Alimentos mais saudáveis

sábado, 3 de julho de 2021

 

"O que é alimento para uns, para outros é veneno amargo."   -   Lucrécio Caro   -   Sobre a Natureza   


A questão da saúde não pode ser separada da questão ambiental. O meio ambiente construído pelo homem, o ambiente social, precisa oferecer condições para uma vida saudável a todos os cidadãos. Nessa ótica também se incluem os alimentos de diversas origens consumidos pela sociedade, oferecidos aos consumidores por uma vasta gama de fornecedores. As crianças são especialmente afetadas pelos alimentos, que podem ter efeitos em sua saúde na vida adulta. A saúde física de uma pessoa também é construída através de sua alimentação na infância.

Dados de todo mundo, nos informam que assim que aumenta o poder aquisitivo de uma sociedade, aumenta o percentual de adultos e crianças obesas. A obesidade está se tornando um mal crônico em nossa sociedade afluente, em todo o mundo. Dados do IBGE de 2019, indicam que uma em cada três crianças brasileiras está acima de seu peso normal. No mesmo ano, as notificações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional mostraram que 16,33% das crianças entre cinco e dez anos estão com sobrepeso; 9,38% encontram-se obesas e 5,22% com obesidade grave. A Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que até 2025 o número de crianças obesas em todo o mundo deverá ultrapassa o número de 75 milhões de indivíduos. Um grande problema a ser enfrentado por pais, médicos nutricionistas, governos e fabricantes de alimentos.

A dificuldade, dizem os especialistas, não está tanto na quantidade dos alimentos ingeridos, mas muito mais no tipo de produto consumido. Os hábitos alimentares, com o desenvolvimento da indústria alimentícia, transformaram-se bastante nos últimos trinta anos. Alimentos congelados, desidratados, enlatados, embutidos, pré-cozidos e vários outros, tornaram-se comuns nas mesas da maior parte das culturas urbanas em todo o mundo. A característica comum à maior parte destes alimentos é a adição de quantidades excessivas de açúcar, gordura saturada e sódio – principalmente nos doces, bolachas, salgadinhos, refrigerantes e outros alimentos consumidos em grande quantidade, principalmente pelas crianças. A adição de grandes quantidades de açúcar aos alimentos industrializados provoca uma necessidade constante de ingerir mais substâncias doces; isto ocorre devido ao prazer que a sensação “doce” provoca no cérebro. No entanto, a constante sensação de prazer associada aos doces, chocolates e outros produtos, traz consigo o aumento de peso, a diabetes e o surgimento de problemas cardíacos. A gordura saturada, a gordura trans e o excesso de sódio (sal), por outro lado, são prejudiciais à saúde, também podendo provocar problemas cardíacos (entupimento das veias do coração). A adição da gordura trans aos alimentos é usada também para aumentar a validade do prazo de consumo do produto e diminuir a necessidade de refrigeração – questão de economia. 

Para completar este quadro, grande parte da comida consumida em todo o mundo tem adição de substâncias químicas, como aditivos, corantes, antioxidantes, conservantes, adoçantes, flavorizantes. São substâncias químicas cujo efeito prolongado sobre a saúde humana, principalmente de crianças, ainda não foi exaustivamente estudada. Outra questão levantada por especialistas, é que vem sendo observada uma piora na qualidade de apresentação dos alimentos; no formato das embalagens, nos materiais utilizados, etc. Análises indicam que em épocas de crise econômica, quando ocorre queda do consumo, alguns fabricantes reduzem este tipo de custo.

Devido a tais fatores de risco, a Organização Mundial de Saúde (OMS) vem conclamando os países a desenvolverem políticas públicas, a fim de reduzir a publicidade de alimentos e bebidas com baixo teor nutricional e que podem ser prejudiciais à saúde, principalmente das crianças. Em países desenvolvidos, como a Inglaterra, França, Alemanha e Suécia, a propaganda de alimentos infantis é cada vez mais limitada; e, mesmo os Estados Unidos, prometem colocar uma série de restrições a esta prática. No Brasil, o movimento está apenas começando, já que o nível de conscientização ainda é muito baixo e o poder de influência dos fabricantes sobre a mídia ainda é muito forte. Já é tempo de leis mais rígidas serem votadas, defendendo o consumidor, principalmente as crianças. 

Não querendo ser surpreendidas, empresas como as americanas Pepsico e Kraft já declararam que reduzirão o sódio, o açúcar e a gordura saturada de seus alimentos durante os próximos anos. Outras transnacionais como a anglo-holandesa Unilever, a suíça Nestlé o McDonald´s, Hershey, Pizza Hut e a Burger King, entre outras, já fizeram alterações em seus produtos e suas campanhas publicitárias.

Mas isso é apenas o começo. Para que aumente o número de pessoas cada vez mais informadas e conscientes em relação ao que estão consumindo, ainda levará muito tempo. Ocorre que o acesso às informações sobre os produtos, seus componentes e processo de fabricação, ainda não está amplamente divulgado por falta de legislação específica. Já dizia Otto von Bismarck, importante estadista da Alemanha no século XIX: “Os cidadãos não poderiam dormir tranquilos, se soubessem como são feitas as salsichas e as leis.”


(Imagens: pinturas de Susan Weiss Rose) 

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