Energia solar: grande potencial inexplorado

sexta-feira, 18 de março de 2011

"A liberdade do dinheiro exige trabalhadores presos no cárcere do medo, que é o cárcere mais cárcere de todos os cárceres. O deus do mercado ameaça e castiga; e bem o sabe qualquer trabalhor, em qualquer lugar." - Eduardo Galeano - O teatro do bem e do mal


O consumo de energia elétrica no Brasil só tende a aumentar. Somente durante o ano de 2010, o uso de eletricidade aumentou em 7,8%, segundo a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) do Ministério das Minas e Energia. A tendência durante os próximos anos, segundo especialistas, é que o consumo se mantenha crescente. Por isso, o país precisará aumentar os investimentos na geração de energia elétrica e criar políticas de uso eficiente deste recurso. Um exemplo de sucesso nesta área é o da Alemanha, que entre 1990 e 2009 reduziu o consumo energia elétrica através de investimentos em eficiência e aumentou a participação das energias renováveis em sua matriz elétrica.
Grande parte de nossa energia elétrica – cerca de 85% – é de origem renovável, gerada nas cerca de 107 hidrelétricas com capacidade de geração acima de 30 Megawatts (MW) e nas 82 pequenas centrais hidrelétricas, com capacidade de geração de até 30 MW, espalhadas pelo país. No entanto, o potencial brasileiro de geração de energia não poluente não se limita à água. Também dispomos de grande quantidade de biomassa, vento e luz solar; outras fontes de energia renovável. A luz do sol, particularmente, apesar de muito mais abundante devido à posição geográfica do território brasileiro, ainda é uma fonte energética pouco explorada.
O Brasil possui taxas de insolação – incidência de luz solar – muito mais altas que os Estados Unidos, Alemanha, Espanha e China. No entanto, são exatamente estes países que fazem os maiores investimentos para aproveitamento da luz do sol; seja em energia solar térmica com aquecimento de água quente, ou em fotovoltaica gerando eletricidade. Apoiados em programas governamentais de incentivos à fabricação e ao uso de painéis solares, estes países são os maiores mercados de geração e consumo de energia solar. Visando reduzir cada vez mais o custo dos painéis solares, principalmente os fotovoltaicos, empresas da Alemanha, por exemplo, planejam investir 360 milhões de euros (cerca de R$ 830 milhões) só no desenvolvimento de novas tecnologias baseadas na nanotecnologia.
No Brasil os investimentos em energia solar ainda são bastante limitados. Apesar de já existirem leis em diversos municípios brasileiros incentivando o uso de energia solar para preaquecimento de água de banho, o custo do equipamento ainda continua sendo um obstáculo à larga disseminação desta tecnologia. Fabricados no Brasil, estes painéis solares térmicos ainda estão longe dos bolsos da maior parte da população. Para incentivar o uso desta tecnologia, no âmbito do programa de moradia do governo “Minha casa, minha vida”, a Caixa Econômica Federal já financiou a instalação de aquecedores solares em mais de 40 mil novas residências.
A energia fotovoltaica, através da qual se gera eletricidade a partir da luz solar, também é pouco utilizada no Brasil, não excedendo uma capacidade total instalada de 3 MW. O principal obstáculo ao maior uso desta tecnologia continua sendo o alto preço dos painéis fotovoltaicos, todos importados, aliado à falta de incentivos governamentais.
O uso da energia solar poderia contribuir para a descentralização do sistema de geração de energia, evitando o risco constante de apagões. Paralelamente, esta fonte energética também poderia suprir os picos de demanda, reduzindo a carga sobre todo sistema e evitando colocar em funcionamento as poluentes termelétricas. Além disso, o abastecimento de comunidades isoladas na região norte – providência em parte já prevista no programa “Luz para todos” do Ministério da Minas e Energia – poderia ser ampliado com o uso de painéis fotovoltaicos.
O que o país realmente precisa é de uma política energética, aliada às características de cada região. Não podemos continuar baseando grande parte de nossa geração elétrica em recursos hídricos, provocando grandes impactos ambientais e sociais, a exemplo das barragens do rio Madeira (Jirau e Santo Antonio) e do rio Xingu (Belmonte). Com isso, eterniza-se o modelo do sistema monolítico de geração e distribuição, mantendo o país sujeito aos constantes apagões. Enquanto isso, o imenso potencial eólico e solar, principalmente no nordeste, permanece inexplorado; o mesmo acontecendo com a biomassa de todo o país. Tais fontes energéticas poderiam proporcionar uma diversificação e descentralização na geração de energia, meta a ser perseguida em uma nação com a extensão territorial como a do Brasil.
(imagens: John Graz)

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