“Enquanto
para Kant o mundo exterior, tal como é sentido e representado, é um produto do
homem, na perspectiva hegeliana é um
produto para o homem.
A
natureza integrar-se-á na história.
Será o progresso humano que dará o seu sentido ao futuro cósmico. Neste
progresso, a morte adquirirá um significado grandioso: deixará de ser o ‘nada’
dos filósofos antigos e tornar-se-à uma função racional, biológica, social e
espiritual. Numa época em que o progresso das ciências biológicas permite
afastar a morte animal como lei da vida das espécies e em que o progresso das
ciências humanas permite considerar a morte das sociedades, dos regimes e das
instituições como fases do processo da civilização, ela será integrada numa
filosofia da natureza e da humanidade.
A
morte torna-se uma necessidade do devir do mundo e da humanidade.
Embora
Hegel tenha utilizado muito raramente a palavra ‘morte’ e nunca tenha ‘meditado’
sobre a morte, Alexandre Kojève pôs em evidência a importância capital da morte
na sua filosofia. Ele vai ao ponto de dizer que ‘a aceitação sem reservas do
fato da morte ou finitude humana consciente de si mesma é a fonte derradeira de
todo pensamento hegeliano’. ‘Aceitação sem reservas do fato da morte’ poderia,
em nossa opinião, aplicar-se também ao existencialismo de Heidegger. Digamos
antes ‘justificação dialética sem reservas da necessidade da morte’. A morte
deixou de ser um ‘fato’ nessa filosofia que digere e assimila os fatos para os transformar
em momentos dialéticos.”
Edgar Morin (1921-), filósofo e sociólogo francês em O Homem e a Morte


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