Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

sábado, 14 de março de 2020


"Quando leres a biografia de um grande criminoso, antes de condená-lo, agradece ao céu bondoso por não ter-te colocado, com tua cara honesta, no começo de uma série de circunstâncias semelhantes."

(G. C. Lichtenberg)



Redes sociais e fake news


Parte dos grupos das redes sociais se transformou em verdadeiras reservas, nas quais só circulam informações que confirmam ou alimentam as opiniões de seus membros. Muitos destes agrupamentos transformaram-se em bolhas, isoladas e impermeáveis a outro tipo de informação, que não aquela que confirme a visão de seus participantes. Quando falamos de comunidades de discussão fechadas, voltadas exclusivamente a temas filosóficos ou religiosos, por exemplo, é esperado que seja assim. O que interessa ao grupo é aquilo que seus membros comungam e acreditam. Quando, porém, se trata de uma coletividade comum, o quadro é diferente.

Desde antes das eleições de 2018, observa-se grupos que começaram a trocar informações inverídicas, em alguns casos as mais grosseiras mentiras, muitas vezes desconhecendo serem fake news recebidas por algum membro. Com o tempo, grande parte dos participantes destes grupos de Whatsap, passaram a se informar sobre tudo o que acontecia no país – política, economia, ações do governo – quase que exclusivamente através do conteúdo destas mensagens. Muita desta informação, no entanto, era material de origem desconhecida, provavelmente preparada e divulgada por centrais noticiosas, com clara intenção de desinformar e influenciar este público. A Justiça tem uma investigação em curso, procurando identificar agentes da disseminação destas falsas notícias. Já existem fortes indícios de que há empresários financiando estes "disparos" de fake news

O que realmente é preocupante nesta história é o fato de que paralelamente à ação destes geradores de fake news, hajam outros agentes tentando desacreditar mídias oficiais de notícias, que têm compromisso de noticiar fatos verídicos. Chegou-se ao ponto de sugerir que as pessoas não lessem mais jornais e que deixassem de assistir a determinados canais de TV. Lembramos que jornais, rádios, canais de TV, têm, até por dever constitucional, a obrigação de apresentar fatos verídicos; aquilo que efetivamente ocorreu. Nenhum canal de TV ou jornal pode inventar ou falsear os fatos. Isto por vezes ocorreu no passado, mas atualmente não é mais possível, já que o público pode checar a informação em outras fontes – outros jornais ou canais de TV, a internet e até a mídia internacional. O que por vezes pode mudar de uma mídia para outra, é o enfoque dado ao fato ou a omissão dele. Por competir por público com outras fontes de informação como as TVs por assinatura, os youtubers, os blogues e as redes sociais – além dos jornais cada vez menos lidos –, um canal de TV ou jornal não conseguem mais falsear fatos, com a intenção de derrubar um governo.  

O que ocorre, todavia, é que muitos integrantes destes grupos nas redes sociais, bombardeados por notícias falsas, não têm o hábito de consultar outras fontes. Muitas destas pessoas não acompanham os noticiários e muito menos leem a mídia impressa – isto sem falar de revistas especializadas ou livros. Formam a sua visão do que ocorre no país e no mundo baseados em notícias irreais, por vezes completamente absurdas, com as quais se deparam no Facebook, Twitter  ou Whatsap.

Que tipo de cidadão está assim se formando nestas condições? Um cidadão cujas opiniões estão baseadas em uma visão distorcida dos fatos, provavelmente por interesse de pessoas ou grupos que tiram vantagem desta situação. Sem o mais claro conhecimento dos fatos – ele nunca é total – não é possível que indivíduos tomem as decisões corretas sobre suas vidas. Estarão sempre pensando baseados em informações inverídicas e reagindo de modo a defender os interesses de outros.    

(Imagem: G. C. Lichtenberg)

2 comments:

Unknown disse...

Retrato de muitos aqui...

Juliana Sphynx disse...

Pior que fake news tem dias que está mais comum que ler notícias verdadeiras

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