Volta do desmatamento preocupa governo

sábado, 21 de maio de 2011

"O que hoje torna estranho o objeto usual - tal como a carruagem ou o cachorro dos quais fala J. Cocteau - é a fragilidade das condições que presidiram a sua existência: é preciso um número infinito de circunstâncias físicas, históricas, culturais, para que o objeto nomeado carruagem ou cachorro possa ver o dia - circunstâncias tão incalculáveis que o objeto delas resultante aparece de súbito como perfeitamente imprevisível e insólito. Não responde a nehuma necessidade, não se inscreve em nenhum desenvolvimento necessário, não é resultado de nenhum princípio: não é, então, natureza, mas um resultado altamente imprevisível de um jogo de circunstâncias, cujo intercruzamento fortuito pode constituir tanto a carruagem quanto o cachorro." 
Clément Rosset  -  A antinatureza - Elementos para uma filosofia trágica  

O desmatamento da Amazonia parecia estar sob controle e caminhando para índices cada vez menores. A grande floresta, que se estende por uma área de 6,4 milhões de quilômetros em toda a América do Sul, parecia estar mais segura depois de décadas de destruição. Como em 2004, quando o setor madeireiro extraiu o equivalente a 6,2 milhões de árvores, processadas nas serrarias espalhadas por toda a região Norte e depois transportadas para o Sul-Sudeste (64%) ou para o exterior (36%). Ou a ocupação – legal e ilegal – de terra, muitas vezes até financiada pelos bancos estatais, para colocar gado destinado principalmente para a produção de carne destinada à exportação. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 75% dos desmatamentos da Amazônia são provocados pela pecuária. Só no Estado do Mato Grosso, se concentram 70 milhões de cabeças de gado, com uma ocupação territorial baixíssima: menos de um bovino por hectare. Ao que parece, está sobrando terra.
Um dos argumentos usados pelos que estão derrubando a floresta – madeireiros, fazendeiros, grileiros, garimpeiros, entre outros – é que a região precisa de mais desenvolvimento e que seus 25 milhões de habitantes merecem melhores condições de vida. Sem dúvida, é necessário que o governo federal, estadual e municipal, se faça mais presente, através de escolas, assistência médica, transporte e desenvolvimento de atividades econômicas. Por outro lado, é a inexistência de qualquer estrutura de proteção social, que acaba criando um vasto reservatório de mão-de-obra de baixíssimo preço, adquirida exatamente por aqueles que mais contribuem para destruir a floresta. Se houvessem empregos melhores, quem teria interesse em se envolver com atividades arriscadas e ilegais?
Fato é que o nível de desflorestamento vinha caindo gradativamente desde 2004. Entre 2008 e 2009 a derrubada da floresta caiu 45%, atingindo índices mínimos; os menores dos 21 anos anteriores. Na época foi até realizado um evento para comemorar o fato, contando com a presença do então presidente Lula e vários de seus ministros. O baixo índice de desmatamento, noticiado em início de novembro de 2009, também foi bastante explorado pelo governo brasileiro durante a Conferência Sobre o Clima, realizada em início de dezembro daquele ano, em Copenhague. Havia um grande entusiasmo entre os membros do governo, as ONGs e instituições ligadas ao tema.

Em março e abril de 2011 o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registra um aumento assombroso no índice de desmatamento na Amazônia – 473% em comparação ao mesmo período de 2010. Até agora o governo não tem uma explicação para o ocorrido. Algumas fontes opinam de que a expectativa de uma provável mudança do Código Florestal, anistiando a derrubada de floresta feita às vésperas da aprovação da nova lei, poderia estar causando este repentino crescimento na destruição.
Em todo caso, a ordem é combater o desflorestamento com a maior energia possível. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, já montou um gabinete de crise para conter o desmatamento. A preocupação no governo é grande, pois o fato pode comprometer metas de redução de desmatamento firmadas pelo Brasil em fóruns internacionais. No futuro, tal fato poderá nos trazer diversos tipos de sanções; políticas e comerciais.
(imagens: esculturas de Henry Moore)

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