É significativo que países de grande extensão territorial como
a Índia, a China e o Brasil disponham de grandes rios, que percorrem longas
distâncias, passando por diversas regiões. Os rios ajudaram a integrar extensas
regiões, permitindo que áreas isoladas pudessem ser incorporadas ao
desenvolvimento. Com o crescimento econômico ocorrido a partir dos anos 1950,
os rios foram usados para geração de energia elétrica, para abastecer com água
as muitas cidades situadas ao longo de suas margens e para descarregar milhares
de toneladas de efluentes domésticos, gerados diariamente por essas
aglomerações urbanas. Em uma fase seguinte, os rios passam a ser utilizados
para fornecer água às indústrias que se estabelecem às suas margens, para
depois receber imensos volumes de efluentes altamente tóxicos, gerados por
estas mesmas empresas.
A história da qual relatamos alguns aspectos acima é
praticamente a mesma, seja na Índia, na China ou no Brasil. O que varia é a
concentração populacional e a época em que esta começou a exploração dos rios.
Na fase mais recente de seu desenvolvimento, os três países lançaram grandes
projetos para canalização de rios e irrigação de extensas áreas, sujeitas a
longos períodos de seca. Alguns aspectos em comum nestes projetos, apontados
pela publicação especializada “Development and Cooperation” (Desenvolvimento e
Cooperação) de fevereiro de 2014, diz respeito ao alto custo das obras, ao seu alto
impacto ambiental e ao desrespeito dos direitos humanos.
Desde a década de 1970 a Índia vem discutindo a construção de uma
rede de canais, ligando mais de 30 grandes rios, com o objetivo de armazenar e
disponibilizar água para períodos de seca. A construção de grandes lagos e
barragens implica a inundação de áreas selvagens, de agricultura e até cidades,
em um país com altíssima densidade populacional. Outro aspecto desta situação é
que existem estados indianos que não querem ceder seus recursos hídricos para
projetos que beneficiem outros estados da federação. O custo dos projetos ainda
não foi estimado, mas, segundo os especialistas, dever ultrapassar o PIB anual
da Índia, além de ter diversos impactos ambientais e sociais.
A China iniciou em 2002 um projeto para bombear água do úmido
Sul para o seco Norte, através de três sistemas de canais e tubulações, com
centenas de quilômetros de extensão. O sistema irá trazer água da bacia do
Yangtzé para o rio Amarelo e o Grande Canal de Beijing, abastecendo as cidades,
a agricultura e as indústrias do Norte com 45 bilhões de metros cúbicos de água
por ano, a um custo de 80 bilhões de dólares – o maior projeto de transferência
de água na história da humanidade. O impacto ambiental e social deste projeto é
imenso, despertando muita oposição no país.
No Brasil, o projeto de transposição do Rio São Francisco,
iniciado em 2007 e previsto para inauguração em 2010, continua se arrastando. O
custo orçado do projeto quase dobrou, passando agora a 8,2 bilhões de reais. Prevê
a construção de mais de 700
quilômetros de redes e canais, além da formação de
represas, para atender uma população de 12 milhões de pessoas. Além de todos os
impactos ambientais e sociais, outra polêmica que cerca o projeto é com relação
à destinação da água: se esta será fornecida principalmente à população ou ao
agronegócio. O governo prevê entregar a obra até 2015. Será?
(Imagens: fotografias de Walker Evans)
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