“Você
quer ser mais do que você é? Restrinja seus desejos, em vez de aumentá-los: não
importa se você não deseja nada ou se possui alguma coisa, dá na mesma. Você
obterá mais da moderação de sua mente do que poderia esperar da generosidade do
destino, pois a alma nunca é maior do que quando deixou de lado todas as coisas
estranhas e garantiu a paz para si mesma por não temer nada, desprezando riquezas
por não desejá-las.
Esse
é o caminho mais curto que você pode trilhar para atingir esse objetivo: é
desprezar a riqueza. Mas, uma vez que você abra a porta para a cobiça, se você
permitir que o desejo por coisas supérfluas entre, então nada poderá limitar
seus desejos. Alexandre era pobre mesmo
depois de conquistar (o império de) Dario e as Índias. Ha pessoas que desejam sempre
mais, depois de terem obtido tudo.
Se
você falhar, vítima desse tipo de hidropsia, nada jamais saciará sua sede;
novas aquisições serão apenas meios para outras. Você também acabará encontrando
essa desgraça, na qual coisas inúteis quase se tornarão necessárias para você.
Essa é a lição que (o filósofo fundador do estoicismo) Zenão deu após seu
naufrágio: ‘Muito bem da sua parte, Fortuna, por ter me levado à Filosofia’.
Foi também isto que levou (o filósofo cínico) Crates, o Tebano, a atirar o seu
dinheiro ao mar, aconselhado por Diógenes. Foi o que levou (o filósofo)
Xenócrates a enviar os trinta talentos de ouro de volta para Alexandria. Foi o
que convenceu (o filósofo) Demócrito (o primeiro, diz Plínio, que descobriu e
ensinou a relação do Céu e da Terra) a não ficar com nada do lucro que obteve
na especulação com azeite através da contemplação das estrelas (prevendo uma
safra ruim, comprou e estocou azeite), tendo desde então sido imitado nesta
mesma ação por Sexto, o Filósofo Romano. (Le Vahyer, pág. 128)
François de La Mothe Le Vayer (1588-1672), escritor e filósofo francês em Apart from the Crowd: Anti-Political and Contemplative Writings (Além da multidão: escritos antipolíticos e contemplativos)
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