Agricultura e degradação do solo

quinta-feira, 10 de maio de 2012
"Há dois mil e quinhentos anos se tenta fazer metafísica racional, fazer com que a metafísica seja tão rigorosa quanto as matemáticas. Isso nunca se conseguiu! Porque, intrinsecamente, a metafísica não tem a ver com esse sistema de raciocínio!"  -  Jean-François Revel e Matthieu Ricard  -  O monge e o filósofo 

A Revolução Verde foi a grande mudança na agricultura mundial nos últimos quarenta e poucos anos, que possibilitou garantir alimentação para bilhões de pessoas. Trata-se da agricultura como a conhecemos hoje, utilizando grandes volumes de insumos químicos, intensa mecanização, irrigação e ocupando extensas áreas de solo fértil.
Todavia, a constante exploração do solo também acaba cobrando o seu preço: a desertificação e a degradação ambiental já estão afetando 20% das terras agrícolas, 30% das florestas e 10% das pastagens de todo o mundo, segundo especialistas. De acordo com um estudo elaborado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o processo gradual de deterioração dos solos está aumentando ao invés de diminuir. Segundo o estudo, o principal fator causador desta degradação da terra é sua má gestão. As conseqüências imediatas da queda da qualidade do solo é a redução da produtividade agrícola, a queda do nível do lençol freático e a necessidade de aplicar quantidades cada vez maiores de fertilizantes. Em uma fase posterior cai definitivamente a produtividade da terra, forçando os agricultores a migrarem para as cidades ou para outras regiões ainda inexploradas, ainda dispondo de cobertura vegetal original. Em suma, a degradação do solo acaba causando além da insegurança alimentar, migrações e destruição de ecossistemas.    
A população rural afetada por este fenômeno chega a quase um bilhão de pessoas em todo o mundo. Apenas na América Latina, há mais de 500 milhões de hectares comprometidos pelo processo de desertificação, ocasionando uma perda anual de 24 bilhões de toneladas de solo fértil, arrastadas pelas chuvas e pelos ventos e causando o assoreamento dos rios.
Uma volta ao passado, à agricultura anterior à Revolução Industrial, todavia, não é possível. Se na década de 1960 não tivesse sido desenvolvida a Revolução Verde, muito provavelmente teríamos tido várias crises de abastecimento em todo o globo. A agricultura, como vinha sendo praticada durante milênios, não teria condições de alimentar toda a atual população mundial. Basta lembrarmos das grandes epidemias de fome na Europa e na Ásia, que chegavam a dizimar dezenas de milhões de pessoas.
Todavia, é possível que a agricultura seja praticada com mais cuidado com o meio ambiente. Já existem defensivos agrícolas naturais, elaborados à base de extratos vegetais, afetando apenas as pragas sem contaminarem o solo e as plantas. Temos as técnicas de plantio direto, já bastante disseminadas no Brasil, que revolvem menos a terra e assim evitam a perda de material orgânico e a compactação do solo. Dispomos de tecnologias para melhor aproveitamento da água na irrigação. Igualmente, muitas fazendas já se preocupam com a manutenção de áreas com mata natural e com preservação da mata ciliar. Enfim, são práticas que estão sendo utilizadas por agricultores preocupados com a fertilidade do solo e com o ecossistema no qual suas propriedades estão inseridas. 
O Brasil, por seu grande potencial agrícola, deve incentivar práticas que ajudem a preservar este valioso patrimônio de que dispomos: o solo fértil. Este, uma vez perdido será difícil recuperar. Basta olharmos os livros de história, onde lemos sobre as dezenas de povos e culturas que pereceram por perderem a fertilidade de seus solos.
(Imagens: fotografias de Helen Levitt)

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