Diversas questões levantadas pela Covid-19

sábado, 14 de novembro de 2020

 

"Nós não entramos neste mundo; saímos dele, como as folhas de uma árvore."   -   Aksapada   -   The Tao of Alan Watts


A Covid-19 é uma das maiores pandemias que afetaram a humanidade até hoje. Pela primeira vez na história, de uma maneira quase instantânea, todos os cantos do planeta foram abalados pela chegada da doença. A gripe espanhola de 1918-1919 também impactou muitos países; a Europa, os Estados Unidos e a China principalmente, mas muitas regiões, de difícil acesso à época, ficaram livres da doença. Hoje, de uma forma rápida, o vírus Covid-19, transportado por usuários de aviões, trens, automóveis, navios, atingiu quase a totalidade dos locais habitados do mundo, chegando inclusive às aldeias mais remotas e às tribos isoladas.  

Os tipos de impacto desta pandemia são variados; não se trata apenas de uma ocorrência envolvendo a saúde pública. A necessidade de isolamento ou limitação do contato entre as pessoas, já teve um efeito muito grande na economia mundial, desde a produção e distribuição, até a venda de produtos e prestação de serviços. Lazer, alimentação, ensino, tratamento médico, deslocamentos e trabalho, tiveram que se adaptar à nova situação e desenvolver formas que limitassem o contato interpessoal.


Ao mesmo tempo, toda esta situação acabou mostrando aspectos das sociedades, que em tempos normais vinham sendo tratados como problemas menores do relacionamento humano. O isolamento das pessoas, sozinhas, em família ou em pequenos grupos, fez com que aflorassem com mais frequência casos de violência doméstica, abuso de álcool e drogas, casos de depressão e suicídio. Nas cidades, a necessidade de isolamento das populações mostrou que nos bairros pobres das periferias e dos morros, grande parte dos moradores não têm acesso ao saneamento, nem ao menos à água tratada.

O aspecto da injusta distribuição dos recursos econômicos no Brasil também foi colocado a nu durante a pandemia, principalmente em seu período mais agudo. Milhões de pessoas, sem emprego e renda, ficaram em uma situação desesperadora, em difíceis condições de sobrevivência. Com quase toda a atividade econômica paralisada, parte considerável da população ficou sem qualquer rendimento, impossibilitada de comprar alimentos e outros itens de necessidade básica. Por iniciativa dos deputados de oposição, o governo se viu compelido a concordar com a distribuição de um auxilio emergencial, durante certo período. Toda esta situação trouxe de volta, tanto no Brasil quanto no mundo, a discussão sobre uma renda básica universal; um pagamento mensal a todo e qualquer cidadão, rico ou pobre, empregado ou desempregado, destinada a atender às suas necessidades básicas. Se não avança muito a discussão, pelo menos o tema está constantemente sendo abordado e estudado. A ideia é possibilitar a todo cidadão condições para que, não importa a atividade que tenha ou venha a exercer, sua sobrevivência básica esteja garantida.


A questão da instituição de um serviço gratuito universal de saúde, mantido pelo Estado, se tornou mais importante. A diferença na forma como a Covid-19 foi enfrentada em países como a Alemanha, que tem um dos melhores serviços de saúde do mundo, e os Estados Unidos, que não tem serviço público de saúde, ficou patente. O papel do Estado é primordial para assegurar atendimento médico a todo cidadão, principalmente àqueles que não dispõe de recursos. Mais ainda em situações de calamidade pública como a que enfrentamos.

A proteção dos recursos naturais é outro tema que chamou a atenção de empresários, governos e cientistas durante a pandemia. Estudos realizados por diversos organismos internacionais mostraram que a destruição de ecossistemas, pode fazer com que seus integrantes tentem sobreviver deslocando-se para outros ecossistemas e habitats – ou para outros hospedeiros, como no caso dos vírus do Covid-19, que encontrou um hospedeiro ideal nos sete bilhões de corpos humanos.

As sociedades humanas foram colocadas frente a frente com toda uma nova gama de situações pela pandemia. Problemas e desafios, os quais, de uma maneira ou outra, geralmente foram ignorados ou tratados como secundários. Não seria agora a hora de gradualmente se encaminhar soluções para estes dilemas? 


(Imagens: fotografias de Guido Guidi)

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