Newsletter dezembro 2017 e janeiro/fevereiro 2018

sábado, 9 de dezembro de 2017

(publicado originalmente no site www.ricardorose.com.br)


O ano de 2017 termina com algumas perspectivas de recuperação. A economia dá pequenos sinais de vida, a inflação está abaixo da meta e os juros caíram para 7% - índice ainda assim muito alto, comparado às economias estáveis. O desemprego caiu cerca de 1,0 % entre junho e novembro, por causa das contratações de final de ano e da flexibilização criada pela mudança na lei trabalhista. Mesmo assim, a expectativa era de que a alteração da CLT tivesse um impacto bem maior no número de novas contratações. O crescimento do PIB em 2017 deve ficar em torno de 0,7%; pouco acima das previsões, e ainda bastante baixo para provocar uma recuperação perceptível.

Na política o STF continua interferindo na investigação da Lava Jato, relaxando a prisão de culpados, mesmo daqueles já julgados em segunda instância. Aqui e ali, já surgem vozes dizendo que a operação está desgastada e que encaram a sequência das investigações com ceticismo. Apesar do grande número de inquéritos e de investigados, além das buscas e apreensões e quebras de sigilo, a Lava Jato parece estar entrando em um processo de derretimento. Uma nova descoberta bombástica ou a prisão definitiva de alguns dos implicados, poderia dar um novo alento à investigação.

No Congresso o governo continua sua corrida contra o tempo, na tentativa de aprovar a reforma da Previdência ainda neste ano. De uma maneira geral já começam os preparativos para o posicionamento dos candidatos para a corrida presidencial de 2018. Nomes de eventuais concorrentes, os mais estranhos, surgem e desaparecem ao longo das semanas. Como a disputa ainda não começou, todos os eventuais aspirantes ao cargo ainda se encontram na fase das bravatas e das respostas evasivas. A esta altura da competição, todos se apresentam exatamente como os imaginam seus potenciais eleitores, em cada segmento social.

Com verbas reduzidas praticamente pela metade em 2017, o ministério do Meio Ambiente, segundo declarações do ministro Sarney Filho, conseguiu alcançar uma série de objetivos. Dentre estes se destaca a redução do desmatamento em 16% durante o período de agosto de 2016 e julho de 2017 e a participação de uma grande delegação na Conferência do Clima, a COP 23, realizada em Bonn, na Alemanha. Por falar nisso, foi durante esta conferência que esta mesma delegação brasileira recebeu o prêmio "Fóssil do Dia". Esta premiação ao contrário, é oferecida a países que atrapalham o preparo das negociações sobre o clima, ou que se afastam do cumprimento das metas para conter o aquecimento global. Em 2012, por ocasião da aprovação do atual Código Florestal, o Brasil já havia sido agraciado com esta premiação. Neste ano, o motivo foi a Medida Provisória (MP) 795/2017, que prevê a concessão de cerca de R$ 1 trilhão (R$ 1.000.000.000.000,00) em incentivos para a exploração do pré-sal por empresas petroleiras nacionais e estrangeiras, ao longo de 25 anos. Enquanto outros países se esforçam para reduzir cada vez mais sua dependência do petróleo, priorizando combustíveis renováveis e tecnologias mais eficientes, o governo brasileiro se lambuza cada vez mais com o poluente combustível.

Paradoxalmente, a geração de energia eólica cresceu 25% em 2017. No dia 10 de setembro, a energia do vento chegou a abastecer 71% da região Nordeste, que continua sofrendo com o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. No entanto, apesar do interesse dos investidores internacionais no mercado brasileiro, o governo não está convocando novos leilões de energia por falta de demanda de energia, além de pendências burocráticas e legais. A crise e a falta de financiamento fizeram com que vários projetos de energia eólica fossem abandonados.

Na área do saneamento, praticamente nada de novo. Ao longo dos últimos três anos a taxa de captação de efluentes, por exemplo, cresceu apenas 1% ao ano, o que é muito pouco para um país onde apenas 50,3% da população têm acesso a coleta de esgoto (o percentual do esgoto tratado é menor ainda). Com relação ao abastecimento de água, 83,3% da população têm acesso à água potável. Estes números refletem uma realidade nacional, na qual apenas 30% dos municípios prepararam seu Plano de Saneamento Básico; estudo que será imprescindível para obterem acesso aos recursos federais para obras de saneamento a partir de 2018. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que na velocidade atual dos investimentos, o Brasil apenas conseguirá universalizar o atendimento de água em 2043 e de esgoto em 2054.

Além de não ser um país para amadores, como dizia o compositor Tom Jobim, o Brasil, dado seu ritmo do desenvolvimento, é um país para nossos bisnetos. Boas festas e que venha 2018!
(Imagem: gravura de Emílio Goeldi)

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