Leituras diárias

quarta-feira, 8 de outubro de 2025


 

“Enquanto para Kant o mundo exterior, tal como é sentido e representado, é um produto do homem, na perspectiva hegeliana é um produto para o homem.

A natureza integrar-se-á na história. Será o progresso humano que dará o seu sentido ao futuro cósmico. Neste progresso, a morte adquirirá um significado grandioso: deixará de ser o ‘nada’ dos filósofos antigos e tornar-se-à uma função racional, biológica, social e espiritual. Numa época em que o progresso das ciências biológicas permite afastar a morte animal como lei da vida das espécies e em que o progresso das ciências humanas permite considerar a morte das sociedades, dos regimes e das instituições como fases do processo da civilização, ela será integrada numa filosofia da natureza e da humanidade.

A morte torna-se uma necessidade do devir do mundo e da humanidade.

Embora Hegel tenha utilizado muito raramente a palavra ‘morte’ e nunca tenha ‘meditado’ sobre a morte, Alexandre Kojève pôs em evidência a importância capital da morte na sua filosofia. Ele vai ao ponto de dizer que ‘a aceitação sem reservas do fato da morte ou finitude humana consciente de si mesma é a fonte derradeira de todo pensamento hegeliano’. ‘Aceitação sem reservas do fato da morte’ poderia, em nossa opinião, aplicar-se também ao existencialismo de Heidegger. Digamos antes ‘justificação dialética sem reservas da necessidade da morte’. A morte deixou de ser um ‘fato’ nessa filosofia que digere e assimila os fatos para os transformar em momentos dialéticos.”

 

Edgar Morin (1921-), filósofo e sociólogo francês em O Homem e a Morte

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