O novo governo e a questão ambiental

sábado, 13 de novembro de 2010
"Nunca, desde que me dei por gente, já disse "Senhor!" para alguém. E como é fácil dizer "Senhor!", quão grande é a tentação. De centenas de deuses me aproximei, e a cada um deles olhei no rosto e com ódio pela morte de seres humanos" -  Elias Canetti - Sobre a morte

Passaram-se as eleições e o País volta à sua rotina normal. A candidata eleita e seu partido começam a escolher sua equipe de governo e dão algumas indicações de como – e com quem – pretendem governar a nação. Esta é a hora em que os ganhadores analisam e discutem os pedidos de todos aqueles que ofereceram apoio político durante a campanha. Fato perfeitamente normal, que acontece em qualquer democracia. O problema é quando ministérios, autarquias e estatais são loteados e transformados em cabide de emprego para políticos e protegidos; gente que muitas vezes não tem preparo profissional ou moral para ocupar estes postos na administração pública. O mandato começa em 1º de janeiro de 2011, mas o novo governo já precisa ser montado e estabelecer suas prioridades, algumas brevemente mencionadas por Dilma em seu discurso de vitória.
Durante a campanha presidencial tanto  Serra quanto Dilma pouco falaram da questão ambiental. Se o assunto foi mencionado, isto aconteceu somente como tema de fundo de algum pronunciamento. Faltaram – de ambos os candidatos finalistas – colocações claras sobre seu posicionamento em relação às mudanças pretendidas no Código Florestal, tema que conta com cada vez menos apoio. Pouco se falou concretamente da questão do saneamento, apenas mencionado no contexto do PAC. Faltou discutir a necessidade de desenvolvimento de um plano nacional de uso dos recursos hídricos, iniciativa de máxima importância em um país que tanto depende da agricultura e de hidrelétricas. Também não falaram os candidatos sobre o que pensam em relação ao desenvolvimento da matriz energética brasileira, nem mencionaram como pretendem associar o desenvolvimento da região amazônica com a preservação de seus recursos naturais. A implementação da Lei Nacional de Resíduos Sólidos não foi sequer mencionada em qualquer discussão.
Por coincidência, realizou-se exatamente durante o período eleitoral brasileiro a décima Conferência sobre Biodiversidade, em Nagóia, no Japão. No relatório final do encontro, divulgado alguns dias depois, fica evidente que a situação ambiental em todo o mundo é preocupante. Já é consenso entre os especialistas, que a quantidade de recursos naturais necessários para manter a população mundial é maior do que sua disponibilidade – precisamos de 25% mais.
Os estoques mundiais de água, pescados, florestas e solos cultiváveis estão diminuindo rapidamente.
Por outro lado, com o aumento crescente da população, a procura destes recursos só tenderá a aumentar. A falta de áreas de expansão para a agricultura e a escassez de água provocarão aceleração da pobreza mundial, que já está crescendo devido à crise econômica pela qual passam muitos países. Uma das mensagens da Conferência – direcionada principalmente a nações em ritmo de rápido crescimento, como a China, a Índia e o Brasil – é que é preciso pensar no desenvolvimento sustentável, “crescer sem comprometer as condições de crescimento das próximas gerações”.
Este é o desfio do próximo governo na área ambiental: aliar o crescimento econômico com a preservação dos recursos naturais. Não se trata da preservação pela preservação. Trata-se da conservação de riquezas que serão muito importantes para a sociedade brasileira no futuro. O crescimento a todo custo tendo como referência somente o PIB, o produto interno bruto, deve ser substituído por um desenvolvimento baseado no IDH, o índice de desenvolvimento humano.
(imagens: pinturas maia e azteca)

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