Leituras diárias

segunda-feira, 29 de maio de 2023

 



“Em face dessa contradição fundamental, Machado de Assis se obstina e desespera de dar qualquer explicação. Nada poderá mais iludir essa sua ciência amarga, porque nada poderá conciliar a condição absurda do homem. O animal não sabe que morre, e o homem é o único que tem esse privilégio triste. A condição do homem parece-lhe assim o resultado de uma maquinação cruel, como se ele fosse o joguete de forças superiores e incompreensíveis. Em relação a essas forças, o homem fica na mesma relação de dependência e ignorância que a borboleta preta de um dos capítulos do livro, debatendo-se nas mãos da pessoa que a aprisiona sem conhecer as suas intenções. Somos impotentes para alcançar a explicação de tudo isso, e mais, parece que a razão não é só insuficiente, mas é incompatível com a realidade, na qual só existe absurdo e contradição. Definido como um racionalista, Machado entretanto prova os limites e a inanidade da razão em face dos problemas últimos. A sandice, dirá ele continuando as suas alegorias, é que investiga essas coisas, ‘o mistério da vida e da morte’.” (Barreto Filho, pág. 116)

 

Barreto Filho, Introdução a Machado de Assis & outros ensaios

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