(publicado originalmente no site www.ricardorose.com.br)
O ano de 2017 termina com
algumas perspectivas de recuperação. A economia dá pequenos sinais de vida, a
inflação está abaixo da meta e os juros caíram para 7% - índice ainda assim muito
alto, comparado às economias estáveis. O desemprego caiu cerca de 1,0 % entre
junho e novembro, por causa das contratações de final de ano e da
flexibilização criada pela mudança na lei trabalhista. Mesmo assim, a
expectativa era de que a alteração da CLT tivesse um impacto bem maior no
número de novas contratações. O crescimento do PIB em 2017 deve ficar em torno
de 0,7%; pouco acima das previsões, e ainda bastante baixo para provocar uma
recuperação perceptível.
Na política o STF continua
interferindo na investigação da Lava Jato, relaxando a prisão de culpados,
mesmo daqueles já julgados em segunda instância. Aqui e ali, já surgem vozes
dizendo que a operação está desgastada e que encaram a sequência das
investigações com ceticismo. Apesar do grande número de inquéritos e de
investigados, além das buscas e apreensões e quebras de sigilo, a Lava Jato
parece estar entrando em um processo de derretimento. Uma nova descoberta
bombástica ou a prisão definitiva de alguns dos implicados, poderia dar um novo
alento à investigação.
No Congresso o governo
continua sua corrida contra o tempo, na tentativa de aprovar a reforma da
Previdência ainda neste ano. De uma maneira geral já começam os preparativos
para o posicionamento dos candidatos para a corrida presidencial de 2018. Nomes
de eventuais concorrentes, os mais estranhos, surgem e desaparecem ao longo das
semanas. Como a disputa ainda não começou, todos os eventuais aspirantes ao
cargo ainda se encontram na fase das bravatas e das respostas evasivas. A esta
altura da competição, todos se apresentam exatamente como os imaginam seus
potenciais eleitores, em cada segmento social.
Com verbas reduzidas
praticamente pela metade em 2017, o ministério do Meio Ambiente, segundo
declarações do ministro Sarney Filho, conseguiu alcançar uma série de
objetivos. Dentre estes se destaca a redução do desmatamento em 16% durante o
período de agosto de 2016 e julho de 2017 e a participação de uma grande
delegação na Conferência do Clima, a COP 23, realizada em Bonn, na Alemanha.
Por falar nisso, foi durante esta conferência que esta mesma delegação
brasileira recebeu o prêmio "Fóssil do Dia". Esta premiação ao
contrário, é oferecida a países que atrapalham o preparo das negociações sobre
o clima, ou que se afastam do cumprimento das metas para conter o aquecimento
global. Em 2012, por ocasião da aprovação do atual Código Florestal, o Brasil
já havia sido agraciado com esta premiação. Neste ano, o motivo foi a Medida
Provisória (MP) 795/2017, que prevê a concessão de cerca de R$ 1 trilhão (R$
1.000.000.000.000,00) em incentivos para a exploração do pré-sal por empresas
petroleiras nacionais e estrangeiras, ao longo de 25 anos. Enquanto outros
países se esforçam para reduzir cada vez mais sua dependência do petróleo,
priorizando combustíveis renováveis e tecnologias mais eficientes, o governo
brasileiro se lambuza cada vez mais com o poluente combustível.
Paradoxalmente, a geração de
energia eólica cresceu 25% em 2017. No dia 10 de setembro, a energia do vento
chegou a abastecer 71% da região Nordeste, que continua sofrendo com o baixo
nível dos reservatórios das hidrelétricas. No entanto, apesar do interesse dos
investidores internacionais no mercado brasileiro, o governo não está
convocando novos leilões de energia por falta de demanda de energia, além de
pendências burocráticas e legais. A crise e a falta de financiamento fizeram
com que vários projetos de energia eólica fossem abandonados.
Na área do saneamento,
praticamente nada de novo. Ao longo dos últimos três anos a taxa de captação de
efluentes, por exemplo, cresceu apenas 1% ao ano, o que é muito pouco para um
país onde apenas 50,3% da população têm acesso a coleta de esgoto (o percentual
do esgoto tratado é menor ainda). Com relação ao abastecimento de água, 83,3%
da população têm acesso à água potável. Estes números refletem uma realidade
nacional, na qual apenas 30% dos municípios prepararam seu Plano de Saneamento
Básico; estudo que será imprescindível para obterem acesso aos recursos
federais para obras de saneamento a partir de 2018. Um estudo da Confederação
Nacional da Indústria (CNI) apontou que na velocidade atual dos investimentos,
o Brasil apenas conseguirá universalizar o atendimento de água em 2043 e de
esgoto em 2054.
Além de não ser um país para
amadores, como dizia o compositor Tom Jobim, o Brasil, dado seu ritmo do
desenvolvimento, é um país para nossos bisnetos. Boas festas e que venha 2018!
(Imagem: gravura de Emílio Goeldi)
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