Leituras diárias

terça-feira, 5 de novembro de 2024


 

“Hoje, a fabricação industrial expõe em escala planetária a ‘construção em plataforma’ dos mais variados bens, dos automóveis aos computadores e às roupas. A plataforma vem a ser um objetivo básico ao qual são aplicadas pequenas mudanças superficiais, para transformar o produto numa marca específica. O processo de produção não é exatamente o conhecido processo industrial de produção de bens em massa. As tecnologias modernas são capazes de transformar rapidamente a forma e o tamanho de garrafas e caixas; os conteúdos também podem ser maquiados com mais rapidez na produção eletrônica do que na antiquada linha de montagem, na qual as ferramentas serviam de maneira fixa a uma mesma finalidade.

Os fabricantes referem-se a essas mudanças embutidas na moderna plataforma como ‘laminagem a ouro’, e a imagem é boa. Para vender algo essencialmente padronizado, o comerciante exalta o valor de pequenas diferenciações concebidas e executadas de maneira rápida e fácil, de tal maneira que é a superfície que importa. Para o consumidor, a marca deve ter mais relevância que a coisa em si.

A fabricação de automóveis é um bom exemplo. Gigantes do setor como a Volkswagen e a Ford podem produzir e efetivamente produzem versões de um automóvel global – uma plataforma básica de estrutura, motor e peças –, para em seguida fazer a ‘laminagem a ouro’ das diferenças superficiais. Não raro, neste tipo de produção, a montagem na plataforma é feita em países de mão de obra barata no mundo em desenvolvimento; a ‘laminagem a ouro’ em fábricas de acabamento mais próximas dos mercados locais. Os computadores são fabricados da mesma maneira: chips, placas de circuito e partes externas produzidos em plataforma comum longe do mercado transformam-se em marcas quando já estão mais próximos dos mercados, no tempo como no espaço.” (Sennett, págs. 133 e 134).

 

Richard Sennett, A cultura do novo capitalismo

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