Newsletter junho/julho/agosto 2018

sábado, 16 de junho de 2018

(publicado originalmente no site www.ricardorose.com.br)

O que dizer das perspectivas do setor ambiental brasileiro para os próximos três meses?
Aliás, o que falar das perspectivas econômicas para os próximos três meses e para o ano de 2018, já que o setor ambiental está ligado ao crescimento da economia? Hoje, 2 de junho, ainda vivemos os efeitos da recente greve dos caminhoneiros, com falta de gasolina e diesel em muitos postos, desabastecimento de produtos para a população, matérias primas para as empresas e muitas outras consequências em toda a economia.

A paralisação dos transportadores contou com o apoio de toda a população, pois representou um protesto coletivo contra tudo de errado que o Estado brasileiro vem fazendo há muitos anos, conduzido por uma sucessão dos governos. Impostos altos e péssimos serviços; incompetência na elaboração, planejamento e execução de políticas públicas; aumento dos gastos e favorecimento de aliados, grupos de pressão, asseclas e financiadores. Enfim, um Estado que há muitas décadas vem favorecendo grandes grupos econômicos, explorando a classe média e dando apenas migalhas à maior parte da população. Entre os 193 países existentes no planeta, somos a oitava ou nona maior economia e vivemos em tais condições!

No início do ano, em pleno clima de “Agora vai!” os economistas previam um crescimento de 2,8% para a economia brasileira em 2018. O desemprego estava em queda e alguns indicadores – produção industrial, agronegócio, inflação baixa e taxa de juros – apontavam para uma lenta recuperação da economia. Mas, já em março voltou o desemprego, a economia diminuiu seu ritmo de crescimento e já se antevia uma expansão menor do PIB. A greve dos caminhoneiros jogou ainda mais água na fervura e definitivamente as coisas desandaram: a previsão de crescimento da atividade econômica é agora entre 1,8% a 1,2%.

Com toda essa confusão e desalento – alguns estão chamando o Brasil de “o país do desalento” – não há muito o que se prever na área ambiental. O governo federal e os governos estaduais e municipais não dispõem de recursos para implementarem a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A situação na questão dos resíduos ainda é a mesma da descrita pela jornalista Sucena Shkrada Resk em artigo publicado no blog “Cidadãos do Mundo” em 26/01/2018: “O Ano era 2010, e a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) trouxe a esperança de que a gestão pública brasileira, de uma forma geral, iria se redimir dos sucessivos erros no quesito infraestrutura, ao longo de décadas. Mas do papel à realidade, chegamos em 2018, e constatamos que existe uma cultura de inoperância resistente que fragiliza a efetivação dessas mudanças em boa parte dos municípios. A prova está na permanência de cerca de 3 mil lixões ou aterros controlados espalhados pelo território nacional em 3.331 municípios, que recebem cerca de 30 milhões de toneladas de resíduos urbanos anualmente (41,6%). Os dados de projeção fazem parte do documento Panorama de Resíduos Sólidos 2016, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe). Chorume, gases tóxicos e trabalhadores em condições insalubres compõem este cenário obsoleto ainda em vigor.”

Somente a logística reversa em fase de implantação em empresas de grande porte não resolverá a questão da gestão dos resíduos. Centenas de milhares de micro e pequenas empresas não dispõem de conhecimento e recursos – financeiros e técnicos – para se prepararem para a chegada da lei. Por outro lado, mesmo nos municípios, a situação é a mesma. Enfrentando problemas de arrecadação, diminuição no repasse de verbas e falta de quadros qualificados, a grande maioria dos 5.570 municípios não conseguirá implantar a política de resíduos. É esperar para ver – e nada acontecerá.

Em final de 2017, pela terceira vez, o governo federal prorrogou mais uma vez o prazo de apresentação dos Planos Municipais de Saneamento Básico, previstos na Lei do Saneamento. De acordo com a lei, os municípios que não tiverem apresentado um plano de gestão de seu saneamento, agora até o final de 2019, serão proibidos de receberem recursos federais. Até o momento apenas 30% dos municípios apresentaram seus planos.

Para poder oferecer cobertura de saneamento em todo o país, o governo teria que investir o equivalente a R$ 16 bilhões a cada ano, durante um período de 20 anos. O objetivo parece muito difícil de ser alcançado, levando em conta que em 2018 o governo federal só pôde destinar R$ 7 bilhões para o saneamento.

Em tempos de crise a questão ambiental é colocada em segundo ou terceiro lugar. Como dizem: “Quando o orçamento está no vermelho, ninguém pensa no verde.” Assim, a vasta gama de temas que deveriam constar da agenda de governos, como a questão da poluição atmosférica, a preservação de recursos hídricos e florestais, a recuperação de áreas contaminadas, matas ciliares e manguezais, tudo fica para amanhã. Que amanhã?   
(Imagem: pintura de Edward Munch)

0 comments:

Postar um comentário