"A rotação da Terra produz a noite; a noite produz o medo; o medo gera o sobrenatural: - divindades e demônios têm a origem comum na treva. Quando o sol raia, desdemoniza-se a natureza. Cessa o Sabá. Satã afunda no Inferno, seguido da alcatéia inteira dos diabos menores." - Monteiro Lobato - Idéias de Jeca Tatu
A questão da eficiência no uso dos recursos é
tema cada vez mais atual no mundo. Economias industrializadas, altas
consumidoras de insumos, estudam, desenvolvem e aplicam cada vez mais técnicas
e tecnologias que possibilitem utilizar os insumos de uma forma mais eficiente,
com menos desperdício. Países como o Japão, a Alemanha e os Estados Unidos
estão consumindo menos insumos – principalmente energia – mas produzindo mais.
O custo para geração de bens e serviços está caindo, dados os altos
investimentos em pesquisa, formação e capacitação.
Já no Brasil ainda avançamos a passos lentos.
Em todas as áreas; agricultura, indústria e serviços, as perdas são muito
grandes, encarecendo produtos e serviços e dilapidando nossos recursos naturais
– solos férteis, florestas naturais, ar, água e ecossistemas. Basta percorrer a
imprensa com alguma atenção, para formar um quadro do desperdício:
desflorestamento da Mata Atlântica aumentou 29% em relação ao período
2010/2011; somente 3% do lixo residencial são reciclados, causando perdas de 10
bilhões de reais por ano ao país; média de 35% da água tratada no Brasil é
perdida (em algumas regiões este índice é superior a 50%); uso excessivo de
agrotóxicos causa doenças e contamina solos; perda de energia elétrica na
geração e transmissão causada por equipamentos antiquados; setor da construção desperdiça
cerca de 30% de material e insumos; trânsito na cidade de São Paulo causa
prejuízos de 30 bilhões de reais ao ano; mais de 30% da produção agrícola é
perdida por falta de estrutura de armazenagem e transporte, e por aí vai...
Isso tudo acontece no país cuja economia é a
sétima maior do mundo; cujo parque industrial é o décimo quarto e cujo setor
agropecuário é o terceiro no planeta, além da imensa extensão territorial e
abundância de recursos. Às vésperas de eventos de destaque mundial, que
poderiam projetar a imagem de um país dinâmico, a caminho do crescimento
econômico e do equilíbrio socioambiental (como o governo ainda pretende fazer
parecer), como a Copa de Futebol (2014) e as Olimpíadas (2016), não fomos
capazes de preparar a infraestrutura do país, para colocá-la ao nível destes
eventos. Grandes obras, como a transposição do São Francisco, rodovias
estaduais e federais, ferrovias, pontes; estão paralisadas em parte por
suspeita de desvio de verbas.
As causas desta ineficiência – existem
exceções – são as mais diversas. Uma delas, por exemplo, é a inoperância de segmentos
do setor público brasileiro; seja o legislativo, o executivo ou o judiciário. Parte
da máquina pública, de uma forma geral, é dominada por interesses políticos e
grupos de poder. Aliado a isto, funcionários nos diversos escalões estão pouco
preparados, mal remunerados e sem qualquer incentivo ou punição – além de
muitas vezes presenciarem os maus exemplos nos escalões superiores. Para
completar o quadro, muita burocracia, má alocação de verbas – recursos existem,
mas geralmente mal gerenciados – o que muitas vezes cria um ambiente propício
para todo tipo de corrupção.
A atuação do setor público influencia toda a
sociedade; já que é este que cria e controla o cumprimento das leis, elabora as
estratégias econômicas e sociais, além de dispor dos maiores volumes de
recursos para investimentos. O Estado deve existir para servir todos os seus
cidadãos e não o contrário.
(Imagens: George Bain)
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