Falta de chuva prenuncia mudanças globais

sábado, 1 de novembro de 2014
"As leis são como teias de aranha: assim como estas pegam as criaturas mais fracas, mas não retêm as mais fortes, aquelas restringem os humildes e os pobres, mas não os ricos e os poderoso."  -  Valério Máximo  -  Fatos e ditos memoráveis 

A falta de chuvas em diversas regiões brasileiras poderá comprometer a economia brasileira por muitos anos. Haja vista que 70% do estado de São Paulo, a unidade da federação mais desenvolvido do país, estão sendo fortemente afetados pela estiagem. Agricultura, indústria, geração de energia, turismo, pecuária, transporte hidroviário; diversos setores econômicos estão reduzindo suas atividades, diminuindo faturamento e demitindo empregados.
O mesmo acontece nas regiões banhadas pelo Rio São Francisco. Segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo, a vazão do rio é atualmente de 49 metros cúbicos de água por segundo (m³/s); muito abaixo de seu volume normal de 2,8 mil m³/s e o menor nos últimos 83 anos de medição.  No Alto São Francisco, no estado de Minas Gerais, a falta de água está afetando plantações de café e eucalipto, a criação de gado e pequenos agricultores, que suprem grande parte da demanda de alimentos das cidades da região. Afluentes do grande rio se transformaram em caminhos para carroças e cavalos e a represa hidrelétrica de Três Marias, que funciona como uma caixa d’água do lugar, está quase seca. A região, segundo os cálculos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural - Emater de Montes Claros (MG) acumula prejuízo de R$ 1 bilhão nas secas dos últimos anos. A situação de estiagem prolongada se estende por todo o curso do rio, alcançando também os estados do nordeste.
Seca semelhante está afetando o estado americano da Califórnia, que enfrenta sua terceira pior estiagem nos últimos 106 anos, segundo o jornal The Washington Post. Pastos estão estéreis, os níveis dos reservatórios caíram e o custo da taxa d’água aumentou. Com isso, aumentaram os preços das frutas em todos os Estados Unidos, já que a Califórnia produz 70% do volume das 25 frutas mais consumidas no país.
A situação se repete em varias partes do globo. Segundo o Sistema Global de Informação de Secas (Global Drought Information Systemwww.drought.gov) o norte da China passa pela pior seca nos últimos 60 anos. No Quênia e na Somália, 2,5 milhões de pessoas enfrentam uma forte carestia devido à falta d'água para irrigação, e a Austrália deve perder 29% de sua safra 2014/2015 de algodão por ausência de chuvas. Não é simples coincidência que 2014 certamente será o ano mais quente da história, segundo a NASA, desde as primeiras medições em 1880.
Em recente texto publicado no Caderno Aliás do jornal O Estado de São Paulo, o escritor americano Lee Siegel, relata que “Lucrécio (filósofo romano) escreveu certa vez que para muitas pessoas a morte é um boato. O mesmo princípio se aplica ao aquecimento global. Você não admite que a Terra seja mortal da mesma maneira que sabe que você mesmo é.” Este é o maior problema de parte dos tomadores de decisão no mundo: não admitir que haja alguma coisa errada com o clima, que poderá trazer sérias conseqüências à nossa civilização em médio prazo.
Esta “alguma coisa errada com o clima” pode ser o que a ciência chama de comportamento emergente. John Casti, matemático especialista em teoria de sistemas e complexidade, escreve que “traços e/ou comportamentos emergentes são, com frequência, considerados algo ‘inesperado’ ou ‘surpreendente’. Isto acontece porque, de um modo geral, sabemos alguma coisa a respeito das características dos objetos individuais, mas nada sobre as propriedades sistêmicas gerais que emergem das interações”. 
Muitos cientistas estão relacionando a seca do Brasil e de outras regiões da Terra com as mudanças climáticas. No caso do Brasil, fala-se no aumento do desmatamento da Amazônia, região responsável pela umidade que se precipita nas regiões sul e sudeste na forma de chuva.
Ainda é difícil prever as consequências da interação entre sistemas complexos como a floresta amazônica e o clima. A falta d'água, no entanto, pode ser um "comportamento emergente" da interação destes sistemas; um prenúncio de outros fenômenos que deverão ocorrer em futuro próximo.
(Imagens: fotografias de Albert Renger-Patzsch)

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