Longo caminho da recuperação

sábado, 4 de janeiro de 2020
"Tanto no referendo da UE quanto na eleição dos Estados Unidos, fornecedores das Forças Armadas usaram tecnologias de inteligência militar para influenciar eleições democráticas em seus próprios países."   -   James Bridle   -   A nova idade das trevas 


Euforia nos noticiários da TV, nos programas de notícias das rádios e nos artigos jornalísticos. Depois de muita expectativa por parte do governo e do setor empresarial, as compras de final de ano parecem ter atingido o maior volume de vendas desde 2010. Gráficos, tabelas e dirigentes de instituições, comentado com entusiasmo a boa nova: o crescimento da economia finalmente voltou! Será? Outros setores do comércio reportaram que as vendas em grande parte foram iguais às de 2018 e em alguns estabelecimentos até abaixo disso.

Todos lembram que também se esperava a recuperação da atividade econômica depois da votação do teto de gastos do orçamento federal, e nada ocorreu. Depois da votação da reforma da lei trabalhista, muito certamente, o crescimento voltaria, dizia-se. Mas nada aconteceu. Aí, falou-se que depois da eleição de Jair Bolsonaro o mercado reagiria positivamente. Também não. Sim, mas após a posse, tudo voltaria a andar – só que não. Passou quase um ano, durante o qual a economia continuava a avançar a passos de tartaruga - cansada. Agora, no final do ano, havia uma nervosa - quase histérica - espera pelos resultados das vendas do Black Friday e do Natal.

Os resultados foram até além do esperado, dizem os muito otimistas. Com a liberação de parte do FGTS e do PIS-PASEP, a baixa dos juros e a contratação temporária de trabalhadores no comércio por ocasião das festas de final de ano, houve uma injeção de ânimo e de recursos na economia brasileira. Parece ter aumentado o consumo. Com isso, segundo muitos economistas, finalmente deu-se o primeiro passo na gradual recuperação da atividade econômica. Mas as próximas semanas nos dirão se a) houve efetivamente um aumento do consumo e b) se esta tendência se manterá a partir de março de 2020.


Nos últimos seis anos, milhões de trabalhadores perderam o emprego – ainda são cerca de 12,5 milhões de desempregados – e outros 39 milhões atuam na informalidade. A mão-de-obra subutilizada ainda perfaz 27 milhões de pessoas e os subocupados são 7 milhões. Os que desistiram de procurar emprego totalizam 4,6 milhões de pessoas. Comparando, a soma de todas estas categorias perfaz um total de 83,1 milhões de cidadãos, enquanto que a população ocupada no país é de 94,1 milhões.

Ainda não se sabe se este restabelecimento da economia será sustentável. O brasileiro já está acostumado às recuperações de curto fôlego, chamadas de “voos de galinha”. O aumento das vendas - se efetivamente ocorreu -, por enquanto, significa apenas isso: aumento das vendas, principalmente devido ao aumento dos estímulos, como mencionado anteriormente. Somente a partir do início de 2020 é que será possível saber se a aceleração da atividade econômica é estável, ou se foi apenas sazonal, devido ao pequeno crescimento da atividade econômica que sempre ocorre a cada final e início de ano.

(Imagens: fotografias de Milton Guran)

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