Avanço tecnológico e gestão de recursos

sábado, 7 de março de 2015


[...] Tudo está sempre por um fio, um
segundo entre cair e espatifar-se
um milésimo e eis o precipício

Talvez por isso o cidadão comum
procure sempre e tanto agarra-se 
na rotina, na fé, até no vício

Domingos Pellegrini  -  Gaiola Aberta  -  1964-2004


Todas as sociedades passadas, presentes e futuras, subsistiram e subsistirão através do uso de recursos naturais. A afirmação parece óbvia. No entanto, ao estudarmos os diferentes períodos históricos – e também os pré-históricos – aprendemos que os recursos naturais raramente foram usados com parcimônia pela humanidade. A luta pela sobrevivência de nossos antepassados, fez com que diversas espécies de mamíferos e aves fossem extintas na África, Europa, Austrália e América, entre 50 e 10 mil anos atrás. Na Antiguidade, gregos e romanos derrubaram imensas florestas de cedro na orla do Mediterrâneo, para construírem suas frotas navais de comércio e guerra. O aumento da população européia a partir do século X provocou a expansão da agricultura e com isso a derrubada de florestas, aterramento de pântanos e a canalização de rios.
A exploração dos recursos só não era maior, porque faltava tecnologia. O carvão mineral, por exemplo, parece ter sido usado como combustível nos séculos II e III em certas regiões da então província romana da Germânia. Depois, sua utilização foi esquecida, vindo a ser redescoberta no século XII, como substituto à lenha, que estava escasseando em certas regiões da Europa. Seu uso, porém, não se tornou disseminado, já que o carvão não era encontrável em todos os lugares e seus custos de transporte eram muito altos. Assim, foi somente no século XVIII, com o advento da industrialização na Europa, que o carvão mineral passou a ser explorado em quantidades cada vez maiores.
Pouco desenvolvimento tecnológico faz com que se utilize menor diversidade de recursos naturais ou que os já conhecidos sejam usados de forma limitada. A água, pelo menos até antes do início da Revolução Industrial, era utilizada para regar as plantações, dessedentar humanos e animais, carregar resíduos e – de forma ainda primitiva – gerar trabalho com o acionamento de máquinas. Fazendo uso de sistemas de roldanas e cabos, as cerrarias podiam acionar longas serras e as tecelagens movimentavam as pesadas máquinas de tecer. No início do século XVIII, o inglês James Watt aprimoraria a utilização do vapor d’água para aumentar a capacidade das máquinas e assim ampliaria as aplicações da água. Ainda no século XIX se inventaria uma máquina (turbina) que, aproveitando o movimento da água, geraria eletricidade. Ao mesmo tempo aumentava a utilização da água na nascente indústria química, na siderurgia e nas primeiras estações de tratamento de água e de esgotos, instaladas nas grandes cidades europeias. As diversas aplicações da água à movimentação da economia aumentavam exponencialmente.
A partir dos anos 1950 do século XX toma importância cada vez maior a gestão dos recursos hídricos, associada à implantação de grandes obras de infraestrutura, expansão da revolução verde na agricultura e financiamento internacional de projetos hídricos em países pobres e em desenvolvimento. No Brasil, foi o período em que começaram a aparecer os projetos das estações de água e de efluentes, sem que chegassem a atender toda a demanda – pelo menos até hoje.    
A recente crise hídrica por que passam diferentes regiões do Brasil, reflete também a má gestão do precioso recurso. Atualmente, dispomos de conhecimentos técnicos e capital, que, se bem utilizados, poderiam ter diminuído o impacto da falta de água. Faltou vontade política e iniciativa aos diversos governos; sempre é mais simples e econômico adiar a solução de  problemas e transferi-los para o futuro. As gerações futuras acabam sempre pagando a conta.  

(Imagens: fotografias de Gaspar Gasparian)

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