Efeito tóxico de produtos

sábado, 22 de junho de 2013
"Mas eu sabia 'fazer' uma dissertação e disfarçar razoavelmente minhas ignorâncias, tratando a priori, de qualquer assunto, e naturalmente dentro da ordem de um bom texto universitário, com todo o suspense teórico desejável, o que Jean Guitton me ensinara para o resto da vida."  -  Louis Althusser in Ateísmo e revolta, de Paulo Jonas de Lima Piva

Em estudo intitulado "Praguicidas agrícolas como fator de risco" a Universidade Estadual Paulista (UNESP) analisou, entre outros, o potencial tóxico do diuron, um herbicida bastante utilizado nas culturas de soja e cana-de-açúcar. Em testes, o produto, segundo matéria publicada na revista online FAPESP de 22/4/2013, provocou câncer na bexiga de ratos de laboratório. Segundo o coordenador do estudo, o médico e professor titular de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, João Lauro Viana de Camargo, "mostramos que, quando eliminados pela urina, o diuron ou seus metabolitos provocam necrose em múltiplos focos do urotélio, o revestimento da bexiga. Em resposta, esse revestimento prolifera para substituir as áreas lesadas. A proliferação celular contínua, se mantida durante muito tempo, acaba levando a erros nas sucessivas cópias do DNA, alguns deles predispondo ao desenvolvimento de tumores". O produto não provoca lesões diretamente no DNA, mas tem efeitos quando existe uma exposição constante. O alerta sobre a substância foi dado pela agência de proteção ambiental do governo americano (EPA). Dados sobre o diuron na internet informam que o produto não causa câncer em ratos com baixa exposição e que não há evidência de que cause a moléstia em humanos. (http://pmep.cce.cornell.edu/profiles/extoxnet/dienochlor-glyphosate/diuron-ext.html).
Segundo especialistas, existem três tipos de intoxicação provocada por agrotóxicos: a aguda, a subaguda e a crônica. A aguda se apresenta algumas horas depois de forte exposição por curtos períodos de tempo a substâncias extrema ou altamente tóxicos, manifestando-se de forma leve, moderada ou grave. A intoxicação subaguda aparece depois de exposição leve ou moderada a produtos alta ou medianamente tóxicos, manifestando-se de forma mais lenta. Por fim, a intoxicação crônica, que se manifesta depois de meses ou anos, após exposição leve ou mediana a produtos tóxicos, acarretando danos irreversíveis; provocando paralisia ou crescimento exagerado de células (neoplasia).
O diuron é apenas um exemplo das inúmeras substâncias a que estamos expostos como consumidores, sem que uma análise detalhada de seus efeitos sobre a saúde tenha sido feita. Isto não se aplica somente aos agrotóxicos; incluem também produtos de limpeza, remédios e até alimentos. Por outro lado, é preciso considerar que grande parte das substâncias químicas utilizadas na agricultura, indústria e no consumo é testada quanto aos seus efeitos, por diversos órgão de controle - no caso do Brasil esta tarefa geralmente cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Assim, atualmente quase já não é mais possível lançar um produto sem que seus componentes tenham sido testados e aprovados por agências especializadas. No entanto, permanece ainda em discussão o detalhamento e a duração destes testes. 
Outro fator refere-se ao uso do produto. Qualquer substância indevidamente utilizada - seja por períodos excessivamente longos ou em quantidades exageradas - pode causar algum tipo de dano ao organismo ou ao ambiente. Se, por um lado, qualquer produto químico, do mais forte agrotóxico ao corante colocado no alimento, tem seus efeitos colaterais, por outro é necessário seguir estritamente as prescrições do fabricante - precaução que de imediato já permite reduzir bastante os potenciais efeitos tóxicos do produto.
(Imagens: fotografias de Andre Kertesz) 

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