Vladimir (Vlado) Herzog (1937-1975)

domingo, 8 de outubro de 2023

 



Vladimir Herzog, batizado como Vlado Herzog, nasceu na cidade de Osijek, na Iugoslávia, em 27 de junho de 1937 e morreu em São Paulo em 25 de outubro de 1975. Seus pais, Zigmund Herzog e Zora Wolner eram de origem judaica e para escapar ao antissemitismo durante a Segunda Guerra Mundial tiveram que fugir clandestinamente para a Itália, de onde emigraram para o Brasil.

Em São Paulo Vladimir se formou em filosofia na Universidade de São Paulo (USP), em 1959. Começou a trabalhar no jornal “O Estado de São Paulo”, onde passou a assinar suas matérias como “Vladimir”, mas era apelidado de “Vlado” pelos amigos. Por um período de três anos, Vladimir também trabalhou como jornalista na BBC de Londres.

Naturalizou-se brasileiro e nos anos 1970 assumiu a direção do departamento de jornalismo da TV Cultura. Em paralelo a essa atividade, também exercia a profissão de professor de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Na mesma época também se dedicava à fotografia, atividade que exercia em paralelo com projetos de cinema e teatro.

Vlado também era ligado aos movimentos de redemocratização do país, e atuava como militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Apesar da política do então presidente Ernesto Geisel em promover a “lenta e gradual abertura política”, ainda havia uma forte oposição a qualquer abertura democrática no comando do II Exército em São Paulo. Foi nesse contexto que se iniciou uma repressão ao PCB, do qual Vlado era militante, sem, no entanto, exercer qualquer tipo de atividade clandestina.

Avisado de que seria chamado para um interrogatório pelo colega também jornalista Paulo Markun, Vladimir Herzog negou-se a fugir. Convocado a prestar depoimento por agentes do II Exército em 24 de outubro de 1975, Vladimir apresentou-se espontaneamente nas instalações do DOI-CODI (Departamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna) no dia seguinte. Foi preso com outros dois outros jornalistas, George Benigno Jatahy Duque Estrada e Rodolfo Oswaldo Konder

Vlado, segundo depoimento dos outros dois jornalistas, negou qualquer ligação com o PCB. Em seguida, os outros dois jornalistas foram levados para um corredor, de onde puderam escutar uma ordem para que se trouxesse a máquina de choques elétricos. Para abafar o som da tortura, um rádio com som alto foi ligado. Logo Konder foi obrigado a assinar um documento no qual ele confirma ter aliciado Vladimir "para entrar no PCB e listava outras pessoas que integrariam o partido." Depois disso Konder foi levado à tortura, e Vladimir não mais foi visto com vida.

Naquele mesmo dia, 25 de outubro de 1975, o Serviço Nacional de Informações (SNI) recebeu uma mensagem em Brasília de que "cerca de 15h, o jornalista Vladimir Herzog suicidou-se no DOI/CODI/II Exército". Era comum no período da ditadura que o governo militar anunciasse que as vítimas de suas torturas e assassinatos haviam morrido por "suicídio", fuga ou atropelamento, fato que na época gerou comentários irônicos de que Herzog e outras vítimas haviam sido "suicidadas” pela ditadura. O jornalista Elio Gaspari, que escreveu sobre este terrível período da história brasileira, reporta que "suicídios desse tipo são possíveis, porém raros. No porão da ditadura, tornaram-se comuns, maioria até.”.

O Laudo de Encontro de Cadáver, expedido pela Polícia Técnica de São Paulo, informa que Vladimir Herzog “se enforcara com uma tira de pano - a cinta do macacão que o preso usava - amarrada a uma grade a 1,63 metros de altura”. Ocorre que o macacão dos prisioneiros do DOI-CODI não tinha cinto, o qual era retirado, juntamente com os cordões dos sapatos, segundo a praxe naquele órgão. No laudo, foram anexadas fotos que mostravam os pés do prisioneiro tocando o chão, com os joelhos dobrados - posição na qual o enforcamento era impossível. Foi também constatada a existência de duas marcas no pescoço, típicas de estrangulamento.

Vladimir era judeu, e a tradição judaica manda que suicidas sejam sepultados em local separado. Mas quando os membros da Chevra kadisha – responsáveis pela preparação dos corpos dos mortos segundo os preceitos do judaísmo – preparavam o corpo para o funeral, o rabino Henry Sobel, líder da comunidade, viu as marcas da tortura. "Vi o corpo de Herzog. Não havia dúvidas de que ele tinha sido torturado e assassinado", declarou. Assim, foi decidido que Vladimir seria enterrado no centro do Cemitério Israelita do Butantã, o que significava desmentir publicamente a versão oficial de suicídio. As notícias sobre a morte de Vlado se espalharam, atropelando a censura à imprensa então vigente. Sobel diria mais tarde: "O assassinato de Herzog foi o catalisador da volta da democracia".

Anos depois, em outubro de 1978, o juiz federal Márcio Moraes, em sentença histórica, responsabilizou o governo federal pela morte de Vladimir Herzog e pediu a apuração da sua autoria e das condições em que ocorrera, sem que, no entanto, algo ocorresse. Foi somente em 24 de setembro de 2012 que o registro de óbito de Vladimir Herzog foi retificado, passando a constar que a "morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (DOI-CODI)", conforme solicitação da Comissão Nacional da Verdade. No ano de 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil por negligência na investigação do assassinato do jornalista.

A missa em homenagem a Vladimir Herzog reuniu oito mil pessoas na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 31 de outubro de 1975 e foi uma das primeiras grandes manifestações de protesto contra a ditadura militar e suas práticas. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, por seu lado, tentou dificultar ao máximo o acesso à catedral. Mesmo assim, o culto reuniu o então cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo evangélico Jayme Wright, além de professores, intelectuais, jornalistas e grande número de pessoas empenhadas na redemocratização do país.

O assassinato de Vladimir Herzog deu início a vários movimentos e manifestações de repúdio ao regime militar, unindo todas as forças democráticas da época, empenhadas em reconduzir o país à democracia.

 

Frase de Vladimir Herzog

Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados”.


 

(Fontes consultadas: Site Brasil de Fato; Wikipedia; Site Pensador; Site da UFBA)

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