Euclides da Cunha

sábado, 30 de dezembro de 2017
(publicado originalmente na página da Academia Peruibense de Letras no Facebook)

Euclides da Cunha (1866-1909) foi escritor, jornalista e militar, tendo-se formado bacharel em matemática e ciências físicas e naturais. Foi influenciado pela filosofia positivista de Augusto Comte, que na época tinha forte influência entre os militares. Também defendeu veementemente a ideia republicana, tendo participado ativamente na campanha escrevendo artigos no jornal Província de São Paulo.

Em 1897, como jornalista do jornal A Província de São Paulo (mais tarde O Estado de São Paulo) Euclides fez a cobertura da Guerra de Canudos, conflito religioso no sertão da Bahia, liderado pelo taumaturgo Antonio Conselheiro. A partir dessas anotações Euclides escreveu a obra "Os Sertões", notável obra pré-modernista, que reunia conhecimentos de história, geografia, geologia, botânica, sociologia, entre outras, e apontava o descaso com que era tratado a população do interior. O sucesso do livro valeu-lhe vaga na Academia Brasileira de Letras em 1903.

Em 1904 foi designado a acompanhar a comissão mista brasileiro-peruana, com o objetivo de estabelecer a demarcação entre o Brasil e o Peru. Durante esta viagem Euclides escreveu "À margem da história", relatando as condições de exploração dos seringueiros da Amazônia. Ainda durante esta expedição Euclides escreveu "Judas-Ahsverus", considerado um de seus textos mais filosóficos e poéticos. Euclides morreu tragicamente no bairro carioca de Piedade, em um tiroteio com o amante de sua esposa, em 1909. O evento foi chamado de Tragédia da Piedade.

Autor de obras seminais como "Os Sertões", "Contrastes e confrontos" e "À margem da história", Euclides da Cunha também escreveu centenas de artigos para revistas e jornais, tratando de política, história, assuntos técnicos de engenharia, relatos de expedições, botânica, climatologia, saúde pública, relações internacionais, educação e crônicas diversas. Conhecedor de diversas línguas, Euclides da Cunha era um polímata. 

Selecionamos o trecho abaixo de sua obra "À margem da História" (Editora Martin Claret, São Paulo, 2006, página 49):

Quando grandes secas de 1879-1880, 1889-1890, 1900-1901 flameiavam sobre os sertões adustos, e as cidades do litoral se enchiam em poucas semanas de uma população adventícia de famintos assombrosos, devorados das febres e das bexigas - a preocupação exclusiva dos poderes públicos consistia no libertá-las quanto antes daquelas invasões de bárbaros moribundos que infestavam o Brasil. Abarrotavam-se, às carreiras, os vapores, com aqueles fardos agitantes consignados à morte. Mandavam-nos para a Amazônia - vastíssima, despovoada, quase ignota - o que equivalia a expatriá-los dentro da própria pátria. A multidão martirizada, perdidos todos os direitos, rotos os laços de família, que se fracionava no tumulto dos embarques acelerados, partia para aquelas bandas levando uma carta de prego para o desconhecido; e ia, com os seus famintos, os seus febrentos e os seus variolosos, em condições de malignar e corromper as localidades mais salubres do mundo. Mas feita a tarefa expurgatória, não se curava mais dela. Cessava a intervenção governamental. Nunca, até aos nossos dias, a acompanhou um só agente oficial ou um médico. Os banidos levavam a missão dolorosíssima e única de desaparecerem. 

(Imagem: fotografia de Euclides da Cunha)

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