Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 29 de agosto de 2018



          Perante o ente    


A “atenção” perante todas as coisas, perante o funcionamento do universo, das leis do universo, de tudo.

Já que não se pode, necessariamente, trilhar o caminho do “fé” do cristianismo, o caminho do “conhecimento” do budismo, sem falar nas outras religiões e nas filosofias humanistas.

A consequência do criticismo é uma conclusão “não conclusiva”. Não há pontos fixos.

Será que a “não-ação” é a “aceitação” da realidade? Já que não podemos alterar de modo institucional, é preciso ter uma atitude de atenção perante o ente.

Pensando sobre a ordem do universo, a sua grandiosidade e a praticamente “não possibilidade de interferência” na realidade. Mesmo que não possamos entender o ente, e, exatamente por isso, devemos manter uma atitude de “atenção” perante o ente.

Não será preciso, talvez, abdicar da intenção de querer “dominar”, “catalogar” e “compreender” o ente, e, simplesmente, permanecer em uma atitude de “espera” da manifestação do “ente” - ou de sua absoluta falta de manifestação?

Por que deve haver sempre uma diretriz, uma “intenção em relação a..”? Por que não se pode encarar o “ente” com nenhum “interesse”? Sem “objetivos finais” e sem apegos ou muletas na realidade intelectual-material? Em outras palavras, por que é preciso sempre encontrar um “sentido”, um “objetivo” no ente, no universo?

Sem necessidade de um “Deus” no sentido judaico-cristão. “Atenção". Não julgar ou se apegar ou rejeitar. Apenas observar humildemente, e com respeito, todo o processo do ente. Não há necessariamente uma “razão”, um “por que” a procurar. Simplesmente observar o fluxo. 

É mais ou menos como abrir mão de todas as pretensões, de todos os esforços e preocupações, que no final das contas em nada mudarão o desenrolar dos fatos e dos fluxos. 

Não se trata de um fatalismo, mas de um “não nadar contra a correnteza desnecessariamente”. Devem ir-se as preocupações. Afinal, somos pequenas peças, pequenos lampejos de consciência, em um imenso fluxo, muito maior do que nós. 

As imensidões do espaço sideral, a complexidade da matéria/energia, a multiplicidade de opiniões, a incomensurabilidade do tempo, a fragilidade da vida humana, a pequenez individual perante a um imenso processo inexorável. Para que a fútil pretensão humana em “dirigir” os acontecimentos?

Porém sem mágoa e ressentimento. Mas, a observação de um processo, no qual apenas podemos “ir junto” sem esperar que este processo nos conduza a algo ou condição.

(imagem: gravura representando G. C. Lichtenberg)  

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