Até quando continuará o desmatamento?

sábado, 22 de novembro de 2014
"...e cada um, tendo aceitado que a vida não é busca da verdade, que não existe ou nos será sempre inacessível, optará por passear de uma doutrina a outra, interminavelmente, como quem visita paragens distantes, saboreia receitas exóticas, mergulha em águas novas, deixando para trás o pathos da ignorância, seus malefícios, suas trevas ameaçadoras..."  -  Roger-Pol Droit  -  Se só me restasse uma hora de vida

O desmatamento no Brasil tem origens antigas. Populações indígenas que aqui estavam estabelecidas antes da chegada dos europeus, já praticavam a coivara para a formação de roças. Algumas tribos, como os xavantes, usavam o fogo como tática de guerra, segundo relato do sertanista Orlando Villas-Bôas. Mas, como a população indígena era diminuta e as queimadas limitadas a pequenos territórios, a prática tinha pouco impacto ambiental.
A destruição das florestas brasileiras começou com o avanço dos europeus sobre o ecossistema da Mata Atlântica, que originalmente se estendia do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, avançando para o interior do país e ocupando uma área de 1,3 milhões de km². A mata foi o local de extração do primeiro produto de exportação do país, o pau-brasil; madeira usada à época para tingir tecidos. Foi também na zona de influência da Mata Atlântica que se estabeleceram as primeiras cidades brasileiras e onde ainda hoje vive cerca de 80% da população. Até a década de 1950, grande parte da atividade econômica do Brasil – agricultura, mineração e a nascente indústria – estava concentrada em áreas originalmente ocupadas pelo bioma. O mesmo vale para os ciclos econômicos pré-industriais de nossa história; do pau-brasil, passando pela da cana-de-açúcar e o ouro, até o ciclo do café.
À medida que se exaurem os recursos naturais da floresta atlântica, através da atividade agrícola e do crescimento das cidades, se abrem frentes de ocupação de territórios no interior. A industrialização, a construção de Brasília, a expansão da malha rodoviária e o avanço da frente agrícola rumo ao oeste, são os marcos do avanço da economia sobre áreas inexploradas de Cerrado e da floresta amazônica. Nos anos do milagre econômico (1968-1973), quando a economia crescia em média 10% ao ano, o setor agrícola apoiado pelas pesquisas da Embrapa estabeleceu as bases do que hoje é o agronegócio; o setor da economia que mais traz divisas para o país. No início dos anos 1970 o governo militar termina a abertura da rodovia Transamazônica, estrada que mesmo parcialmente pavimentada, percorria 4.223 quilômetros, ligando Cabedelo, na Paraíba, à Lábrea, cidade do extremo oeste do estado do Amazonas. A estrada abre o vasto território da floresta amazônica a agricultores, madeireiros, garimpeiros, caçadores e todo tipo de aventureiros que vão tentar a sorte na região.

Assim, o ritmo de desmatamento da floresta amazônica foi aumentando gradualmente ao longo dos anos, devido às atividades agrícolas e pecuárias. Entre 1550 e 1970 a área desmatada não passava de 1% dos 4,2 milhões de km² que o bioma ocupa em território brasileiro. Nos últimos 40 anos, no entanto, segundo a ONG Greenpeace, 18% da Amazônia brasileira – 756 mil km² – foram derrubados. Nos últimos dez anos o desmatamento vem gradualmente diminuindo, caindo para 1.047 km² entre agosto de 2011 e julho de 2012. Em 2013 o desmate voltou a crescer (2.007 km²) e continua aumentando em 2014. Apesar de existirem metodologias diferentes para avaliar o ritmo de devastação da vegetação, vários fatores indicam que esta vem aumentando.
O impacto do desmatamento de parte da Amazônia será bem maior do que o da Mata Atlântica. Recursos hídricos, biodiversidade e clima serão definitivamente afetados. Depois disso, não haverá mais outro território novo a ocupar.  
(Imagens: fotografias de Walker Evans)

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