Florestas plantadas, opção ao desmatamento

sábado, 4 de novembro de 2023

"A morte fala-nos numa voz profunda para não dizer nada."   -   Paul Valéry   -  Pensamentos Maus e Outros         


A melhor forma de proteger as florestas primárias e sua biodiversidade, garantindo ao mesmo tempo suprimento de madeira para suas mais diversas aplicações industriais, é a plantação de florestas. A silvicultura, como é conhecida a atividade, é praticada desde a Idade Média em nações como a Inglaterra, França e Alemanha. Atualmente, o plantio de árvores de certas espécies, visando a utilização da madeira para diversos fins, tornou-se atividade de ponta do setor agrícola de países de grande extensão territorial.

Trata-se de uma atividade econômica relativamente nova no Brasil, surgida nos anos 1960, associada à época a incentivos fiscais mal aplicados e outras irregularidades, que afetaram parte do setor em sua fase inicial de desenvolvimento. Nos últimos 60 anos a silvicultura nacional evoluiu, adquirindo importância econômica de destaque – que o diga a indústria de papel e celulose, cuja matéria prima provém 100% de florestas plantadas. No ano de 2022 o Brasil passou a ocupar o primeiro lugar do mundo na exportação de celulose, tendo vendido ao exterior 19,1 milhões de toneladas. 

Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (iba.org), associação que representa as empresas do setor da silvicultura e atividades relacionadas, o país possui 9 milhões de hectares plantados de eucalipto, pinus e demais espécies, para a produção de painéis de madeira, pisos laminados, celulose, papel, produção energética e biomassa. Segundo a associação “as árvores plantadas são responsáveis por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País − os demais 9% vêm de florestas naturais legalmente manejadas”.

O Brasil possui cerca de 60% de seu território constituído por florestas, com área aproximada de 498 milhões de hectares (Mha). 98% desta área florestal são constituídos por bosques naturais e apenas 2% (cerca de 10 Mha) são formados por florestas plantadas. O país está em sétimo lugar no ranking mundial, liderado pela China (77 Mha) e os Estado Unidos (25 Mha). A  área de silvicultura cresceu cinco vezes entre 1985 e 2020, passando de 1,4 Mha para 7,5 milhão Mha, segundo o MapBiomas (https://mapbiomas-br-site.s3.amazonaws.com/Fact-Sheet_1.pdf). A área de floresta plantada ocupa 3,5% do bioma da Mata Atlântica; 1,43% do bioma do Cerrado; e 2,79% do bioma dos Pampas. Os estados que mais detêm áreas de floresta plantada são Minas Gerais (24,4% de toda áreas silvícola do país); Paraná (14%) e Santa Catarina (13,2%). 

Diferentemente do que vinha ocorrendo no país até os anos 1960, nas últimas décadas não é mais possível abastecer o mercado consumidor com madeira e carvão retirados ilegalmente da Mata Atlântica, do Cerrado e, mais recentemente, da floresta amazônica. Não que o fato não mais ocorra, mas a ação de carvoarias e de madeireiras ilegais é periodicamente autuada pelas autoridades ambientais e denunciada pela imprensa – especialmente agora, em tempos de mudanças climáticas. Por outro lado, o grande consumo de madeira, aliada à conscientização crescente da sociedade, deve demandar o aumento das áreas de reflorestamento com espécies comercias. 

A silvicultura, praticada de modo científico e dentro dos parâmetros legais, é a melhor alternativa para garantir o fornecimento de madeira, entre outras, para a indústria de papel e celulose, construção civil e indústria moveleira, assim como carvão para as siderúrgicas e para o lazer. No Brasil, o setor de reflorestamento movimentou R$ 97,4 bilhões em 2019, gerando 3,7 milhões de empregos diretos e indiretos. O crescimento do setor tem propiciado, entre outros benefícios, a manutenção de estradas vicinais em várias regiões do país e a criação de novas indústrias de beneficiamento da madeira. 

As maiores áreas de reflorestamento – realizado principalmente com as espécies pinus e eucalipto – localizam-se nas regiões Sul e Sudeste. Destas, cerca de 7 Mha de florestas plantada são certificados na modalidade de manejo florestal e pelos sistemas CERFLOR (Programa Brasileiro de Certificação Florestal) ou FSC (Forest Stewardship Council); entidades com padrões internacionais de controle da qualidade do reflorestamento. 

A sociedade brasileira precisa estar consciente de que o consumo de madeira só tende a aumentar, como ocorre em todas as economias em crescimento. Neste quadro, o país só tem três opções: a) desmatamos o que nos resta de floresta primária, destruindo espécies e provocando mais alterações climáticas; um absurdo que nos tempos atuais seria um crime repudiado internacionalmente; b) importamos madeira, remetendo com isto divisas ao exterior, o que seria atestar a incompetência dos gestores dada a extensão territorial do Brasil; ou c) promovemos cada vez mais o reflorestamento, de maneira controlada e sustentável, contribuindo para a preservação dos recursos naturais.


(Imagens: fotografias de Albert Renger-Patzsch)

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