Vladimir Herzog,
batizado como Vlado Herzog, nasceu na cidade de Osijek, na
Iugoslávia, em 27 de junho de 1937 e morreu em São
Paulo em 25 de outubro de 1975. Seus pais, Zigmund
Herzog e Zora Wolner eram de origem judaica e para escapar ao antissemitismo
durante a Segunda Guerra Mundial tiveram que fugir clandestinamente para a
Itália, de onde emigraram para o Brasil.
Em
São Paulo Vladimir se formou em filosofia na Universidade de São Paulo (USP),
em 1959. Começou a trabalhar no jornal “O Estado de São Paulo”, onde passou a
assinar suas matérias como “Vladimir”, mas era apelidado de “Vlado” pelos
amigos. Por um período de três anos, Vladimir também trabalhou como jornalista
na BBC de Londres.
Naturalizou-se
brasileiro e nos anos 1970 assumiu a direção do departamento de jornalismo da
TV Cultura. Em paralelo a essa atividade, também exercia a profissão de
professor de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Na
mesma época também se dedicava à fotografia, atividade que exercia em paralelo
com projetos de cinema e teatro.
Vlado
também era ligado aos movimentos de redemocratização do país, e atuava como
militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Apesar da política do então
presidente Ernesto Geisel em promover a “lenta e gradual abertura política”,
ainda havia uma forte oposição a qualquer abertura democrática no comando do II
Exército em São Paulo. Foi nesse contexto que se iniciou uma repressão ao PCB,
do qual Vlado era militante, sem, no entanto, exercer qualquer tipo de
atividade clandestina.
Avisado
de que seria chamado para um interrogatório pelo colega também jornalista Paulo
Markun, Vladimir Herzog negou-se a fugir. Convocado a prestar depoimento por
agentes do II Exército em 24 de outubro de 1975, Vladimir apresentou-se espontaneamente
nas instalações do DOI-CODI (Departamento de Operações de Informação - Centro
de Operações de Defesa Interna) no dia seguinte. Foi preso com outros dois outros jornalistas, George Benigno Jatahy Duque Estrada e Rodolfo
Oswaldo Konder.
Vlado,
segundo depoimento dos outros dois jornalistas, negou qualquer ligação com o PCB.
Em seguida, os outros dois jornalistas foram levados para um corredor, de onde
puderam escutar uma ordem para que se trouxesse a máquina de choques elétricos.
Para abafar o som da tortura, um rádio com som alto foi ligado. Logo Konder foi
obrigado a assinar um documento no qual ele confirma ter aliciado Vladimir "para
entrar no PCB e listava outras pessoas que integrariam o partido." Depois
disso Konder foi levado à tortura, e Vladimir não mais foi visto com vida.
Naquele
mesmo dia, 25 de outubro de 1975, o Serviço Nacional de Informações (SNI)
recebeu uma mensagem em Brasília de que "cerca de 15h, o jornalista
Vladimir Herzog suicidou-se no DOI/CODI/II
Exército". Era comum no período da ditadura que o governo militar anunciasse
que as vítimas de suas torturas e assassinatos haviam morrido por
"suicídio", fuga ou atropelamento, fato que na época gerou
comentários irônicos de que Herzog e outras vítimas haviam sido "suicidadas”
pela ditadura. O jornalista Elio
Gaspari, que escreveu sobre este terrível período da história brasileira, reporta
que "suicídios desse tipo são possíveis, porém raros. No porão da
ditadura, tornaram-se comuns, maioria até.”.
O Laudo
de Encontro de Cadáver, expedido pela Polícia Técnica de São Paulo, informa que
Vladimir Herzog “se enforcara com uma tira de pano - a cinta do macacão que o
preso usava - amarrada a uma grade a 1,63 metros de altura”. Ocorre que o
macacão dos prisioneiros do DOI-CODI não
tinha cinto, o qual era retirado, juntamente com os cordões dos sapatos,
segundo a praxe naquele órgão. No laudo, foram anexadas fotos que
mostravam os pés do prisioneiro tocando o chão, com os joelhos dobrados -
posição na qual o enforcamento era impossível. Foi também constatada a
existência de duas marcas no pescoço, típicas de estrangulamento.
Vladimir
era judeu, e
a tradição judaica manda que suicidas sejam sepultados em local separado. Mas
quando os membros da Chevra
kadisha – responsáveis pela preparação dos corpos dos mortos
segundo os preceitos do judaísmo – preparavam o corpo para o
funeral, o rabino Henry
Sobel, líder da comunidade, viu as marcas da tortura. "Vi o corpo de
Herzog. Não havia dúvidas de que ele tinha sido torturado e assassinado",
declarou. Assim, foi decidido que Vladimir seria enterrado no centro
do Cemitério Israelita do Butantã, o
que significava desmentir publicamente a versão oficial de suicídio. As
notícias sobre a morte de Vlado se espalharam, atropelando a censura
à imprensa então vigente. Sobel diria mais tarde: "O assassinato
de Herzog foi o catalisador da volta da democracia".
Anos
depois, em outubro de 1978, o juiz federal Márcio Moraes, em sentença histórica,
responsabilizou o governo federal pela morte de Vladimir
Herzog e pediu a apuração da sua autoria e das condições em que ocorrera, sem
que, no entanto, algo ocorresse. Foi somente em 24
de setembro de 2012 que o registro de óbito de Vladimir Herzog foi retificado,
passando a constar que a "morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos
em dependência do II Exército – SP (DOI-CODI)",
conforme solicitação da Comissão Nacional da Verdade. No
ano de 2018, a Corte Interamericana de
Direitos Humanos condenou o Brasil por negligência na investigação do
assassinato do jornalista.
A missa
em homenagem a Vladimir Herzog reuniu oito mil pessoas na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 31 de outubro de 1975 e foi
uma das primeiras grandes manifestações de protesto contra a ditadura militar e
suas práticas. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, por seu lado, tentou
dificultar ao máximo o acesso à catedral. Mesmo assim, o culto reuniu o então
cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e
o reverendo evangélico Jayme Wright, além de professores, intelectuais,
jornalistas e grande número de pessoas empenhadas na redemocratização do país.
O
assassinato de Vladimir Herzog deu início a vários movimentos e manifestações
de repúdio ao regime militar, unindo todas as forças democráticas da época,
empenhadas em reconduzir o país à democracia.
Frase de Vladimir Herzog
“Quando perdemos a capacidade de nos
indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito
de nos considerarmos seres humanos civilizados”.
(Fontes consultadas: Site Brasil de Fato; Wikipedia; Site Pensador; Site da UFBA)
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