Comentando Marilena Chauí e Edmund Husserl

sábado, 4 de fevereiro de 2017
"Quot homines, tot sententiae (Quantos são os homens, tantas são as sentenças) Terêncio (195-159 a.C.)

A afirmação de Marilena Chauí em Convite à Filosofia é a seguinte: [...] “não há 'coisa em si' incognoscível. Tudo o que existe é fenômeno e só existem fenômenos. Fenômeno é a presença real de coisas reais diante da consciência; é aquilo que se apresenta diretamente, 'em pessoa', em 'carne e osso', à consciência”.
A fenomenologia parte do pressuposto da realidade e da verdade dos fenômenos, das coisas que “aparecem”, dos dados que se nos apresentam à consciência. Não se trata, como na filosofia kantiana, de que as coisas estão só na mente, na percepção e que além desta percepção se estende o misterioso mundo da “coisa-em-si”. Todavia, de Kant Husserl ainda conserva a afirmação de que não conhecemos uma realidade em si mesma, mas a realidade estruturada a priori pela razão. Esta realidade que captamos pela razão é a essência dos fenômenos, o “eidos”. Husserl afirma que a filosofia é eidética, pois apreende a essência dos fenômenos. 
Para Husserl a fenomenologia (diferente da psicologia que é uma ciência dos fatos) é a ciência das essências. A fenomenologia utiliza-se da redução eidética, através da qual expurga os fenômenos psicológicos de suas características reais ou empíricas, levando-os ao plano da generalidade essencial, transformando-os em essências, em universais.
Para conhecer as essências, os universais, segundo Husserl, partimos de uma intuição das essências. Assim, redução eidética e o processo de intuir para conhecer as essências dos fenômenos, é a mesma coisa.
Todavia, para que possamos conhecer a essência do fenômeno, é preciso utilizar-se da epoché, que é um movimento mental de “colocar entre parênteses” as próprias convicções filosóficas, científicas e nosso senso comum. Suspendendo todo tipo de juízo sobre as coisas e olhando-as em sua essência, alcançamos a consciência daquilo que é absolutamente evidente (fico pensando se Hume teria a mesma opinião sobre estas “ginásticas mentais” e se Husserl alguma vez efetivamente atingiu o estado de “ver a essência do fenômeno”).
Como corolário desta investigação, Husserl chega à conclusão de que o movimento da consciência é intencional, já que toda a consciência é consciência de alguma coisa. Isto quer dizer que todo pensamento tem sempre um objeto. Por toda esta atividade que exerce, Husserl afirma que a consciência é “doadora de sentido”, já que as essências nada mais são do que significações produzidas pela consciência, tendo como matéria prima os fenômenos (por que será que sinto um cheiro forte de kantismo aqui?). A realidade adquire sentido através da ação da consciência.

A consequência do pensamento fenomenológico em relação à metafísica é que esta deixa de existir como algo além do sujeito, para tornar-se algo que o sujeito, através do pensamento, transmite à realidade – cujo sentido, aliás, é dado pelo próprio sujeito.
Bibliografia:
ABBAGNANNO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo. Martins Fontes: 2007, 1.210 p.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosoia. São Paulo. Editora Atica: 2010, 424 p.
CRESPO, Luís F.; COLOMBINI, Elaine A. M. Filosofia Geral: Problemas metafísicos II. Batatais. CEUCLAR: 2007, 37p.
SOKOLOWSKI, Robert. Introdução à fenomenologia. São Paulo. Edições Loyola: 2004, 247 
(Imagens: fotografias de José Medeiros)

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