Uso de antibióticos em animais de abate

sábado, 24 de maio de 2014

"O senhor irá tremer diante da morte." 
"Sim, mas eu não terei falhado em nada do que faz a minha missão, que é a de viver."
Albert Camus  -  Cadernos (1937-39)  -  A desmedida na medida


O uso de antibióticos na criação de animais de abate - suínos, aves, bovinos - é prática bastante comum em todo o mundo, principalmente em países produtores de carne, como os Estados Unidos e Brasil. O uso do antibiótico como promotor do crescimento foi descoberto nos Estados Unidos, no final da década de 1940. Em 1951 o FDA (Food and Drug Administration), órgão controlador de alimentos e medicamentos do governo americano, aprova seu uso para acelerar e aumentar a absorção de vitaminas contidas nos alimentos, fazendo com que os animais adquiram mais peso em menor tempo. Além disso, o uso destas substâncias melhora a saúde e a resistência dos animais, diminuindo sua mortalidade.
Segundo fontes pesquisadas, existem no Brasil normas bastante restritivas quanto ao uso de antibióticos como complemento alimentar em animais monogástricos (não ruminantes), principalmente suínos e aves. Estas diretrizes foram aprovadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e se referem ao uso de antibióticos destinados a melhorar a digestão de alimentos, sem afetar as bactérias benéficas que se encontram no trato digestivo dos animais. Normativas do MAPRA também proíbem o uso de antibióticos de uso humano em animais monogástricos. Outra fonte pesquisada (Revista UFG - Dossiê pecuária - Dezembro de 2012), reporta que ainda não existem provas de que uma bactéria que adquiriu resistência ao antibiótico no intestino de um animal, tenha transmitido esta mesma resistência a uma bactéria localizada no intestino humano.
Fatos um pouco diferentes são apresentados em um artigo publicado pela Bloomberg em março de 2013, sob o título "Uso excessivo de antibióticos pode levar a uma crise da saúde pública" (Antibiotic overuse could lead to public health crisis). Diz o texto que aproximadamente 80% de todos os antibióticos em uso no EUA são regularmente administrados aos animais, segundo relatório do FDA. Em 2011, segundo o documento, foram vendidos aproximadamente 66 toneladas de antibióticos ao setor de criação de animais; quase seis vezes o que foi destinado ao consumo humano. Segundo a deputada americana Louise Slaughter, do partido democrata de Nova York, "Estamos à beira de uma catástrofe de saúde pública. A ameaça de doenças resistentes aos antibióticos é real, está crescendo e aqueles mais em risco são os idosos e as crianças."
O relatório anual do FDA, o Sistema Nacional de Monitoramento da Resistência Antimicrobiana (NARMS), revela que 78% das salmonelas (gênero de bactéria causador de infecções graves) encontradas no peru, já desenvolveram resistência contra pelo menos um tipo de antibiótico, assim como 75% das salmonelas encontradas no frango. O problema é que para combater a salmonela não existem centenas de tipos de antibióticos; seu numero é bem limitado. "Por isso, na hora do tratamento, a escolha precisará ser feita com todo o cuidado", diz Gail Hansen, especialista do governo americano no assunto.
Portanto, o grande problema no uso intensivo de antibióticos em animais de abate, não é o fato de que uma bactéria, localizada no organismo humano, adquira resistência contra a substância. O perigo é que o ser humano, ao ingerir uma bactéria prejudicial, esta já tenha desenvolvido resistência contra os antibióticos, dificultando assim seu combate.
(Imagens: fotografias de Maurice Tabard)

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