O ensino da sociologia no nível médio

sábado, 6 de dezembro de 2014
"Quanto à democracia, todos sabemos que os impérios fortes  a mantêm em casa; só os impérios em declínio a concederam, e na menor dose possível."  -  Eric Hobsbawm  -  Globalização, democracia e terrorismo

De maneira diferente ao restante da América Latina e Europa, onde a sociologia começou a ser ensinada no curso superior, no Brasil o ensino da sociologia começou no curso secundário. No Rio de Janeiro o ensino da sociologia teve início no tradicional colégio Pedro II; em São Paulo e Recife em escolas normais, que – equivalentes ao atual nível médio – preparavam professores para o ensino básico. Deduz-se disto, que o ensino da sociologia no Brasil não visava formar novos professores desta matéria. As cadeiras de sociologia nas escolas, como dizem os próprios historiadores da matéria, eram dadas a autodidatas, profissionais sem conhecimentos aprofundados sobre a disciplina.
É somente a partir de 1933 que passa a existir um curso superior de sociologia, na escola livre de Sociologia e Política de São Paulo. Neste início do ensino da sociologia no Brasil, grande parte dos professores era de origem estrangeira, como pode ser constatado do quadro de professores da Universidade de São Paulo (USP), fundada em 1934.
O ensino da sociologia foi se desenvolvendo, principalmente no estado de São Paulo, onde grandes nomes como Florestan Fernandes se destacavam como docentes da USP. Em 1958 o educador Anísio Teixeira funda no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos; o Núcleo de produção de estudos da Sociologia da Educação, que se dedicará a produzir pesquisas nesta área. A iniciativa, no entanto, foi suspensa com as novas diretrizes educacionais estabelecidas depois do golpe militar de 1964. Em 1968, com a reforma do ensino, a pesquisa universitária passa a ser definitivamente desvinculada do ensino. A partir daí ocorre um crescente distanciamento da pesquisa e do ensino da sociologia que perdura até hoje.  
Um dos grandes debates referentes ao ensino da sociologia no nível médio na década de 80 e 90 era com relação à qualidade do material didático. Não havia material específico; os manuais eram generalistas ou eram publicações destinadas aos primeiros semestres dos cursos de ciências humanas e jornalismo. Outro aspecto é que as escolas de ciências sociais, como a escola da USP, não se preocuparam em criar cursos específicos para a formação de professores para o ensino secundário. Além disso, não havia material disponível para os professores; não havia uma prática longamente experimentada e implantada.
Parte destes problemas começou a ser resolvida com a nova Lei das Diretrizes de Base (LDB nº 9.394/96), que também estabeleceu alguns aspectos no ensino da sociologia no nível médio. Mesmo assim, no entanto, os parâmetros do ensino desta matéria ainda não estão totalmente unificados, havendo grandes variações na sistemática e no conteúdo de escola para escola. Outro aspecto é que o ensino da sociologia, apesar de obrigatório no nível médio, ainda não está implantado no currículo de todas as instituições de ensino. Persiste a falta de material didático específico e ainda não existem professores capacitados em número suficiente.
Lançadas as bases para o ensino de matérias banidas pelo período ditatorial, como a filosofia e a sociologia, é preciso que o Ministério da Educação e as secretarias estaduais efetivamente se envolvam com o tema, estabelecendo as diretrizes para o ensino científico da sociologia, impedindo que a matéria seja ministrada sob a ótica de ideologias e metodologias políticas reducionistas.
(Imagens: trabalho na Idade Média)

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