Minha opinião

quarta-feira, 24 de julho de 2024



Minha opinião

 

Os dados mostram que o governo Lula está realizando mais do que o de Bolsonaro. Este último acabou conseguindo destruir menos do que de início havia anunciado – para sorte do país. Assim, alguns ministérios, mesmo esvaziados, ainda puderam sobreviver; várias privatizações não chegaram a ser realizadas por falta de tempo e leis polêmicas não foram aprovadas. Como dizem alguns, Bolsonaro e sua equipe não tiveram a capacidade de realizar o que eles e seus apoiadores planejavam fazer – em seu próprio benefício e em prejuízo da maior parte da população.

Lula, nos primeiros dias de seu governo e no entusiasmo da vitória, havia indicado que sua equipe preparava projetos de grande interesse. Agora, no segundo ano de seu mandato o país avança em várias áreas – forte redução no desemprego, aumento da média salarial, recorde nas exportações, volta dos financiamentos para diversos setores e um gradual crescimento da economia. Mas tudo isso ainda não é suficiente. Os salários médios, apesar de terem aumentado, ainda continuam sendo baixos em relação ao custo de vida. Os empregos com melhor remuneração, para os milhares de profissionais melhor preparados à procura de uma vaga, ainda são poucos. As ampliações ou novos investimentos no setor industrial – campo que oferece os melhores postos de trabalho – progridem lentamente.

O país não avançará da maneira como necessita, se contar somente com o setor agropecuário como o carro-chefe da economia. Apesar da grande participação do agronegócio no PIB, o numero de empregos, também nesta área, está diminuindo devido à crescente mecanização e automatização das atividades, fazendo com que a média mensal salarial não ultrapasse os R$ 2,5 mil, segundo dados recentes. Outro setor, o de serviços, cuja participação percentual no PIB e no número de empregos gerados nos últimos dez anos só vem aumentando, tornou-se a tábua de salvação para milhões de profissionais, principalmente para aqueles com baixo nível educacional. Neste setor, a média salarial (base maio 2024) situa-se em torno de R$ 1,7 a R$ 2,0 mil mensais.

Uma efetiva arrancada da economia só pode ocorrer com pesados investimentos públicos em obras de infraestrutura e financiamento de setores que absorvam muita mão de obra; caso da construção civil, das telecomunicações, da indústria têxtil, da cadeia da indústria alimentícia, do pequeno comércio, entre outros.

No entanto, dispondo de caixa baixo, ainda devido à crise econômica que vinha se arrastando desde 2016; dos custos da pandemia da Covid; e à gastança de Bolsonaro nos últimos meses de seu governo, com o intuito de se reeleger, o governo Lula não possui fundos suficientes para implantar tudo aquilo que é necessário e que havia planejado de início.

Na parte administrativa, área estratégica na gestão do país, o governo precisa reocupar cerca de 250 mil vagas que estão em aberto no serviço público, em todos os níveis. No caso do serviço público federal, por exemplo, uma em cada três vagas está desocupada. A falta de profissionais na máquina pública – por aumento da demanda de serviços, aposentadorias, mortes ou doenças incapacitantes de funcionários, entre outras causas – prejudica o andamento do atendimento do público.

As dificuldades, no entanto, não param por aí. O ministério do governo Lula, integrado por representantes da frente pluripartidária que se formou durante as eleições, e que até por isso deveria dar estabilidade administrativa ao governo, não está correspondendo às expectativas iniciais. Divergências de opiniões e interesses, suspeitas de irregularidades e autopromoção, são alguns dos obstáculos que o presidente está enfrentando no dia a dia com parte de sua equipe.

Fora do governo também sobram críticas, defendendo interesses de grupos ou dificultando avanços que beneficiariam econômica e socialmente a maior parte da população. Desde a manutenção dos juros altos pelo Banco Central (que é independente do governo), aumento da taxa do dólar (causadas, segundo diz a grande imprensa por declarações de Lula) e críticas às supostas “gastanças” do governo (segundo a grande imprensa, setor financeiro e empresários). Por “gastos”, entendem estes críticos os programas de Estado, como aposentadorias e pensões, programas sociais, benefícios diversos para idosos e pessoas com deficiências. Alguns pleiteiam até cortes na Educação e na Saúde. Estes programas e benefícios são garantidos à população, principalmente às classes baixas, através da Constituição de 1988. Os argumentos para os cortes nestes programas são de que os gastos do governo provocam a alta da inflação e o endividamento do Estado. Não discutiremos aqui os fundamentos bastante polêmicos destas alegações, baseadas em visões ideológicas e não em teorias científicas. Quem se interessar mais a fundo pelo assunto, poderá comparar as opiniões divergentes dos economistas.  

Para completar este difícil quadro enfrentado pelo governo, o Congresso também dá sua contribuição.  Senado e Câmara Federal, cuja maioria é formada por políticos de oposição ao governo integrantes da direita (conservadores, passando por reacionários até direitistas radicais) – visceralmente adversários dos partidos de esquerda e de suas causas – têm muitos de seus membros integrando as bancadas (grupos de interesse) que dominam parte do Legislativo. Bancada do boi, que defende os interesses dos ruralistas; bancada da bala, representando as causas dos armamentistas e a bancada da Bíblia, que representa os interesses de grupos e tendências evangélicas (mas também católicas), são as principais. Além desses, há os grupos de políticos de “causas próprias”; os que votam projetos que primordialmente beneficiem sua região de origem (ou seja, sua própria carreira política) ou até os próprios parentes. 

Assim, de uma maneira muito geral, temos o quadro que em nossa análise retrata a situação atual da politica brasileira. O governo Lula com certeza poderia fazer muito mais, não houvessem tantos empecilhos como os citados acima e, principalmente, os grupos de oposição, cada um defendendo seus próprios interesses, que em pouco coadunam com as necessidades de grande parte da população brasileira. O trabalho do governo Lula e de outras administrações sequentes, se atuarem na mesma linha ideológica, será longo e trabalhoso, cheio de obstáculos. Escreveu o pensador e revolucionário Leon Trotsky (1879-1940): “A ascensão histórica da humanidade, tomada como um todo, pode ser resumida como uma sucessão de vitórias da consciência sobre forças cegas – na natureza, na sociedade, no próprio homem.”.

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