomou o jornal por um curto período, até que viesse nova interrupção, ao longo de todo o Estado Novo e voltando em edições espasmódicas até 1959.

No mês de novembro de 1935, uma parte da ANL sob a liderança do PCB iniciou em Natal, em Recife e no Rio de Janeiro uma insurreição armada, que acabou sufocada em pouco tempo pelas forças governamentais. Seguiu-se ao levante uma onda de repressão sobre os aliancistas e A Manha deixou de circular em 1936, com a prisão de Torelli, acusado de participação na rebelião. Após a instauração do Estado Novo (1937-1945) em novembro de 1937, Torelli foi companheiro de cela no presídio da rua Frei Caneca do escritor Graciliano Ramos, que o citou em seu livro “Memórias do cárcere”. Na ocasião Torelli declarou a Graciliano que havia adotado inicialmente o título de duque de Itararé, passando depois a barão “como prova de modéstia”.

Depois de libertado, foi delegado do Distrito Federal ao I Congresso Brasileiro de Escritores, que se realizou em São Paulo, promovido pela Associação Brasileira de Escritores, de 22 a 27 de janeiro de 1945. O congresso, que reuniu expressivo número de intelectuais de variadas tendências políticas e emitiu uma declaração em favor da democracia e das liberdades públicas, constituiu uma contundente tomada de posição contra o Estado Novo. Quando do decreto de anistia de 18 de abril de 1945, pelo qual foi beneficiado, Aparício Torelli declarou: “A anistia é um ato pelo qual os governos resolvem perdoar generosamente as injustiças e os crimes que eles mesmos cometeram.”

Recriou “A Manha” em 1946 e nessa nova fase o jornal contava entre seus colaboradores com Rubem Braga, José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda, Carlos Lacerda, Raul Lima e Pompeu de Sousa.

Torelli elegeu-se vereador pelo Distrito Federal, na legenda do PCB, nas eleições de janeiro de 1947. Com o cancelamento do registro do partido em maio de 1947 e a posterior cassação dos parlamentares comunistas em janeiro de 1948, perdeu o mandato. Nessa época colaborou no jornal “Para Todos”, quinzenário de cultura brasileira, dirigido por Jorge Amado, e lançou também o “Almanaque”. A “Manha” perdurou até 1957, quando Torelli deixou o jornalismo para se dedicar a viagens durante as quais fazia palestras.

Em 1963 visitou a República Popular da China como conferencista. Poucos anos depois, doente, passou a viver em seu apartamento no Rio de Janeiro, de onde raramente saía. Faleceu nessa mesma cidade em 27 de novembro de 1971.

 

Frases de Aparício Torelli (Barão de Itararé):

 

“Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.”;

De onde menos se espera, daí é que não sai nada.”;

Quem empresta, adeus.”;

Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.”;

Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.”;

Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.”.

 

 

(Fontes: Wikipedia; BBC News Brasil; FGV CPDOC; Revista BULA)

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