Leituras diárias

sexta-feira, 26 de abril de 2024


“Demorando-me longamente no estudo da sofística grega, pude aprender seu significado profundo, aprender sua lição aos filósofos de todos os tempos: a de que, em filosofia, tudo se pode provar. O que vale dizer que nada se prova verdadeiramente em filosofia.

Por isso mesmo, a pretensão dos grandes sistemas filosóficos a uma fundamentação definitiva de seus discursos, a uma posse legitimada da Verdade, pareceu-me apenas testemunhar de sua religiosidade essencial e profunda, ainda que laicizada. Ainda que eventualmente conjugada com uma profissão de fé ateia ou agnóstica. Na sua pretensão oracular de editar o Lógos eterno, apareceu-me que os filósofos continuam a comungar da crença grega na divindade da razão especulativa. Sacerdotes leigos de Zeus e intérpretes do Verbo divino, cada um deles proclama a única e verdadeira Sabedoria, no desprezo do ‘falso’ saber do homem comum e de suas opiniões mortais. E em cada um deles, assim, se consuma a filosofia. Libertado a duras penas do dogma da religião, a revelação dessa religiosidade filosófica deixou-me perturbado. E a hýbris filosófica não pôde seduzir o filósofos que trilhava, em busca da Verdade, os caminhos da filosofia.” (Pereira, pág. 31)

 

Oswaldo Porchat Pereira, Rumo ao Ceticismo

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