Cornélio Pires (1884 - 1958)

domingo, 10 de dezembro de 2023

 


Cornélio Pires nasceu em 13 de julho de 1884 em Tietê, cidade do interior do estado de São Paulo. Era descendente de uma tradicional família paulista, cujos antepassados remontam aos tempos dos bandeirantes (séc. XVII). Parte de sua infância passou às margens do rio Tietê, no sítio de sua madrinha e tia avó, a “Nhá Bé”. Aos doze anos começa seus estudos com o mestre-escola Antônio Cassimiro, bastante conhecido à época. Quando seu pai, Raimundo Pires, mudou-se com a família para a cidade (de Tietê), Cornélio Pires passou a estudar no grupo escolar “Luiz Antunes”.

Cornelio Pires começou a atuar muito cedo na imprensa. Aos 14 anos foi contratado pelo jornal "O Tietê” para trabalhar como aprendiz de tipógrafo. Aos 17 anos Cornélio deixou Tietê e mudou-se para São Paulo, para prestar exame para cursar a faculdade de farmácia. Não obtendo sucesso nestes projetos, passou a atuar como “sapo” (jornalista avulso) nas redações dos grandes jornais paulistas da época, especialmente “O Comércio de São Paulo”. Com o tempo foi assumindo as funções de jornalista, poeta, contista e folclorista, atuando principalmente no “O Estado de São Paulo”. A partir de 1914 torna-se redator do periódico “O Pirralho”, fundado pelo poeta Oswald de Andrade.

Ligado à cultura “caipira” desde a juventude e privando da amizade de vários intelectuais da cidade de São Paulo, Cornélio apresentou em 1910 no Colégio Mackenzie (hoje Universidade Mackenzie) um espetáculo que reuniu catireiros, cururueiros (danças típicas) e duplas de cantadores do interior do país. No mesmo ano lançou seu primeiro livro, Musa Caipira, o primeiro livro de poesia dialetal registrado no país.

Cornélio Pires escreveu mais de vinte livros, registrando o vocabulário, os costumes, as músicas, enfim, a cultura caipira. Especialmente em sua obra Conversas ao Pé do Fogo, o autor faz uma descrição dos diversos tipos de caipiras. Na obra também incluiu o Dicionário do Caipira. Em outro livro, Sambas e Cateretês, Cornélio reúne as letras de várias composições populares, muitas das quais teriam sido esquecidas não houvessem sido registradas. A pesquisa etnológica, antropológica e sociológica de Cornélio Pires começa a ser redescobertas por acadêmicos que se dedicam ao estudo do folclore e da cultura popular brasileira.

Em 1924 Cornélio Pires dirigiu seu primeiro filme Brasil Pitoresco; um documentário no qual retrata sua viagem por diversas comunidades litorâneas do país, mostrando os aspectos sociais e culturais dos diversos grupos humanos visitados. (Veja o documentário original neste link: https://www.youtube.com/watch?v=4QkxnT2W3Vs. Também foi diretor do filme Vamos Passear, a primeira película sonora produzida de maneira independente no Brasil.

Intelectual com várias facetas, Cornélio Pires, além de jornalista, poeta, cineasta, folclorista e escritor, também foi palestrante e o que atualmente se chamaria de “agitador cultural”. Atuou também na indústria fonográfica, onde lançou a música sertaneja original; uma adaptação da música caipira, cujas origens estão na música das festas religiosas católicas, como a folia de reis e na catira e cururu indígena. A música sertaneja tinha, como proposto por Cornélio Pires, uma função de crítica da (então) modernidade urbana. Exemplo disso é a Moda do bonde camarão; uma da primeiras músicas sertanejas e também uma crítica irônica sobre o mundo urbano moderno. (O bonde “camarão” era assim chamado por causa de sua cor. Circulou na cidade São Paulo entre os anos 1920 e 1960. Escute a canção na voz de Inezita Barroso neste link: https://www.youtube.com/watch?v=HC7HvjHmIXA).

Ao encerrar sua carreira de jornalista, Cornélio fundou o Teatro Ambulante Cornélio Pires, com o qual percorria cidades, principalmente do interior paulista, sendo bastante aplaudido. Segundo o Instituto Cornélio Pires, “foi uma mistura de poeta, escritor, compositor, contador de casos, conferencista e humorista, roteirista, produtor e diretor; Cornélio Pires foi uma espécie de showman da cultura caipira, sem dúvida o primeiro “stand up” brasileiro. As expressões verbais e dialetais criadas e citadas por Cornélio Pires em seus livros e discos são utilizadas e encontradas até hoje em cidades do interior de São Paulo e Brasil”.

Apesar de suas origens religiosas no presbiterianismo, Cornélio Pires converteu-se ao espiritismo kardecista na década de 1940, tonando-se divulgar da doutrina desde então, escrevendo vários livros sobre o tema.

Cornélio Pires Faleceu em São Paulo em 17 de Fevereiro de 1958.

A bibliografia de Cornélio Pires conta com vinte e quatro obras:

- Musa Caipira - 1910 - Livraria Magalhães;
- Monturo (poemeto) - 1911 - Editores: Pocai-Weiss;
- Versos - 1912 - Empresa Gráfica Moderna;
- Tragédia Cabocla (novela) - 1914 - Empresa Gráfica Moderna;
- Quem Conta um Conto... - 1916 - Seção de Obras de “O Estado de S. Paulo”;
- Cenas e Paisagens da Minha Terra - 1921 - Monteiro Lobato & Cia. Editores;
- Conversas ao Pé do Fogo - 1921 - Tipografia Piratininga;
- As Estrambóticas Aventuras do Joaquim Bentinho (O Queima Campo) - 1924 Imprensa Metodista;
- Patacoadas - 1926 - Livraria Alves;
- Seleta Caipira - 1926 – Irmãos Ferraz;
- Mixórdia - 1927 - Companhia Editora Nacional;
- Almanaque d'Sacy - 1927 - impresso na seleção de obras do “O Estado de São Paulo”;
- Mixóridia (Mixórdia, Anedotas e Caipiradas) - 1927 - Companhia Editora Nacional;
- Meu Samburá - 1928 - Companhia Editora Nacional;
- Continuação das Estrambóticas Aventuras do Joaquim Bentinho (O Queima Campo) - 1929 – Companhia Editora Nacional;
- Tarrafadas - 1932 – Companhia Editora Nacional;
- Sambas e Cateretês - 1932 – Gráfica-Editora Unita Ltda;
- Chorando e Rindo - 1933 – Companhia Editora Nacional;
- Só Rindo - 1934 – Civilização Brasileira;
- Tá no Bocó - 1935 – Companhia Editora Nacional;
- Quem Conta um Conto... e Outros Contos - 1943 – Livraria Liberdade;
- Coisas d'Outro Mundo - 1944 – Tipografia Paulista;
- Onde Estás, o Morte? - 1944 – Edição do Autor;
- Enciclopédia de Anedotas e Curiosidades - 1945 – Editora Cornélio Pires.

Cornélio Pires também foi produtor de uma vasta obra de discografia (Lista completa em: https://www.recantocaipira.com.br/duplas/cornelio_pires/cornelio_pires.html).

 

Frases de Cornélio Pires:

 

“Ai, seu moço, eu quiria,

p’ra minha felicidade,

um bão fandango por dia,

e um pala de colidade.

 

Pórva, espingarda e cutia,

um facão fala-verdade

e ua viola de harmunia

p’rachorá minha sodade.

 

Um rancho na bêra d’agua,

vara-de-anzó, pôcamágua,

pinga boa e bão café...

 

Fumo forte de sobejo...

pra compretá meu desejo,

cavalo bão – e muié...”


(Estrambótica – Abertura da peça)

 

 

(Fontes: Wikipedia; Instituto Cornélio Pires; Site Recanto Caipira; YouTube; Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira; Revista Estudos – Sociedade e Agricultura)

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