Áreas contaminadas

sábado, 23 de abril de 2016
"Recorda-te de que, ainda que sejas de natureza mortal e com um limite finito de vida, te debruçaste, mediante a investigação da natureza, no que é infinito e eterno, e contemplaste o que é agora, será e sempre foi no tempo transcorrido."  -  Epicuro  -  Antologia de textos

A ocorrência de contaminações do solo por atividades econômicas são cada vez mais frequentes em todo o mundo, inclusive no Brasil. Este tipo de poluição ambiental ocorre quando líquidos ou sólidos de alguma toxicidade, penetram ou permanecem em contato com o solo. Depois de certo tempo, geralmente pela ação da chuva, estes resíduos acabam atingindo camadas mais profundas do subsolo, contaminando o lençol freático. Dentro do solo estes poluentes tóxicos podem se deslocar por longas distâncias, movendo-se junto com a água, por entre as camadas de terra.
A contaminação dos solos e dos lençóis freáticos por produtos tóxicos está ligada à armazenagem e manipulação destes produtos. Lixões, aterros industriais, galpões e tanques de armazenagem, manuseio e descarte de produtos químicos, efluentes, fertilizantes, agrotóxicos, etc., são geralmente os locais e atividades que podem provocar o vazamento de produtos tóxicos. Não é coincidência então que cerca de 77% das áreas contaminadas identificadas no estado de São Paulo, estejam em terrenos ocupados por postos de combustíveis. Outras áreas muitas vezes poluídas por derramamentos tóxicos são as áreas ocupadas por fábricas desativadas.
A agência ambiental do estado de São Paulo publicou em seu relatório de 2014 ter identificado 5.148 locais contaminados em todo o estado. Especialistas do setor estimam que a quantidade de sítios contaminados seja bem maior, já que estas áreas só podem ser identificadas a partir do momento em que a autoridade ambiental tem acesso à informação. Por vários motivos, inclusive o fato de não quererem arcar com os custos de remediação do local, empresários não comunicam a existência desta poluição.
O problema é mundial mas sua solução depende da legislação e da vontade das autoridades em recuperarem o solo. A China é provavelmente o país com a maior quantidade de áreas contaminadas, devido à grande atividade industrial e ao pouco controle das agências de meio ambiente sobre este tipo de poluição. Do solo a contaminação vai para a água, comprometendo o abastecimento de água de diversas cidades, como o noticiário nos informa com certa regularidade. Em outras regiões, como na Europa e os Estados Unidos, o problema da contaminação de solos vem sendo tratado com mais atenção há vários anos. Os EUA já em 1999 identificaram 190 mil áreas contaminadas - numero que atualmente deve ser bem maior. O ministério do Meio Ambiente da Alemanha estimava em 2010 que o país dispunha de 170 mil os sítios contaminados, em todo o país. 
A União Europeia dispõem de uma legislação unificada referente à contaminação de solos desde 2002. Nesta região a questão já avançou tanto, que já não se considera apenas a questão da contaminação do solo urbano. Assim, um dos temas bastante discutidos atualmente é a poluição de solos agrícolas através do cádmio, elemento presente nos fertilizantes fosfatados usados em grande quantidade na agricultura - inclusive no Brasil. No entanto, devido à grande extensão da área agrícola brasileira e à falta de um controle adequado do solo na maior parte das propriedades agrícolas, é provável que esta discussão demore a chegar ao Brasil, já que temos outras prioridades no controle da poluição ambiental. Assim, se conseguirmos identificar o maior número possível de áreas contaminadas e aumentar o ritmo da descontaminação, já será um grande avanço.
(Imagens: pinturas de Lasar Segall)

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