(publicado originalmente na página da Academia Peruibense de Letras no Facebook)
Euclides da Cunha
(1866-1909) foi escritor, jornalista e militar, tendo-se formado bacharel em
matemática e ciências físicas e naturais. Foi influenciado pela filosofia
positivista de Augusto Comte, que na época tinha forte influência entre os
militares. Também defendeu veementemente a ideia republicana, tendo participado
ativamente na campanha escrevendo artigos no jornal Província de São Paulo.
Em 1897, como jornalista do
jornal A Província de São Paulo (mais tarde O Estado de São Paulo) Euclides fez
a cobertura da Guerra de Canudos, conflito religioso no sertão da Bahia,
liderado pelo taumaturgo Antonio Conselheiro. A partir dessas anotações
Euclides escreveu a obra "Os Sertões", notável obra pré-modernista,
que reunia conhecimentos de história, geografia, geologia, botânica,
sociologia, entre outras, e apontava o descaso com que era tratado a população
do interior. O sucesso do livro valeu-lhe vaga na Academia Brasileira de Letras
em 1903.
Em 1904 foi designado a
acompanhar a comissão mista brasileiro-peruana, com o objetivo de estabelecer a
demarcação entre o Brasil e o Peru. Durante esta viagem Euclides escreveu
"À margem da história", relatando as condições de exploração dos
seringueiros da Amazônia. Ainda durante esta expedição Euclides escreveu
"Judas-Ahsverus", considerado um de seus textos mais filosóficos e
poéticos. Euclides morreu tragicamente no bairro carioca de Piedade, em um tiroteio
com o amante de sua esposa, em 1909. O evento foi chamado de Tragédia da
Piedade.
Autor de obras seminais como
"Os Sertões", "Contrastes e confrontos" e "À margem da
história", Euclides da Cunha também escreveu centenas de artigos para
revistas e jornais, tratando de política, história, assuntos técnicos de
engenharia, relatos de expedições, botânica, climatologia, saúde pública, relações
internacionais, educação e crônicas diversas. Conhecedor de diversas línguas,
Euclides da Cunha era um polímata.
Selecionamos o trecho abaixo de sua obra
"À margem da História" (Editora Martin Claret, São Paulo, 2006,
página 49):
Quando grandes secas
de 1879-1880, 1889-1890, 1900-1901 flameiavam sobre os sertões adustos, e as
cidades do litoral se enchiam em poucas semanas de uma população adventícia de
famintos assombrosos, devorados das febres e das bexigas - a preocupação
exclusiva dos poderes públicos consistia no libertá-las quanto antes daquelas
invasões de bárbaros moribundos que infestavam o Brasil. Abarrotavam-se, às
carreiras, os vapores, com aqueles fardos agitantes consignados à morte.
Mandavam-nos para a Amazônia - vastíssima, despovoada, quase ignota - o que
equivalia a expatriá-los dentro da própria pátria. A multidão martirizada,
perdidos todos os direitos, rotos os laços de família, que se fracionava no
tumulto dos embarques acelerados, partia para aquelas bandas levando uma carta
de prego para o desconhecido; e ia, com os seus famintos, os seus febrentos e
os seus variolosos, em condições de malignar e corromper as localidades mais
salubres do mundo. Mas feita a tarefa expurgatória, não se curava mais dela.
Cessava a intervenção governamental. Nunca, até aos nossos dias, a acompanhou
um só agente oficial ou um médico. Os banidos levavam a missão dolorosíssima e
única de desaparecerem.
(Imagem: fotografia de Euclides da Cunha)
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