Leituras diárias

quinta-feira, 14 de março de 2024



“Mas nem tudo era ruim na agricultura. O trabalho dos agricultores pode ter sido difícil e a alimentação era um pouco indigesta, mas eles inventaram a família estendida, aumentando a chance de sobrevivência a longo prazo dos próprios descendentes e, portanto, de toda a população. Sem nenhuma alternativa à labuta constante que definia a vida deles, os agricultores deviam ficar perplexos com o contentamento simples dos caçadores-coletores. Quando começaram a produzir mais alimentos e ter mais filhos – que, por sua vez, demandavam mais alimentos –, os agricultores já tinham começado a repetir as mesmas etapas de sobrevivência. Mais comida significava ter mais filhos, e ter mais filhos significava uma demanda maior de alimentos, que tinham que ser cultivados e colhidos. A humanidade nunca saiu desse estado de trabalho excessivo, e hoje em dia as bibliotecas estão lotadas de livros de autoajuda para trabalhadores estressados. Mesmo assim, se usarmos os bens materiais como medida, os agricultores tinham um padrão de vida mais alto do que o dos caçadores-coletores. Os agricultores eram donos de campos, viviam em casas e tinham criações de animais. Uma vez iniciado o caminho do crescimento, eles não podiam desviar do rumo sem colocar em risco a vida dos filhos. Depois de algumas gerações, teria sido impossível retornar à caça – as habilidades necessárias precisavam ser aprendidas muito cedo pelos jovens. Em uma comunidade de agricultores, juntar-se aos caçadores-coletores seria o equivalente ao autoexílio, já que os agricultores os viam como inferiores.” (Krause & Trappe, pág. 92)

 

Johannes Krause, Thomas Trappe, A jornada dos nossos genes: Uma história da humanidade e de como as migrações nos tornaram quem somos

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