Não é só a economia que vale

sábado, 28 de setembro de 2013

A poesia da noite

Sobre o pano da mesa e nos jarros de um gosto improvável
colocaram flores e gestos de parentes extintos
que um microfone cuidadosamente disfarçado
irradiou toda a noite para muito longe.

João Cabral de Melo Neto  -  O cão sem plumas 

Ao longo dos últimos 60 anos, falou-se muito sobre índices de desenvolvimento de países. Os parâmetros para medir o quanto um país estava evoluindo economicamente foram estabelecidos pelo Banco Mundial, a partir do final dos anos 1940. Critérios macroeconômicos como o Produto Interno Bruto (PIB), que engloba a soma de todos os bens e serviços produzidos por um país durante um ano; a Paridade do Poder de Compra (PPC), que mede o poder de compra internacional de bens e serviços de uma determinada moeda; foram adotados em todos os foros internacionais, avaliando o crescimento econômico de uma nação e comparando-o com o de outras. Estes índices tiveram um importante papel na expansão do capitalismo em sua maior fase de crescimento, entre os anos 1950 e 1990.
No entanto, já faz algum tempo que muitos economistas, políticos e ativistas perceberam que o PIB ou o PPC não eram parâmetros ideais para medir o quanto um país havia crescido, já que eram grandes generalizações que só focavam aspectos econômicos. Percebeu-se, por exemplo, de que a maioria dos cidadãos de um país poderia ficar mais pobre e o PIB mesmo assim apresentar um crescimento. Este quadro caracteriza um processo de gradual concentração de renda; exatamente o que ocorreu no Brasil entre os anos 1950 até a década de 1990.
Outro aspecto deste tipo de avaliação é que o desmatamento de extensas áreas de floresta amazônica e de Cerrado, substituídos pela cultura da soja e criação de gado, também foi computado como crescimento do PIB. Uma análise econômica simplista considerava apenas a nova riqueza que era gerada com o plantio e venda da soja e da carne, mas não levava em conta a riqueza natural - a biodiversidade e os ecossistemas - destruídos pela atividade agropecuária.
A partir dos anos 1990 a Organização das Nações Unidas (ONU) mudou o foco na avaliação do grau de desenvolvimento dos países, criando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Esta estatística é composta a partir de dados como: expectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capita. Sob a ótica do desenvolvimento humano, as nações são assim classificadas em desenvolvidas, em desenvolvimento e subdesenvolvidas. O Brasil, de acordo com estes parâmetros está situado em nível de desenvolvimento médio (0,730), em uma lista que tem a Noruega como país com IDH mais alto (0,955) e a República Democrática do Congo como menos desenvolvido (0,304).
Em uma avaliação independente, realizada recentemente pelo grupo financeiro suíço RobecoSAM, o Brasil ocupou a posição 45 em um ranking de 59 países. Os critérios utilizados pelos avaliadores incluíam 17 indicadores, divididos em: meio ambiente (status, riscos e energia); aspectos sociais (bem-estar, trabalho, igualdade, desenvolvimento humano, greves/gargalos); e governança (liberdade e desigualdade, competitividade, riscos políticos, eficiência, aplicação das leis, corrupção, estabilidade, qualidade regulatória, instituições, políticas para a terceira idade/demografia). Na América Latina o país ficou atrás da Argentina, Peru, Colômbia, Chile e no mundo a Suécia é a primeira colocada.
A posição ocupada pelo Brasil nesta avaliação é considerada péssima pelos especialistas e demonstra o quanto ainda estamos atrasados social e ambientalmente em relação a outras nações. O incentivo excessivo do consumo, sem olhar para outros aspectos, foi um dos enganos do governo.
(Imagens: fotografias de Robert Doisneau)

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