Manuel Bandeira

sábado, 17 de março de 2018

(publicado originalmente na página da Academia Peruibense de Letras no Facebook)

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho, o poeta Manuel Bandeira (1886-1968), nasceu no Recife. Estudou arquitetura na Escola Politécnica em São Paulo, mas a tuberculose, que se manifesta muito cedo, o impede de terminar os estudos. Sempre voltado à poesia, passa uma temporada em um santório na Suíça onde conhece poetas europeus. Apesar de não participar da Semana Modernista (1922) tem constante contato com os integrantes do movimento, principalmente Mário de Andrade.

Vivendo no Rio de Janeiro, torna-se professor de literatura do tradicional colégio Pedro II e membro da Academia Brasileira de Letras (1940). Sempre escrevendo para os grandes jornais cariocas e a imprensa especializada, Bandeira também publica diversos livros de poemas, antologias, traduções, crônicas e contribuições para outras publicações.

Algumas de suas mais importantes obras são: "Cinza da Horas", "Carnaval", "Libertinagem", "Estrela da manhã", "Estrela da tarde" e "Estrela da vida inteira". Do livro de poemas "Libertinagem", destacamos o poema: 


Profundamente 

Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas. 

No meio da noite despertei 
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco 
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas? 

- Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo 
Profundamente 

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci 

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles? 

- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente 

(Imagem: fotografia de Manuel Bandeira - Fonte: Bússola de Livros)

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