Eco-92, há 30 anos!

sábado, 22 de janeiro de 2022

 

"A maior corrupção se acha onde a maior pobreza está ao lado da maior riqueza."   -   José Bonifácio de Andrada e Silva   -   Projetos para o Brasil


Faz bastante tempo que o país não passa por um ano tão significativo, com tantas datas históricas a festejar. 2022 será, pelo menos neste aspecto, um ano memorável. Comemoraremos, por exemplo, os 200 anos da independência do Brasil e os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo, entre outros. Na área ambiental, o ano também terá um importante marco; tanto para o país quanto para o mundo, já que é nesse ano que se completam 30 anos da realização da Eco-92, que acorreu na cidade do Rio de Janeiro.

A Eco-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também ficou conhecida como a Cúpula da Terra, Cimeira do Verão e Conferência do Rio de Janeiro, reuniu chefes de estado, empresários, ONGs, cientistas, personagens e instituições ligadas às questões do meio ambiente, do clima, da economia e aos temas sociais. O encontro, realizado entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, concentrou discussões sobre diversos assuntos relacionados à questão ambiental, que vinham sendo tratados em diversos fóruns internacionais de forma descentralizada. Foi através desta importante reunião, que temáticas como a biodiversidade, as mudanças climáticas, o desenvolvimento sustentável, a energia renovável, a proteção dos recursos hídricos e da floresta, a desertificação e o ecoturismo, entre os principais, passaram a ser tratados de maneira conjunta e interdisciplinar. A preocupação com a questão das mudanças climáticas, que hoje tem importância primordial nas estratégias de governos e empresas – pelo menos nos países desenvolvidos -, ganhou notoriedade a partir da Eco-92.

Para o Brasil o evento também foi um marco. A Eco-92 contribuiu, efetivamente, para que aumentasse no país o interesse e a mobilização em relação aos temas ambientais, fazendo com que ainda em 1992 o então presidente Collor, criasse o ministério do Meio Ambiente e as estruturas operacionais a ele ligadas. Enquanto transcorria a Conferência no Rio de Janeiro, a cidade de São Paulo realizava uma grande exposição de tecnologias ambientais, chamadas à época de tecnologias de combate à poluição, contribuindo para que se fortalecesse um mercado de serviços e equipamentos ambientais, ainda em fase de desenvolvimento à época.

A partir da Eco-92 a questão ambiental, em seus diversos aspectos, passou a ser tratada com mais importância pelo Estado e pelo setor privado. O aumento da presença de ONGs ambientais, a maior cobertura de temas ecológicos pela mídia, a criação de leis e o gradual desenvolvimento de uma consciência ambiental entre a população e os partidos políticos, contribuíram para o desenvolvimento do setor. Milhares de empresas em diversas áreas de prestação de serviços e fabricação de equipamentos puderam ser criadas no país, enquanto que nas universidades ampliavam-se os departamentos de pesquisa, com atividades científicas voltadas para esta área.

O setor ambiental no Brasil sofreu, no entanto, um forte revés com a crise econômica que teve início em 2016 e se estende até hoje. As empresas, em sua maior parte, reduziram seus investimentos no controle e redução de emissões e resíduos, limitando-se a cumprirem as determinações da lei – quando tanto. O setor público, sem recursos para manter suas ações de comando e controle, viu suas atividades serem reduzidas a ações pontuais, longe de poder manter estratégias ou programas de melhoria das condições dos ambientes em que opera. Além disso, há que assinalar que os últimos dois governos, de Temer e Bolsonaro, tiveram atuações desastrosas em quase tudo que se relaciona com a questão ambiental. De atitudes de descaso até posicionamentos de ataque a políticas de proteção dos recursos naturais. Estes dois fatores – a crise econômica e a resistência à implantação de políticas ambientais – acabou prejudicando o desenvolvimento do mercado interno de tecnologias de meio ambiente e comprometeu a imagem do Brasil como um dos grandes protagonistas nesta área.

Quanto mais tempo passa, tanto maior destruição dos recursos naturais. Que neste ano de 2022, 30 anos depois da Eco-92, os governos em todos os níveis se deem conta de que é preciso avaliar e mudar urgentemente a maneira como nossa sociedade convive com o ambiente.


(Imagens: pinturas de Wilhelm Trübner)

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