Leituras diárias

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024


“Talvez os bem escolarizados tenham se tornado menos taxativos em relação a projetos de futuro. Mas uma massa de frustrados, que por conta de quarenta anos de neoliberalismo não conseguiu uma boa escolarização, perdeu o contato com o pensamento crítico. Essas pessoas são arrogantes. Até os anos 1970, as pessoas que não tinham estudo em determinada área pensavam duas vezes antes de falar qualquer coisa sobre ela. Hoje, a ideia de que cada um pode dizer o que quiser, tendo como referência a si mesmo, conquistou muita gente. Muitos perderam a vergonha de serem estúpidos, uma vez que houve certa democratização da ignorância.

Essa opinião tem lá sua força. Tornou-se icônica quando o romancista e teórico da semiótica Umberto Eco a resumiu em uma frase, um ano antes de seu falecimento em 2016: ‘As redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis. […] Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel’. Hoje, penso que essa opinião de Eco é fácil demais de ser proferida e pouco contribui em nossas investigações sobre produção de conhecimento e socialização do saber na atualidade. Outros movimentos de democratização da voz popular já receberam reação semelhante, desde a Antiguidade. Creio que temos de ir além desse lamento. Uma investigação em psicologia política se faz necessária. Hoje, estamos envolvidos com certos fenômenos específicos, gerados pela direita política, e que Eco certamente chamaria de imbecilização.” (Ghiraldelli, págs 21-22)

 

Paulo Ghiraldelli, Subjetividade maquínica

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