Os mangues e sua importância

sábado, 21 de março de 2015
[...] "E eu acho que esse pó, que forma uma espécie de teia de aranha, atrás da fileira de livros, talvez seja não menos necessário para a história universal ou para a trama do que qualquer outro fato; que uma batalha por exemplo. Ou seja, tudo faz parte dessa trama cujo final ignoramos - nem sabemos sequer se tem um final."  -  Jorge Luis Borges e Osvaldo Ferrari - Sobre a filosofia e outros diálogos

Os manguezais no Brasil estendem-se do Amapá até Santa Catarina, formando uma estreita faixa de largura variável, que acompanha a planície litorânea. Este tipo de ecossistema, resistente à alta salinidade da água e do solo, situa-se entre o mar e a floresta, sujeito às marés e às cheias dos rios. A área ocupada por este bioma é estimada em 20 mil km², mas não existem números exatos sobre sua extensão. A exploração e ocupação de extensas faixas de manguezais ao longo dos últimos cinco séculos - processo acelerado com a industrialização e a expansão urbana nos últimos 50 anos - fizeram com que os mangues fossem desaparecendo da paisagem em muitas regiões.
Na região Norte, onde existem os mais extensos manguezais devido ao grande aporte de resíduos trazidos pelos rios de planícies, encontram-se bosques com árvores cuja altura varia entre 15 a 20 metros. Em outras regiões do país, os manguezais têm vegetação mais baixa, situando-se em locais onde correm rios perenes e em áreas baixas, protegidas das ondas do mar. Nestas biomas forma-se um ambiente único, criadouro de diversas espécies de peixes, crustáceos e moluscos; além de aves, répteis e pequenos mamíferos. Devido à grande concentração de espécies animais que sobrevivem neste ecossistema, os manguezais foram comparados aos recifes de corais, que no oceano têm uma função ecológica parecida.
É interessante observar que parte das primeiras cidades fundadas no Brasil à época do descobrimento situava-se perto de regiões de mangue. Cananéia, Iguape, Itanhaém, São Vicente, Santos, Bertioga, Rio de Janeiro, entre outras, estavam (e em parte ainda estão) cercadas por mangues. Muitos eram ocupados por indígenas e por povos mais antigos ainda, como o "povo do sambaqui", que vivia nestas regiões desde há nove mil anos atrás.
A constante ocupação de uma região mostra que lá existe boa oferta de alimentos; papel que os manguezais ainda têm atualmente. Com a gradual colonização do Brasil, gerações de populações litorâneas - em São Paulo chamados de caiçaras - sempre dependeram do mangue para garantir ou completar sua alimentação. Além desta função, os manguezais também protegem a costa contra a força de erosão das marés, mais ainda em tempos de mudanças climáticas, quando o nível do oceano tenderá a se elevar. Outro serviços ambiental prestados pelos mangues é o de atuar como um filtro, purificando a água que o atravessa - o caso de rios poluídos parcialmente com esgotos e carregando restos de agrotóxicos ou resíduos industriais.  
Segundo o estudo "Manguezais da Baixada Santista, São Paulo - Brasil: uma bibliografia", de autoria das cientistas Ana Lucia Gomes dos Santos e Sueli Ângelo Furlan (http://www.uc.pt/fluc/cegot/VISLAGF/actas/tema3/ana_lucia), o estado de São Paulo tem uma área de 231 km² de manguezais, dos quais 28 km² encontram-se degradados ou alterados. A Baixada Santista e o Litoral Sul concentram a maior área de mangue, totalizando 228 Km².  
Desta, a maior parte encontra-se parcialmente preservada, mas vem sofrendo forte pressão principalmente devido ao adensamento populacional e a consequente ocupação irregular de extensas áreas, notadamente nos municípios de Santos, Guarujá e São Vicente. No Litoral Sul do estado, em Iguape, Cananéia e Ilha Comprida, o mangue continua bem preservado, podendo cumprir sua função original, sem forte intervenção humana. 
(Imagens: pinturas de André Crespo)

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