Agricultura orgânica e alimentação saudável

sábado, 14 de maio de 2022

 


"O mito não é história antiga; ele é realidade intemporal, que se repete na história."   -   Ernst Jünger   -   Traité du rebelle


A agricultura orgânica é um dos segmentos da atividade agrícola que mais rapidamente vem se desenvolvendo. Segundo informação do site Brasil Agroecológico, o número de unidades produtoras destinadas à agricultura orgânica no Brasil cresceu 300% entre 2010 e 2018, chegando a 17,7 mil produtores registrados em 2019.  Em 2018, havia mais de 22 mil unidades de produção orgânica devidamente certificadas, frente a pouco mais de 5 mil em 2010, segundo o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). O mesmo acontece a nível internacional, onde apesar da crise econômica o mercado mundial de agricultura orgânica aumentou 6,4% só entre 2011 e 2012. O número de produtores, que girava em torno de 253 mil em todo o mundo em 2000, alcançou quase 2,9 milhões em 2017. O aumento ocorreu principalmente na Ásia, África e América Latina.

A expansão deste setor pode ser notada no aumento das gôndolas destinadas a estes produtos em supermercados das grandes cidades brasileiras. Alguns estabelecimentos chegaram a se especializar, vendendo somente produtos orgânicos. Com o aumento da conscientização em relação a uma alimentação mais saudável, cresce também o número de consumidores, mesmo nas camadas de menor poder aquisitivo. Aliado a isso, avança a preocupação com a saúde individual, focada na menor ingestão de açúcar, sódio, gordura saturada e substâncias tóxicas nos alimentos.

Grande parte dos produtos cultivados pela agricultura convencional está contaminada por quantidades crescentes de agrotóxicos, usados para combater pragas e fortalecer o solo. A cada ano, é aprovado um número maior de defensivos agrícolas no país; alguns até já proibidos nos países desenvolvidos. Na maioria dos casos, no entanto, esta contaminação alimentar não alcança os limites fixados pela Associação Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e não é considerada danosa à saúde humana – pelo menos segundo os padrões brasileiros. Uma exposição prolongada a qualquer tipo de substância tóxica, no entanto, pode trazer problemas para a saúde, causando o desenvolvimento de vários tipos de câncer, doenças do sistema nervoso e transtornos mentais, segundo os especialistas.

De acordo com estes, produtos aplicados para proteger as plantações - soja e milho, por exemplo - são absorvidos pelos grãos e incorporados à ração servida aos animais de abate. Ao longo do tempo as substâncias tóxicas vão se acumulando no corpo do animal, aumentando a carga tóxica. O consumo prolongado destas carnes, pode transferir parte desta carga de produtos tóxicos aos seres humanos. Um estudo recente constatou que são necessários 11,4 quilos de ração para produzir um frango de abate. No caso do porco, são necessários 21 quilos de ração, para produzir um quilo de carne. Um quilo de carne bovina demanda 44 quilos de ração, contendo quantidades não desprezíveis de produtos tóxicos.

Em agosto de 2012, durante o governo Dilma Rousseff, o governo federal lançou a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo), como objetivo de apoiar o setor da agricultura orgânica em três de seus gargalos: o crédito, a assistência técnica e as pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias. Especialistas do setor opinam que uma política governamental sem recursos expressivos pouco ajudaria o desenvolvimento da agricultura orgânica. Era preciso que o governo tratasse o setor de orgânica em igualdade de condições com o a produção convencional; aumentando o crédito e oferecendo linhas de investimento para conversão de terras para a produção agroecológica. No entanto, os governos sequentes ao de Dilma Rousseff, Temer e Bolsonaro, não ofereceram a devida atenção ao setor, já que os créditos foram direcionados principalmente para a agricultura convencional – apesar do grande potencial da agricultura orgânica, principalmente nas pequenas propriedades agrícolas.

Aspecto importante na comparação da agricultura convencional com a orgânica é o das externalidades; o impacto provocado pela atividade ao meio ambiente. O agricultor orgânico precisa conservar as áreas de vegetação original, deve preservar as nascentes, não pode usar produtos tóxicos. Além disso, é obrigado a periodicamente certificar sua propriedade e produção. Todas estas providências não são mandatórias na agricultura convencional, apesar desta geralmente ter um impacto ambiental bem maior. 


(Imagens: pinturas de Aaron Douglas) 

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