"Se todo conhecimento é inevitavelmente uma questão de construção conceitual e de interpretação especulativa, então, ao que parece, o "acesso especial" à "natureza essencial" da mente, buscado pelos fenomenólogos, não passa de um sonho, e os métodos-padrão da ciência empírica constituem a única esperança que a mente tem de chegar a compreender a si mesma." Paul M. Churchland - Matéria e consciência
Há pelo menos vinte anos
escutamos falar cada vez mais sobre meio ambiente. A proteção do meio ambiente,
o aumento da poluição, a exaustão dos recursos naturais, o uso dos recursos
hídricos, a conservação das florestas, o aquecimento global, a gestão dos
resíduos urbanos. São todos temas que se incluem na questão ambiental, tão
tratada pela mídia e cada vez mais importante nas decisões políticas e econômicas
de nações e empresas, além de afetar diretamente a vida do cidadão comum.
Mas o que é o meio ambiente,
do qual todos falam? São as florestas e os desertos, a atmosfera e os oceanos;
são os rios que cortam as cidades e as lavouras, os animais selvagens e
domésticos; é a área verde do nosso prédio e o canteiro central da avenida?
Parece que é tudo isso e muito mais, incluindo todas as atividades que de
alguma maneira causam efeito sobre este ambiente em que habita a nossa
civilização. Aí podemos incluir a agricultura, a criação de gado e a pesca em
alto mar; a produção de tudo o que consumimos; desde a extração das matérias
primas até o transporte à loja ou nossa casa.
A coisa vai tão longe que até o
nosso lixo, o combustível e a fumaça dos nossos carros, a descarga de todos os
banheiros e a água de chuveiros faz parte do meio ambiente. Incluso o nosso
corpo, os alimentos que ingerimos os milhares de tipos de bactérias que vivem
em nosso intestino, tudo isto faz parte do meio ambiente. Meio ambiente é tudo.
Em uma linguagem religiosa podemos dizer que meio ambiente é tudo aquilo que
Deus colocou em existência nos primeiros seis dias da Criação.
No entanto, meio ambiente é
tudo isso e muito mais. Não são somente as coisas que existem na natureza, mas
principalmente a relação entre elas. Sim, porque o mundo natural não é estático;
todas as coisas exercem influência umas sobre as outras. O Sol evapora a água
dos oceanos, que cai na forma de chuva e é absorvida pelo solo, que molhado
libera os alimentos para as raízes das plantas, que para crescer incorporam
CO², que causa o aquecimento da atmosfera, que aquecida causa os fenômenos
climáticos, que, que, que... Uma complexa teia de causas e efeitos classificada
pelos cientistas como sistemas complexos - um conjunto de coisas e relações complicadas
e difíceis de serem estudadas.
Mas não é somente a geleira
do Ártico que se derrete com o aquecimento da atmosfera, a floresta amazônica
que é dizimada pela agricultura e pecuária ou os tubarões que são mortos
indiscriminadamente. Nossa civilização planetária desenvolveu-se tanto tecnologicamente
e exerce cada vez mais pressão sobre a natureza, utilizando-se de seus
recursos, que é impossível que alguma atividade humana não cause certo impacto
sobre o ambiente, seja localmente ou globalmente. Isto é ainda mais verdade há
pelo menos 200 anos, quando o processo de industrialização e urbanização que
teve início na Europa espalhou-se gradualmente por todo o mundo.
Paradoxalmente, apesar de
tecnologicamente avançados como nunca o fomos, nós humanos dependemos cada vez
mais da natureza. Criamos as ferramentas, a agricultura, e as leis; inventamos
histórias para nós mesmos na religião, literatura, filosofia, e outras
ciências. Mas dependemos cada vez mais dos recursos naturais - energia e
matéria - para continuar mantendo a nossa própria natureza, elaborada ao longo
dos últimos milhares de anos.
(Imagens: fotografias de Marcel Gautherot)
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