Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 22 de abril de 2020



"Onde antes estavam as fronteiras da ciência, agora está o centro."

(G. C. Lichtenberg)




Tese da privatização perde força


A crise econômica gerada pelo coronavírus já fez as suas primeiras vítimas. Além das dezenas de milhares de trabalhadores demitidos e dos que tiveram salários reduzidos, já são milhares as pequenas e médias empresas em situação de insolvência. As circunstâncias só não são mais caóticas, porque o Estado aportou recursos financeiros para garantir a sobrevivência mínima de trabalhadores e empresários.

Vários setores da economia estão passando por dificuldades financeiras e reclamam por ajuda do governo. No setor de saneamento em todo o pais, por exemplo, a inadimplência dos clientes já chega aos 25% em média. Outros segmentos, como o bancário e o de energia elétrica, começam a se manifestar, também solicitando ajuda. Novamente, vemos o setor privado bater às portas do governo, aguardando apoio financeiro. Repete-se o que sempre ocorreu todas as vezes em que crises afetam a economia.  

No entanto, o discurso neoliberal que caracteriza a ideologia do atual governo e Congresso, sempre foi o do “estado mínimo”, da pouca ou nenhuma intervenção do Estado na economia. Ainda recentemente, o Congresso aprovou legislação que permite a privatização no setor de saneamento. 

Na Europa o processo foi diferente. Áreas da infraestrutura, como tratamento de água e esgoto na Inglaterra e Alemanha, haviam sido transferidos para o setor privado, mas foram reincorporados ao setor público.

Como faríamos no Brasil, se não tivéssemos o Sistema Único de Saúde (SUS) e se gradualmente a estrutura tivesse sido transferida ao setor privado, como planejava o atual governo? No caso da saúde temos dois exemplos extremos: a Alemanha e os Estados Unidos. Na Alemanha, onde o sistema de saúde é público, a pandemia do coronavírus está sendo enfrentada com bastante êxito, com 4.586 mortes até o dia 19/04/2020. Nos Estados Unidos, que não possuem um sistema de saúde público, as mortes chegaram a 165.636, até a mesma data. Evidentemente existem outros fatores em jogo neste quadro, mas a existência de um sistema de saúde operado pelo Estado tem sido estratégico no caso da pandemia.

Tudo indica que a pandemia do coronavírus forçará estados, eleitores, políticos e especialistas a rediscutir a questão da privatização de diversos serviços – principalmente a infraestrutura. É bem provável, que por um longo tempo, as teses neoliberais percam o apoio que vinham tendo.

(Imagem: G. C. Lichtenberg)

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