“Hoje,
a fabricação industrial expõe em escala planetária a ‘construção em plataforma’
dos mais variados bens, dos automóveis aos computadores e às roupas. A
plataforma vem a ser um objetivo básico ao qual são aplicadas pequenas mudanças
superficiais, para transformar o produto numa marca específica. O processo de
produção não é exatamente o conhecido processo industrial de produção de bens
em massa. As tecnologias modernas são capazes de transformar rapidamente a
forma e o tamanho de garrafas e caixas; os conteúdos também podem ser maquiados
com mais rapidez na produção eletrônica do que na antiquada linha de montagem,
na qual as ferramentas serviam de maneira fixa a uma mesma finalidade.
Os
fabricantes referem-se a essas mudanças embutidas na moderna plataforma como ‘laminagem
a ouro’, e a imagem é boa. Para vender algo essencialmente padronizado, o
comerciante exalta o valor de pequenas diferenciações concebidas e executadas
de maneira rápida e fácil, de tal maneira que é a superfície que importa. Para
o consumidor, a marca deve ter mais relevância que a coisa em si.
A
fabricação de automóveis é um bom exemplo. Gigantes do setor como a Volkswagen
e a Ford podem produzir e efetivamente produzem versões de um automóvel global –
uma plataforma básica de estrutura, motor e peças –, para em seguida fazer a ‘laminagem
a ouro’ das diferenças superficiais. Não raro, neste tipo de produção, a montagem
na plataforma é feita em países de mão de obra barata no mundo em
desenvolvimento; a ‘laminagem a ouro’ em fábricas de acabamento mais próximas dos
mercados locais. Os computadores são fabricados da mesma maneira: chips, placas de circuito e partes
externas produzidos em plataforma comum longe do mercado transformam-se em
marcas quando já estão mais próximos dos mercados, no tempo como no espaço.”
(Sennett, págs. 133 e 134).
Richard Sennett, A cultura do novo capitalismo
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