País aumentará investimentos em termelétricas

sábado, 20 de setembro de 2014
"Todos os procrastinadores adiam as coisas que precisam fazer. A procrastinação estruturada é a arte de fazer este traço negativo trabalhar por você. A ideia central é que a procrastinação não significa que você não vai fazer absolutamente nada. Procrastinadores raramente não fazem absolutamente nada; eles fazem coisas marginalmente úteis, como jardinagem, apontar lápis ou criar um diagrama de como vão organizar seus arquivos quando se decidirem a iniciar"  -  John Perry  -  A arte da procrastinação

O que muitos cientistas das áreas da climatologia e do meio ambiente já vinham prevendo há mais de uma década, parece se tornar cada vez mais real. Fenômenos como o das mudanças climáticas, associados à sazonalidade do El Niño (variação da temperatura do oceano Pacífico que influi no volume das chuvas no Brasil), pesarão cada vez mais sobre setores da economia brasileira, como a agricultura e a geração de energia elétrica. As duas atividades dependem essencialmente das chuvas; sobre as quais temos pouca influência, e que devido ao clima poderão se tornar menos freqüentes.
A água, através das hidrelétricas, sempre foi a principal matriz de energia elétrica no Brasil, desde quando, nos anos 1950, se começaram a construir as primeiras barragens. Estas eram instaladas em vales profundos, onde o represamento da água formava um largo e profundo lago, com estoque de líquido suficiente para acionar os geradores mesmo em épocas de pouca chuva. A dificuldade em encontrar novos rios caudalosos em vales profundos, levou o governo a construir hidrelétricas com reservatórios pouco profundos e de grande área, provocando inundação de vastos territórios e desalojando milhares de pessoas. Nos últimos anos, para contornar o problema, a solução encontrada foi a hidrelétrica a fio d’água; assim chamada porque não tem reservatório, sendo suprida por um rio ou canal. A desvantagem deste tipo de usina é que não dispõe de uma reserva d’água que permita a geração de eletricidade em períodos de pouca ou nenhuma chuva. Com pouca precipitação, a geração de energia é reduzida ou até interrompida.
Do lado do consumo da eletricidade haverá, segundo a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), um aumento médio anual de 5% nos próximos dez anos. Do lado da geração, existe cada vez menos espaço para a construção de grandes hidrelétricas, já que isto implicaria destruir áreas de proteção ambiental, desalojar populações locais e ocupar reservas indígenas. Um dos últimos megaprojetos planejados pelo governo é o de São Luiz de Tapajós, que deverá gerar oito mil megawatts (MW). A solução alternativa, segundo orientação do governo, é aumentar os investimentos em termelétricas movidas a gás e carvão. Com isso, nas previsões do Ministério das Minas e Energia (MME), a matriz hidrelétrica que hoje supre 69% da demanda de eletricidade, deverá cair até 2023 para 61%. Neste mesmo período, a geração eólica crescerá de 4% para 12% e as termelétricas continuarão suprindo 15% da demanda – que, todavia, será maior. Para tanto, o governo prevê aumentar a geração termelétrica dos atuais 1,5 mil (MW) para 7,5 mil MW.
A falta de locações adequadas para novos projetos e a previsão de sazonal redução do volume de chuvas, são dois fatores que tenderão a limitar os investimentos em hidrelétricas. Apesar destes novos aspectos no quadro da geração de eletricidade no país, ainda não existe um consenso sobre o rumo a ser dado ao setor no futuro. Os programas dos atuais presidenciáveis, incluindo a candidata à reeleição, são pouco específicos com relação às matrizes a serem priorizadas. Sinaliza-se uma tendência de aumento da geração eólica nas previsões do próprio governo, mas permanece uma incógnita quanto à política energética futura em relação a outras energias renováveis, como a solar fotovoltaica e a energia de biomassa. Além disso, são poucas as ações concretas do governo com relação à eficiência energética, lembrando que “a energia mais barata é aquela que não precisa ser gerada”. Enquanto países mais industrializados priorizam cada vez mais a eficiência dos processos - a economia de energia - o Brasil continua no passado, pensando somente em termos de geração para atender uma demanda cada vez mais alta. 
(Imagens: pinturas rupestres de Lascaux)

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