"Quando leres a biografia de um grande criminoso, antes de condená-lo, agradece ao céu bondoso por não ter-te colocado, com tua cara honesta, no começo de uma série de circunstâncias semelhantes."
(G. C. Lichtenberg)
Redes sociais e fake news
Parte dos grupos das redes sociais se transformou em verdadeiras reservas, nas quais só circulam informações que confirmam ou alimentam as opiniões de seus membros. Muitos destes agrupamentos transformaram-se em bolhas, isoladas e impermeáveis a outro tipo de informação, que não aquela que confirme a visão de seus participantes. Quando falamos de comunidades de discussão fechadas, voltadas exclusivamente a temas filosóficos ou religiosos, por exemplo, é esperado que seja assim. O que interessa ao grupo é aquilo que seus membros comungam e acreditam. Quando, porém, se trata de uma coletividade comum, o quadro é diferente.
Desde
antes das eleições de 2018, observa-se grupos que começaram a trocar informações
inverídicas, em alguns casos as mais grosseiras mentiras, muitas vezes
desconhecendo serem fake news
recebidas por algum membro. Com o tempo, grande parte dos participantes destes
grupos de Whatsap, passaram a se informar sobre tudo o que acontecia no país –
política, economia, ações do governo – quase que exclusivamente através do
conteúdo destas mensagens. Muita desta informação, no entanto, era material de
origem desconhecida, provavelmente preparada e divulgada por centrais noticiosas,
com clara intenção de desinformar e influenciar este público. A Justiça tem uma
investigação em curso, procurando identificar agentes da disseminação destas
falsas notícias. Já existem fortes indícios de que há empresários financiando estes "disparos" de fake news.
O que
realmente é preocupante nesta história é o fato de que paralelamente à ação
destes geradores de fake news, hajam outros
agentes tentando desacreditar mídias oficiais de notícias, que têm compromisso
de noticiar fatos verídicos. Chegou-se ao ponto de sugerir que as pessoas não
lessem mais jornais e que deixassem de assistir a determinados canais de TV.
Lembramos que jornais, rádios, canais de TV, têm, até por dever constitucional,
a obrigação de apresentar fatos verídicos; aquilo que efetivamente ocorreu.
Nenhum canal de TV ou jornal pode inventar ou falsear os fatos. Isto por vezes ocorreu
no passado, mas atualmente não é mais possível, já que o público pode checar a
informação em outras fontes – outros jornais ou canais de TV, a internet e até
a mídia internacional. O que por vezes pode mudar de uma mídia para outra, é o
enfoque dado ao fato ou a omissão dele. Por competir por público com outras
fontes de informação como as TVs por assinatura, os youtubers, os blogues e as redes sociais – além dos jornais cada
vez menos lidos –, um canal de TV ou jornal não conseguem mais falsear fatos,
com a intenção de derrubar um governo.
O
que ocorre, todavia, é que muitos integrantes destes grupos nas redes sociais, bombardeados
por notícias falsas, não têm o hábito de consultar outras fontes. Muitas destas
pessoas não acompanham os noticiários e muito menos leem a mídia impressa –
isto sem falar de revistas especializadas ou livros. Formam a sua visão do que
ocorre no país e no mundo baseados em notícias irreais, por vezes completamente
absurdas, com as quais se deparam no Facebook,
Twitter
ou Whatsap.
Que
tipo de cidadão está assim se formando nestas condições? Um cidadão cujas
opiniões estão baseadas em uma visão distorcida dos fatos, provavelmente por
interesse de pessoas ou grupos que tiram vantagem desta situação. Sem o mais
claro conhecimento dos fatos – ele nunca é total – não é possível que
indivíduos tomem as decisões corretas sobre suas vidas. Estarão sempre pensando
baseados em informações inverídicas e reagindo de modo a defender os interesses
de outros.
(Imagem: G. C. Lichtenberg)
2 comments:
Retrato de muitos aqui...
Pior que fake news tem dias que está mais comum que ler notícias verdadeiras
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