Fauna extinta ajudou a fertilizar o solo amazônico

sábado, 24 de agosto de 2013
“He's a real nowhere man,
Sitting in his Nowhere Land,
Making all his nowhere plans
for nobody.

Doesn't have a point of view,
Knows not where he's going to,
Isn't he a bit like you and me?”

The Beatles  -  Nowhere Man

O meio ambiente está sempre mudando. Seja pela ação do homem ou pelas forças da natureza; fato é que paisagens sempre são alteradas ao longo do tempo. As mudanças nos ecossistemas também provocam o desaparecimento de espécies da fauna e da flora, quando suas condições de sobrevivência são alteradas. Ocorre que determinadas plantas ou animais, privados de quantidade suficiente de água, alimentos, sombra ou sol, tendem a desaparecer enquanto que outras espécies, mais bem adaptadas às novas condições, passam a se multiplicar. É desta maneira aparentemente simples, que também pode ocorrer a evolução (Darwin utilizava a expressão "transmutação") das espécies.
Uma ilustração destes fatos foi publicada recentemente na revista Nature Geoscience. O artigo, preparado pelos pesquisadores Christopher Doughty, Adam Wolf e Yadvinder Malhi da universidade de Oxford, na Inglaterra, aponta a importância de certas espécies de animais na formação de ecossistemas. Segundo os autores foram animais gigantes, já extintos, que ajudaram a fertilizar a bacia amazônica, espalhando nitrogênio, fósforo e outros nutrientes, contidos em seus excrementos.
Na maior parte do Pleistoceno, período geológico que se estende de 2,5 milhões até 11,5 mil anos atrás, a Terra era mais fria e grande parte dos hemisférios Norte e Sul era coberta por espessas camadas de gelo. Este processo, chamado de glaciação, fez com que o nível dos oceanos baixasse em até 120 m e que mesmo regiões tropicais, como a Amazônia, tivessem uma temperatura mais baixa e menos chuvas. Nessa época a vegetação predominante da América do Sul era savana, parecida com a atual savana africana. Neste bioma viviam mamíferos de grande porte como os mastodontes (antepassados dos elefantes), preguiças gigantes, gliptodontes (tatus do tamanho de um carro pequeno), rinocerontes lanudos e outras espécies já extintas. Todos estes animais eram herbívoros e através dos vegetais incorporavam nitrogênio e fósforo, que devolviam ao solo através de suas fezes e urina. Com seus constantes deslocamentos à procura de alimentos, estes animais ajudaram a distribuir estes elementos químicos em áreas muito extensas.


Esta megafauna desapareceu há 12 mil anos, provavelmente pela mudança do clima que começava a aquecer, e pela chegada dos humanos que passaram a caçar estes animais. A produção de nitrogênio e fósforo, elementos básicos para as plantas caiu, segundo os autores do estudo, em 98% depois da extinção destes grandes mamíferos. Com o aquecimento, a floresta voltou a se espalhar, a frequência das chuvas aumentou e cresceu o volume dos rios. Os nichos ecológicos deixados pelos mamíferos gigantes foram rapidamente ocupados por outros animais, que se desenvolveram nos novos ecossistemas criados na região amazônica.  
Estudos como o apresentado comprovam que fatores diversos podem contribuir para a formação de ecossistemas. Sabe-se, por exemplo, que os povos pré-colombianos já promoviam grandes queimadas em regiões florestais e que plantavam árvores frutíferas em locais específicos da mata. Com isso, contribuíram para o desaparecimento de espécies vegetais e animais de certas regiões, introduzindo outras. Através de tais processos formam-se os diferentes ecossistemas como hoje os conhecemos e já estamos ajudando a alterar.
(Imagens: fotografias de José Medeiros) 

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